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Alegria para pensar

GNT leva ao mercado reflexões sobre maneiras de ver o mundo

18.08.17

O que a alegria tem a ver com o mercado? À primeira vista, o tema parece estar desconectado das demandas mais urgentes dos players da indústria de comunicação. Mas para o GNT o assunto tem sua razão de ser, sobretudo porque tem implicações sobre o comportamento das pessoas. E assim transformou o sentimento em estudo, elaborado pela consultoria Inesplorato e intitulado “Prazer, alegria”. O trabalho foi apresentado ao mercado nesta semana em evento na sede da Globosat em São Paulo.

Não é a primeira vez que o canal encomenda uma pesquisa que traz componentes mais humanos do que mercadológicos. Há três anos, o GNT investe em pesquisas que procuram estabelecer reflexões sobre questões que afetam a sociedade. “Não pretendemos ditar regras, e sim fazer com que as pessoas discutam alguns desses assuntos. E, com isso, esperamos ajudar a melhorar o mundo”, afirma Daniela Mignani, diretora do GNT e dos canais Viva e Mais Globosat. O primeiro trabalho do gênero foi “Prezados segredos”, um mergulho sociológico, também feito pela Inesplorato, sobre a maneira como as mulheres lidam com seus segredos. Outro trabalho focou “segredos masculinos” e mais um discutiu a característica colaborativa das mulheres.

“Prazer, alegria” se situa em um cenário que preocupa autoridades médicas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil detém os índices mais altos de depressão na América Latina. A entidade aponta ainda que a doença será o maior mal do planeta até 2030.  Para entender melhor o que vem acontecendo com a população, a Inesplorato recorreu à filosofia e à análise dos fenômenos comportamentais da atualidade. Um conceito de Espinoza indica que alegria é energia para viver ou potência de agir. Em outras palavras, é a força que nos faz levantar. Ela é diminuída por coisas que não dão certo.

Dentro do que se chama de “ciência dos afetos”, a alegria representa a passagem do estado menos potente para o mais potente em função do contato e da interação com o mundo. Mas há um ponto importante que influencia em nosso estado de espírito. É a esperança. Isso pode soar bom, no entanto tem um impacto negativo se a balança da vida estiver pendendo muito mais para a esperança, com a prevalência da ideia do que se pode vir a ter ou ser, em vez de se pensar no que existe no presente. De acordo com o estudo, a esperança é a falsa sensação de alegria. Esta, como “potência de agir”, só se dá pela realização.

Esse pendor da balança para a esperança acontece frequentemente porque hoje vivemos em uma sociedade do desempenho, em que se cobra o resultado. Nos tempos atuais, vende-se entusiasticamente a crença de que o sucesso – ou a felicidade – só depende da gente. O que muitas vezes não é verdade. Entretanto, somos levados a acreditar nessa premissa e a esperança é atingirmos o que desejamos. Se não conseguimos, surge a frustração – afinal, tudo dependia apenas da gente.  Com altos níveis de insatisfação por não obtermos o desempenho esperado, a sociedade hoje atravessa um “bug afetivo”.

De fato, a sensação exacerbada de que temos o poder em nossas mãos vem gerando uma leva de “fracassados” e provocando quadros de baixa autoestima. O estudo se aprofunda em outras discussões filosóficas e volta a Spinoza para indicar uma das maneiras de se encontrar mais alegria na vida: manter-se mais no presente.

Outras recomendações são buscar equilibrar as doses de afeto entre alegria e esperança (ela não deve ser abandonada; apenas ser mantida em níveis razoáveis), desacelerar (não se deveria vender a imagem de que ser multitarefa é benéfico), dizer mais “não” (é importante impor limites), mostrar o lado positivo de se ter os pés no chão e sair do “modo roteirizado” (no qual o acaso não encontra espaço).

Para os produtores de conteúdo e entretenimento, o recado do GNT é não alimentar a hiperatividade em cenários muito caracterizados pela lógica da produtividade.  É preciso valorizar o ato de descansar. Outra orientação é desenvolver narrativas que estimulem a dança, o brincar e o riso – e vale ressaltar que o humor conecta as pessoas com suas falhas e, em situações como essas, os indivíduos saem do modo “sim, eu posso tudo”. No caso de marcas, uma medida é oferecer ao público oportunidades de viver coisas inesperadas.

Daniela Mignani conta que os estudos que o GNT têm feito ajudam o canal a mudar paradigmas internos. Um exemplo é o que aconteceu com o Superbonita. Antes, o programa dava mais dicas e serviços. Agora, o conteúdo aborda a beleza por meio de temas de comportamento. “Nós cometemos erros. Mas estamos sempre em transformação. O GNT pensa muito porque se considera responsável pelas pessoas impactadas pelo seu conteúdo”. O estudo “Prazer, alegria” está disponível para download (clique aqui). Um vídeo condensando parte de suas análises também foi produzido e pode ser visto no site do canal dedicado a estudos. A intenção é oferecer essas reflexões para o mercado e até mesmo organizar apresentações em outros lugares.

 

Por Lena Castellón

Alegria para pensar

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