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Utopia do novo normal

Ampfy lança estudo sobre desafios no mundo pós-Covid

04.06.20

A pandemia de coronavírus já trouxe diversas mudanças sociais, culturais, comportamentais e de consumo, sendo que algumas delas poderão ser mais permanentes.

Neste contexto, inúmeros reports e pesquisas foram lançados, procurando responder questões sobre as transformações futuras. Mas seria possível projetar o novo futuro com base em ações improvisadas do presente?

Com essa questão em mente, a Ampfy buscou produzir análises e diagnósticos que se propõem a separar projeções possíveis da especulação. O resultado é o estudo "Utopia do novo normal: uma conversa sincera sobre os desafios para marcas e negócios em um mundo pós-Covid" (para baixar, clique aqui).

"Estamos vivendo tantas incertezas que a esperança de encontrar um report que vá responder todas as perguntas com uma fórmula mágica é meio que natural. No meio da 'epidemia' de reports, começaram a surgir 'profetas do óbvio' anunciando coisas que são mais do que esperadas, como 'o futuro é digital' - já falamos isso há duas décadas, o cenário atual só está acelerando o movimento", observa Gabriel Borges (GB), chief strategy officer (CSO) da Ampfy.

"Nossa proposta (com o estudo) não é trazer respostas imediatas. A grande contribuição que gostaríamos de oferecer é ajudar as pessoas a fazerem as perguntas certas para encontrar caminhos para vencer os desafios de seus negócios", pondera o executivo.

A agência dividiu as reflexões em três momentos: o primeiro é o que estamos vivendo, chamado de "fica em casa"; o segundo é o "ficando mais aberto", que é o que vamos viver no curto prazo; e, por fim, "o que vai ficar".

Para buscar entender como serão retomadas as atividades por aqui, o estudo observou outros países que já estão flexibilizando a quarentena, em especial, a China.

"O retorno não tem sido fácil. A rotina fora de casa está longe do 'normal'. Apesar de hotéis, restaurantes, shopping estarem abertos, é necessário o uso de máscara, limite de pessoas em cada lugar, manutenção do distanciamento social, entre diversas outras medidas", ressalta Yara Rocha, head de planejamento da Ampfy, que apresentou o estudo, via webinar (assista aqui).

Apesar das dificuldades, já podem ser observados sinais de recuperação econômica na China, com dados que apontam para o crescimento do consumo de carvão e o aumento das transações imobiliárias, por exemplo.

"Obviamente não dá para cravar que o retorno será igual nos outros países do mundo. De qualquer maneira, haverá diferentes curvas de recuperação para cada segmento", comenta Yara.

De maneira geral, o brasileiro deve rever seus gastos com compras no pós-pandemia: 13% pretendem voltar a comprar algo que planejavam somente quando terminar o isolamento no mundo inteiro e 26% nem sabem se irão comprar mais o que pensavam adquirir antes da quarentena.

Segundo apurado, os brasileiros pretendem retomar hábitos sociais e esportivos, com interesse maior em lugares abertos (parques) e em locais que ofereçam maior segurança (com limitação no número de entrada de pessoas, como shoppings, por exemplo).

Mas quais comportamentos adquiridos durante a quarentena que vieram para ficar? O que podemos esperar do consumidor daqui para frente?

Para responder a essas questões, o estudo traz uma análise histórica: grandes crises levam a grandes mudanças atitudinais e perenes.

A pesquisa cita três exemplos: a II Guerra Mundial, que levou os homens para o campo de batalha enquanto as mulheres ficaram sozinhas em casa e tiveram que buscar seu sustento partindo para o mercado de trabalho; o 11 de setembro, que trouxe uma série de novas políticas e regulações na segurança da aviação; e a epidemia de Sars na China em 2002/2003, em que o isolamento social alavancou o e-commerce chinês, tornando-o um dos mais evoluídos do mundo.

O estudo destaca ainda que a crise atual pode ser um "acelerador de futuros": serão implementadas ações e atividades que já estavam nos planos de empresas, que deverão ser antecipados. Soluções digitais vão mudar profundamente os hábitos dos consumidores e haverá novos usuários de comércio eletrônico em diversos segmentos, resultando em um hibridismo entre as duas soluções, virtual e off line.

