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O futuro do centro de SP muito além da chamada ‘revitalização’

04.12.25

A palavra “revitalização” é insuficiente para descrever as complexas necessidades e o futuro pulsante do centro da cidade de São Paulo. A região, marcada por disputas históricas, movimentos sociais, abandono e resiliência, precisa de um olhar que integre moradia, cultura, trabalho e, acima de tudo, o fator humano. Essa foi a tônica do painel “Presente e futuro do centro de São Paulo”, realizado no 13º Festival do Clube de Criação na tarde do domingo (5/10).

Com mediação de Ricardo John, sócio da agência Isla - instalada na região central da cidade -, a mesa reuniu vozes com diferentes vivências na região: a urbanista e líder do Movimento Sem-Teto do Centro (MSTC), Carmen Silva; o padeiro e empresário Olivier Anquier; o arquiteto e sócio da Somauma, Marcelo Falcão; e o arquiteto e urbanista Alex Sartori, do canal "De que são feitas as cidades?".

Ricardo John, cuja agência se mudou para o Vale do Anhangabaú há oito meses, iniciou o debate destacando a contradição da ausência de empresas criativas na área mais efervescente da cidade. "É um pouco assombroso que um mercado que se diz criativo tenha tão poucas agências e tão poucos organismos criativos num espaço que é tão pulsante, que é tão vivo como o centro de São Paulo", comentou.

A crítica mais contundente à “revitalização” - palavra típica do discurso hegemônico sobre a área central de São Paulo -, veio de Carmen Silva, que rechaçou o termo usado em projetos urbanísticos. Para ela, a palavra ignora quem já constrói a vida na região. "É uma forma bárbara de negar, de deixar invisível quem já está no centro", afirmou, defendendo que o direito à moradia digna e a integração das políticas públicas são a base para qualquer projeto de futuro.

Morador e empreendedor na região há mais de 20 anos, Olivier Anquier defendeu a mistura social como a grande riqueza do centro. Trazendo sua experiência como parisiense, ele criticou a tendência paulistana de criar bairros-bolha e celebrou a diversidade como a alma do coração da cidade. "Acredito que o único bairro que não pode virar uma bolha é o centro, porque o centro é a alma da cidade, é a história da cidade", disse.

Marcelo Falcão, nascido e criado na região e hoje sócio da Somauma, incorporadora focada no retrofit de edifícios como o icônico Virgínia, na Consolação, compartilhou a visão de quem atua na transformação do espaço construído. Ele enfatizou a importância de se relacionar com o território e seus atores, e apontou um caminho para a mudança. "Acho que é isso que a gente precisa no Brasil: trabalhar nossa cultura cidadã, trabalhar primeira infância, esporte, artes, conhecimento e dignidade", declarou.

O arquiteto Alex Sartori argumentou que os problemas da cidade vão além da arquitetura e são um reflexo direto dos problemas da sociedade. Para ele, não é possível pensar em uma arquitetura verdadeiramente inclusiva enquanto as bases sociais forem excludentes. "Não existe uma arquitetura que seja inclusiva, se a sociedade é exclusiva e é racista. A arquitetura vai refletir essa sociedade", pontuou.

O consenso da mesa foi de que qualquer futuro para o centro de São Paulo precisa abandonar soluções cosméticas e enfrentar suas contradições de frente, valorizando sua história, garantindo o direito à moradia e entendendo que sua maior vitalidade vem justamente da diversidade das pessoas que ali habitam e trabalham.

Fernanda Beirão

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