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6x1, burnout, 4x3: a procura pelo equilíbrio no trabalho
Um debate extremamente relevante, “6x1, burnout, 4x3, ócio: a procura pelo equilíbrio” trouxe algumas reflexões importantes na 13ª edição do Festival do Clube de Criação. O jornalista Karan Novas, mediador da mesa, iniciou com uma indagação polêmica: é possível ser feliz no trabalho?
A resposta unânime dos participantes da plenária foi positiva, mas com um importante adendo: o equilíbrio é fundamental. A mesa contou com a presença do historiador Valdir dos Santos, doutor em história social pela USP e professor do Instituto Federal de São Paulo; Tati Nascimento, fundadora da produtora de som Janga; Tatiana Soter, sócia da Mastersoul; e Thaís Requito, criadora do podcast Felicidade dá Trabalho.
Thais compartilhou sua experiência pessoal com burnout em 2014, quando ainda era um termo pouco difundido, tornando-se desde então uma "embaixadora" da causa.
“Fui pioneira na introdução de conversas sobre bem-estar e saúde mental nas empresas e me especializei em mindfulness na Universidade de Oxford. O trabalho deve favorecer o bem-estar das pessoas, não as adoecer.” Além do podcast, ela fundou a Emerge Lab, uma consultoria de desenvolvimento humano e organizacional. “Há uma estimativa de que questões de saúde mental no Brasil são responsáveis por uma perda de 4% do PIB, algo em torno de R$ 397 bilhões, devido ao alto turnover, à redução de produtividade, aos afastamentos e às licenças médicas. Isso tem um custo e sobrecarrega toda a economia”, destacou.
O historiador Valdir dos Santos sublinhou o cenário de flexibilização das leis trabalhistas e a crise na CLT, onde o trabalhador muitas vezes se vê obrigado a trabalhar muito mais do que na escala 6 por 1, chegando a cumprir jornadas de 12 horas diárias.
“Falamos muito da escala 6 por 1, mas grande parte das pessoas trabalha 18, 20 horas por dia, 7 dias por semana. É preciso desnaturalizar essa questão”, afirmou, acrescentando que a solução tem que ser procurada de forma coletiva.
Descanso
Tatiana, especializada em desenvolvimento de liderança, observou que hoje já não se valoriza tanto quem está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana, mas sim quem entrega melhores resultados com mais qualidade – algo que só é possível com mentes descansadas. Mãe de gêmeos, ela decidiu mudar de rumo quando seus filhos tinham 3 anos e foi convidada a integrar a sociedade da consultoria Mastersoul. “Nosso foco é o desenvolvimento de liderança pensando na alta performance com bem-estar, enxergando o bem-estar como um potencializador da performance.”
Ela criticou o mindset ainda vigente de que produtividade significa adição de tarefas, como responder mensagens às 2h da manhã ou trabalhar sem intervalos. “Se você tiver um ambiente de muito bem-estar sem busca por resultados, terá uma equipe na zona de conforto. Por outro lado, se cobrar apenas desempenho e metas, sem equilíbrio, a equipe entrará em uma zona de ansiedade. O segredo está em integrar essas duas coisas: buscar resultados e metas, mas dentro de um ambiente de bem-estar.”
Tati trouxe para a discussão a questão dos prazos apertados e dos briefings incompletos. “Estou no final da cadeia, sempre muito pressionada por prazos e orçamentos restritos. O que me exaure é o processo desgastante, que parece não ter fim, com muito retrabalho. Um briefing errado, ou a falta de cuidado de quem contrata, interfere de forma absurda na produtividade de toda a cadeia”, avaliou.
Novos modelos
Tatiana reforçou que, após longas horas de trabalho, o rendimento cai significativamente, e aquele “só mais um pouquinho” não é eficaz, já que o trabalho provavelmente precisará ser revisado no dia seguinte. “É preciso rever a forma como trabalhamos. Durante a pandemia, a Microsoft publicou um estudo muito interessante em seu laboratório de inovação e tecnologia, concluindo que o cérebro precisa de pausas.” Ela citou ainda que algumas empresas já contam com o cargo de chief happiness officer e alertou: “Rever alguns processos pode ser fundamental para reter talentos. Empresas que não olham para a felicidade de seus colaboradores estão gastando com profissionais afastados por burnout”.