No entanto, as mudanças não estão relacionadas apenas à aceleração da evolução digital. Como resultado da pandemia, a forma como as pessoas se relacionam umas com as outras, suas percepções e sentimentos, como compram e consomem, como usam a tecnologia, como se deslocam, como estudam e aprendem, tudo isso deve ser transformado também, de acordo com o estudo.

O levantamento organizou essas mudanças em quatro vertentes que devem mudar o comportamento humano: o contato físico (novos canais, restrições de deslocamento), o contexto social (novas regras, novas políticas), as motivações (emoções, expressões de identidade), e as atividades (habilidades e rotina).

A partir dessa adaptação, deverá surgir um novo padrão de comportamento, que trará a dualidade entre opostos, ou seja, tensões estarão convivendo e moldando o comportamento.

Na análise, a Ampfy ressalta cinco tensões que devem permanecer depois da pandemia: a primeira é o isolamento e a conexão (nova relação com a casa, reinvenção de formas de trabalho e, por outro, lado a vontade de estar com pessoas, senso de ajuda, solidariedade e diálogo mais aberto para falar sobre sentimentos e emoções).

A segunda é o físico e o virtual em uma relação de simbiose, com lojas físicas que continuarão procuradas, mas revendo seu papel, oferecendo outros tipos de experiência, curadoria, atendimento. E o virtual, o e-commerce e o delivery se mantendo em alta, até por pequenos players, bem como experiências imersivas digitais e soluções de serviços antes não legalizados (como a telemedicina no Brasil).

A terceira tensão é o pequeno e o grande: já observamos movimentos de apoio aos negócios menores, o consumidor geralmente enxerga as pessoas por trás desses empreendimentos e passa a valorizá-los mais. E as grandes corporações continuam sendo importantes, com o público esperando que elas se posicionem em relação a questões sociais, que sejam rápidas e coerentes e que haja cooperação entre empresas concorrentes. A tendência é que as grandes corporações ajudem as pequenas, fazendo negócios colaborando com a cadeia como um todo (glocal).

A quarta tensão detectada pelo estudo são os novos hábitos e novos vícios adquiridos durante a quarentena e que devem continuar a fazer parte do comportamento do consumidor. Por exemplo, as pessoas passaram a fazer elas mesmas algumas atividades que antes terceirizavam, como cozinhar, a busca maior por exercícios físicos e meditação online, um mais amplo entendimento sobre a importância do não desperdício e mais consciência financeira.

Por outro lado, o isolamento trouxe vícios, como uma relação ainda mais próxima com celular, tendendo a ficar mais tóxica, e o interesse maior por aquilo que oferece prazeres imediatos, observado com o aumento do consumo de álcool, pornografia e apostas durante o isolamento.

A quinta tensão é relacionada à produtividade e ao ócio. Os limites do corpo e da mente estão sendo testados constantemente neste período de quarentena. As pessoas estão cansadas e pressionadas, procuram ser produtivas a cada minuto do dia. Enquanto no local do trabalho os profissionais se permitiam "ficar um pouco à toa", em casa, não. Além disso, a busca por aprimoramento pessoal e profissional deve permanecer no pós-pandemia. E as empresas devem rever soluções nas quais o digital é mais prático mais rápido.

Sobre o ócio (tempo livre), entendeu-se que não é necessário ficar muitas horas em uma reunião para se resolver um problema e a flexibilização dos horários de trabalho poderá gerar uma necessidade de readaptação quando as atividades foram retomadas nos escritórios.

De acordo com a Ampfy, a ideia é que essas reflexões sejam pontos de partida para marcas e negócios, uma vez que poucas empresas já planejaram seus próximos passos - até o momento, as companhias foram muito reativas, por conta das circustâncias.

"Poucas, de fato, começaram a trilhar a retomada e a reimaginar seus negócios. O desafio atual não é tentar prever o futuro, mas é entender o que está acontecendo, o contexto e estar aberto a reagir rápido ao que vier pela frente", salienta Yara.

Clique aqui para fazer o download do estudo completo.

Leia anteriores, sobre pesquisas da Mutato e da F.biz sobre a vida pós-Covid, aqui aqui.

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