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A moda já é, hoje, a segunda maior indústria
Walter Rodrigues, estilista
A moda já é, hoje, a segunda maior indústria em volume de empregos, perdendo apenas para a construção civil
Clubeonline: Hoje a moda é assunto em quase todos os segmentos da mídia. Desde programas e revistas dirigidos ao público feminino até publicações especializadas em cultura, comportamento, tecnologia, negócios, marketing, dinheiro... Como você vê essa mudança de abordagem?
Walter Rodrigues: Acho que, a partir de um processo que foi desencadeado há cerca de dez anos, as coisas começaram a mudar. Faltava um calendário de eventos para que a moda fosse encarada de forma mais profissional. Quando isso aconteceu, mudou todo o cenário. Antes, só havia eventos esporádicos, isolados. A partir do momento em que o Paulo Borges colocou 40 estilistas juntos, em um mesmo evento, a moda começou a se posicionar enquanto negócio, ganhando poder. E as coisas foram tomando proporções maiores aos poucos: em 1994, ainda éramos só eu e o Alexandre Herchcovitch, no Phytoervas Fashion. De lá para cá, a moda avançou. Aumentou a quantidade de eventos, de catálogos, de fotos, de modelos... Agora, moda é sinônimo de negócio, indústria, cifras, empregos, exportação, produção. E não apenas de fofocas, de tititi... Deixou de ser "coisa de viado", como eu brinco. A moda já é, hoje, a segunda maior indústria em volume de empregos, perdendo apenas para a construção civil.
Clube: Como você se tornou o estilista da primeira-dama?
WR: Foi muito curioso. Há coisas que acontecem na minha vida e na vida da Áurea (Yamashita, sócia de Walter) que não têm explicação. É uma questão de estar no lugar certo, na hora certa. Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer. Em dezembro de 2002, recebi um telefonema da Tata Nicoletti, responsável pelo styling da primeira-dama. Achei que estávamos sendo convidados a participar de uma concorrência (se fosse, não aceitaria). Topei, fiz seis modelos e mandei para a Tata. Agi de forma totalmente intuitiva, muito diferente do que costumo fazer quando crio para uma determinada pessoa. Em casos assim, peço à cliente que venha até a confecção, converso muito, visualizo tudo. No caso da primeira-dama foi o oposto, mas fascinante. Só que, no início, fiquei muito tímido. Não sabia nem como chamá-la. Senhora? Excelentíssima? Como sou um homem simples, virei e disse: "Vou chamá-la de Dona Marisa". E assim foi. No dia da posse, liguei a TV e fiquei assistindo ao resultado de casa.
Clube: E o que achou do que viu?
WR: Foi muito bacana. Fiquei feliz quando o presidente Lula a elogiou, dizendo que ela estava muito bonita. Aquele momento foi maravilhoso. Nos encontramos agora, na abertura da São Paulo Fashion Week (no desfile de Ricardo Almeida, estilista do presidente), e ela disse, de uma forma muita carinhosa, o quão feliz tinha ficado com a roupa que vestiu no dia da posse, que se sentiu muito bem e que as pessoas a elogiaram. Essa foi a maior das recompensas.
Clube: Há estilistas já dispostos a colaborar com o Fome Zero?
WR: Acho que o universo da moda tem obrigação de participar. Nós, estilistas, estamos cada vez mais em evidência, sabemos fazer uso das ferramentas de marketing, chamamos a atenção da mídia...Sendo assim, temos sim que nos engajar em projetos voltados ao terceiro setor e, em especial, no Fome Zero. No verão de 2001, por exemplo, participei de uma experiência junto a uma comunidade de rendeiras, no Piauí. Foi genial. Você não mexe só com o bolso dessas pessoas, mas também eleva a auto-estima de cada uma delas e da comunidade onde estão inseridas.
Clube: A publicidade brasileira é uma das três melhores do mundo e tem reconhecimento internacional. A moda brasileira também caminha nesse sentido?
WR: O estilista brasileiro é absolutamente talentoso. Não ficamos devendo nada para ninguém. Temos uma facilidade muito grande de trabalhar o corpo feminino. Mas o universo da moda é mais devagar. O reconhecimento e a conquista de espaço não acontecem rapidamente, vêm aos poucos. Já conseguimos grandes vitórias: participamos, por exemplo, da Semana de Moda de Paris, ao lado das maiores maisons do mundo. Contudo, ainda temos muito o que caminhar. A Gisele (Bündchen) abriu muitas portas para a moda brasileira, lá fora. O fotógrafo peruano Mario Testino, também. E a moda, para o nosso País, é uma forma de propaganda do bem. Já temos muita propaganda do mal a nosso respeito sendo exibida no exterior, por causa da violência, da fome, das crianças que vivem nas ruas, etc.
Clube: Quais serão os seus próximos passos?
WR: Terminada a SPFW, começamos a trabalhar em cima da coleção de verão/2004. No final de fevereiro, estarei em Milão, participando de uma grande feira e atendendo clientes internacionais. Depois vem a Semana de Moda de Paris. Continuo, também, com o projeto junto às comunidades carentes do Piauí, em parceria com o Sebrae. E muitas outras coisas estão acontecendo. Eu e minha equipe não paramos nunca.