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O Espaço é Seu

A escuta como ferramenta invisível do diretor (Stéphanie Saramago)

01.12.25

Qual o efeito da escuta em um processo criativo? Será que a pressa em vender ideias matou o tempo de ouvi-las? Muitas vezes, ao longo da troca entre agência e produtora, o tratamento nasce de um briefing enxuto, com pouca ou nenhuma conversa criativa. Talvez até pelos “tempos da publicidade, onde tudo é urgente, gasta-se pouco tempo para falar sobre o objeto desejo - o filme. Sem escuta qualificada, multiplicam-se ruídos e as decisões estéticas e narrativas tendem a perder precisão. Em outubro, estive ouvindo diretores de cena que tanto admiro do mercado falando no Festival do Clube de Criação e, para minha surpresa, percebi que essa dor e desejo por mais escuta e aproximação é compartilhada. É experiência coletiva.

Se parte fundamental do trabalho do diretor de cena é vestir imageticamente uma ideia, por que não fazer essa troca aprofundada acontecer com mais frequência e qualidade entre produtoras, agências e clientes? No Reino Unido (IPA, 2022), calcula-se que 26% do orçamento de marketing seja desperdiçado por briefings mal formulados e esforços mal orientados - talvez a dor que nós, diretores, sentimos, não é só uma percepção. Tem impacto em resultado do negócio.

Ao longo do processo imaginativo, o diretor sabe de onde surgiu uma ideia, ou qual o sentimento que aquela ideia deve provocar no público, o que brilhou no imaginário do cliente, contribui para uma série de decisões criativas do nosso lado que impacta o tratamento, e por sua vez, o filme. São esses subtextos que nos fazem entender qual o tom que a mensagem deve ser passada, a linguagem, qual o peso do gênero no filme, como deve ser o figurino, como a câmera se comporta e a luz incide, qual a trilha que embala...

Levei para o audiovisual um hábito tenaz do jornalismo, saber o como, onde e o porquê das coisas. Quanto mais informações são entregues, mais rico é o tratamento do filme e depois, a sua produção.

Audiovisual é processo subjetivo, é leitura nas entrelinhas, no subtexto, no que é dito e no que não é dito. Mas quanto mais produtora, agência e cliente estiverem de mãos dadas, melhor o resultado.

Por isso, deixo aqui um pedido de boas práticas para clientes e agências: conversem! Contem aos seus diretores tudo e mais um pouco, aproximem os criativos nesse momento de pré-tratamento.

Quando foi outra pessoa que escreveu a história, você tem a experiência da primeira leitura, com impressões que nunca mais sentirá.” A observação de Kubrick vale também para a publicidade: a primeira leitura do diretor de cena é irrepetível e orienta todo o processo. Pois que ela seja feita então com densidade e com calma.

Stéphanie Saramago, sócia e diretora de cena da Rastro

Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.

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