arrow_backVoltar

O Espaço é Seu

Como criar conexões emocionais no audiovisual (Chico Canella)

30.07.25

Recentemente, estive me perguntando: como cheguei a esse formato profissional? Como esses caminhos foram se misturando e, principalmente, como fui criando sentido para tudo isso?

Já adianto que ser terapeuta me ajudou a ser fotógrafo e entender o que fazia como fotógrafo me fez querer ser roteirista. Mas vamos por partes.

Tudo começou na psicologia. Desde o início da faculdade, sempre tive interesse pela parte clínica e as relações produzidas nesse espaço. Iniciei minha trajetória na saúde mental, trabalhando com pacientes psicóticos dentro do formato de Residência e Acompanhamento Terapêutico. Nesses formatos, a rua sempre foi muito presente, assim como questões cotidianas. Nesse tempo, aprendi a importância de escutar os pacientes, mas também em produzir sentido junto com eles.

Depois de alguns anos, a fotografia entrou na minha vida de forma intensa e decidi seguir pelo caminho do audiovisual. Lá no início do I Hate Flash, quando fotografamos os maiores festivais do Brasil e do mundo, festas nos mais diversos locais e as manifestações culturais, aprendi que existia uma diferença entre tirar fotos e contar uma história. Em como editamos os eventos, mesmo com imagens estáticas, desde a captação, depois na seleção das imagens, tratamento e em como as destacava no site.

Acabei entrando em posições mais burocráticas dentro da empresa e de coordenação dentro dos trabalhos. Em 2018, voltei a atender. Esse reencontro com a clínica após anos mergulhado no audiovisual me reconectou muito com uma vontade de produzir novamente. Dessa vez, não de forma separada, mas sim aliada. E então pensei no que tudo isso tinha em comum. E, mais uma vez, cheguei nas histórias. Contar histórias. Aí comecei a estudar roteiro.

Nas aulas de roteiro vi materiais muito relacionados a alguns terapeutas, como Jung, e senti uma leve nostalgia dos meus tempos de faculdade. Mas agora com um olhar diferente para cada arquétipo. Recortar a vida de uma pessoa não é só pensar naquele momento que é visto, mas construir retroativamente quem aquela pessoa é. E talvez o mais incrível seja: como deixar isso explícito em pequenas atitudes que personagens têm até o momento do clímax para não parecer algo inesperado ou até como criar uma expectativa na audiência e provocar um evento tão louco, no qual o comportamento do personagem sai completamente do esperado.

A escrita me ajuda - assim como a clínica e a fotografia - a me conectar com o que está acontecendo e não com o que esperamos que aconteça. Estar nesse fio fino que é o presente espremido entre o passado. Esse oceano passado e essa previsão do futuro. Conhecer a si mesmo através de experiências vividas com os outros. Ter um recorte semanal de alguém e ir construindo junto com a pessoa algo importante e transformador. Estou falando de uma sessão de terapia ou de uma série que acompanhamos?

É engraçado chegar ao final desse artigo e ler tudo que escrevi. Como a trama dessa história é complexa e cheia de reviravoltas, mas como no final tudo se abraça (em partes) e dá sentido. Acho que tanto o roteiro, quanto a terapia têm um pouco disso. Mesmo quando a gente vê um filme ruim, ou quando temos um encontro infeliz na vida, saímos com algum tipo de reflexão, que pode se somar às nossas experiências. Seja para nunca mais fazer isso, ou para quem sabe dar mais uma guinada no caminho. Vai que, no próximo artigo, eu conto como fui parar no sul da Itália e acabei virando barista por acidente. Mas essa história fica pra outro café.

Chico Canella, sócio da produtora I Hate Films.

Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu" aqui.

Siga o Clube nas redes sociais: InstagramFacebookXLinkedInTikTok YouTube (TV Clube de Criação).

Clube de Criação 50 Anos

O Espaço é Seu

/