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O Espaço é Seu

Criar é um ato de cuidado coletivo (Juliana Bezerra)

05.11.25

Abrir o processo, compartilhar repertório e entender que boas ideias podem vir de qualquer lugar: tudo isso pode contribuir para a criatividade

Em outubro, tivemos o Festival do Clube de Criação, que comemorou os 50 anos da instituição. Além das diversas palestras e temas abordados, havia um espaço dedicado à memória da criatividade publicitária brasileira, a exposição "As Estrelas da Cultura Popular", relembrando clássicos e nos transportando diretamente para as lembranças do porquê nos apaixonamos pela profissão.

Mais recentemente, vimos um pouco do processo criativo publicitário explicado em rede nacional. Nos sentimos representados e orgulhosos de não sermos os únicos a tentar explicar "o que e como fazemos", para famílias e amigos. Obrigada, Globo Repórter!

O que esses dois eventos acenderam em comum? Que o tempo da genialidade solitária está ficando para trás. A criatividade que move o mundo hoje é feita de escuta, não de egos.

Durante décadas, romantizamos a figura da pessoa criativa como alguém iluminado. Mas a era da “pessoa-criadora-gênia” está se diluindo. O excesso de desempenho e a pressão por originalidade, acompanhados do cansaço digital e da busca por sentido, transformaram o processo criativo em algo penoso, quando, na verdade, criar sempre foi um gesto de encontro.

Criatividade não é uma arte: é um envolvimento coletivo, uma prática relacional com o que há ao nosso redor.

Mas como criar pode ser um ato de cuidado coletivo? É ter cuidado com o tempo do outro, com o impacto, com o contexto e consigo mesmo.

Seguindo essa linha, me arrisco a esboçar alguns insights sobre o tema — com base em parte do que ouvi no FCC e em outras experiências e estudos — para tentar traduzir esse cuidado como metodologia criativa:

Criação é presença real
O que faz uma ideia nascer não é o excesso, é o espaço.
Criar exige presença: olhar para o que está ao redor, para o outro, para o tempo das coisas.

Colaboração não é reunião
Brainstorm é vulnerabilidade compartilhada. E isso não acontece apenas juntando todo mundo numa sala (real ou virtual). Significa abrir espaço de verdade para que as pessoas participem da construção das histórias.

Cuidado é compromisso
Entender que ter atenção e olhar crítico sobre a própria criação não é perda de tempo nem romantismo, é responsabilidade com o conteúdo. E só assim a criatividade deixa de ser imediatista para ser sustentável.

Do eu ao nós
O repertório individual é a força da criatividade, mas o compartilhamento dele é o que gera movimento. E é justamente nesse ponto, entre a técnica e a emoção, o humano e o artificial, cliente e comunidades, que as ideias florescem.

Ou seja: o futuro do criar é, sim, coletivo.

Se antes a lógica da criatividade era quase que de uma “linha de montagem”, hoje está mais para uma roda de samba: ninguém toca sozinho.

É isso mesmo, imagine uma roda de samba. Todos se escutam, cada instrumento tem seu momento de brilhar. É colaboração em estado puro. Na roda, o especialista existe, mas é o coletivo que sustenta o ritmo. E não sou eu quem está dizendo, são palavras de Péricles, cantor, compositor e instrumentista de samba, que esteve nos palcos do Festival do Clube.

Essa metáfora vale para qualquer processo criativo contemporâneo.

A genialidade que move o mundo hoje é a da escuta, da troca, da generosidade e da empatia. E, se toda criação transforma o entorno, cuidar é o primeiro passo de qualquer ideia que queira durar e fazer história.

Juliana Bezerra, líder de comunicação da DEA Design

Leia o texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.

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