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Africa, o berço da humanidade, futebol e arte

Com Luiz Cavalli, artista plástico

12.05.10


Clubeonline: Você foi um dos artistas convidados a participar da "2010 International Fine Art Collection", exposição organizada pela FIFA para a Copa do Mundo que acontecerá na África do Sul. Você poderia falar um pouco sobre o projeto e explicar como é estar entre os artistas contemporâneos de cada um dos 32 países que participarão da Copa em 2010?
Luiz Cavalli: O pessoal da MMX Art, organização que está à frente do projeto junto à FIFA, encontrou meus trabalhos na internet. Um dos executivos me enviou um e-mail no começo de 2009 e, de início, estranhei, achei que fosse um golpe. Mas depois, percebi o quão séria e organizada era a proposta. Eles estavam convidando cinco artistas por país, de 32 países diferentes que participarão da Copa, para expor seus trabalhos, totalizando 160 artistas.
Clubeonline: Qual era o briefing?
Cavalli: Eles me pediram um esboço sobre o tema “Africa, o berço da humanidade, futebol e arte”. A tela deveria estar no formato A2, porque a proposta era escanear 210 pôsteres, a partir do original, e cada um deles (com holografia da FIFA e assinatura do artista) será vendido no site do projeto. Inclusive, já é possível fazer reservas. As telas originais estão sendo expostas e circulando por alguns países, agora em 2010, ano da Copa do Mundo, como Espanha e Argentina, e talvez o Brasil. No final do projeto, os trabalhos originais serão vendidos ou leiloados. 
Clubeonline: Como foi o processo de avaliação da FIFA, ao qual seu trabalho foi submetido?
Cavalli: Na verdade, propus ao pessoal da MMX Art que eu fizesse seis peças – em vez de apenas uma - e as enviasse, para que escolhessem uma delas para apresentar à FIFA. Comecei a pesquisar na internet e pintei seis telas em rolo 100% algodão, um trabalho bem ‘solto e largado’. Fotografei as peças – apesar de ter excedido um pouco as medidas que eles solicitaram – e mandei as imagens. Eles adoraram e disseram que iriam apresentar dois dos trabalhos para FIFA. Os executivos da federação de futebol gostaram tanto que pediram para ver os outros quatro e aprovaram os seis! O trabalho “Commemoration” foi escolhido para participar da "2010 International Fine Art Collection" e os outros cinco serão utilizados em peças de marketing.
Clubeonline: Quais são os outros artistas brasileiros que irão exibir seus trabalhos no projeto?
Cavalli: Além de mim, Gustavo Rosa, o diretor de arte Jack Ronc, Rogério Dias, Cybele Varela - uma brasileira que vive na Itália -e Marcelo Ferreira - um rapaz de Curitiba. O interessante é que o pessoal da organização decidiu abrir oportunidade também para os novos talentos, por isso, além dos artistas com um pouco mais de tempo de estrada, a organização convida, em cada país participante, um jovem que esteja começando na arte para entrar no projeto.
Clubeonline: A primeira mostra dos trabalhos aconteceu no dia 04 de dezembro de 2009, durante o sorteio dos grupos da Copa do Mundo 2010, certo?
Cavalli: Sim, a MMX escolheu, dos 160 artistas participantes, 21 para que seus trabalhos fossem expostos aos mais de mil jornalistas de todo o mundo que cobriam o evento. Minha obra e a do brasileiro Gustavo Rosa estavam lá na mostra.
Clubeonline: Você, que trabalhou dos 18 aos 47 anos em publicidade - em agências e produtoras -, diz que é um “velho jovem pintor”, já que pinta há apenas cerca de seis. Como começou seu envolvimento com a arte?
Cavalli: Eu cursei um colégio técnico de desenho de comunicação que era muitíssimo avançado. Naquela época, eu fazia pontilhismo com nanquim e vendia os desenhos, inclusive para a revista Planeta, da Editora Três. Aos 18 anos, por meio do Clicio Barroso, fui trabalhar na MPM, como assistente e depois RTV, antes da fusão com a Casablanca. A partir daí, fiquei anos e anos sem pintar ou desenhar nada, a não ser alguns rabiscos que fazia enquanto falava ao telefone, principalmente bicicletas. Só quando estava na Dínamo, no fim de 2003, é que eu me voltei novamente para a arte. Eu observava os restos de cenário que eram cortados para caber no lixo, via aquelas madeiras todas e, em vez de deixar que fossem jogadas fora, eu pegava, levava para casa e pintava, com uma tinta qualquer. O processo começou assim e não parei mais, desde então. 
Clubeonline: Quais são suas principais influências na pintura e como você define seu estilo?
Cavalli: Na verdade, não considero que tenha influências, sou um autodidata, faço minha tinta, não gosto de me inspirar em nenhum artista específico. Dos 'antigos', admiro muito a obra de Matisse (Henri-Émile-Benoît Matisse, 1869 - 1954) e, dos neo-contemporâneos, gosto de Basquiat (Jean-Michel Basquiat, 1960 - 1988). O crítico de arte Oscar D’Ambrósio disse certa vez em seu texto que meu estilo era um “expressionismo alegre” e eu concordo. 
Clubeonline: Publicidade é prima da arte?
Cavalli: Tudo é arte, tenho um profundo respeito pelas coisas. Acho que o artista pode colaborar muito com a publicidade, desde que, é claro, não seja para atrelar sua arte a um produto ruim. Aliás, está entre meus planos fazer alguns trabalhos para agências de publicidade, este ano. Inclusive, já fiz uma ação para um anunciante, o Santana Parque Shopping, há mais ou menos dois anos. Quando o centro comercial foi inaugurado e algumas das lojas estavam vazias, a direção do shopping me procurou para que eu pintasse algo para as lojas que ainda não tinham sido abertas. Eu fotografei o Horto Florestal e a Cantareira, mostrei 20 fotografias para que eles escolhessem 10 para que eu pintasse. Entreguei a eles as 10 telas originais e um CD com as imagens das obras em alta resolução, para que eles colocassem plotters nos tapumes das lojas vazias. 
Clubeonline: Recentemente, você expôs na Galeria 8 Rosas, em São Paulo, sobre o tema Set de Filmagem, "em memória aos tempos de produção na publicidade", segundo você declarou. Como sua atuação na publicidade influencia sua visão artística e seus trabalhos atuais?
Cavalli: A publicidade me ajudou muito, porque desde menino já tive muito contato com story board, enquadramento... A dupla de criação sempre consultava o profissional de RTV e eu buscava muitas referências em livros para realizar meu trabalho, então sempre tive muito contato com imagens, o que me ajudou demais em minha formação artística.
Clubeonline: Podemos esperar uma próxima exposição para quando? Já definiu um tema?
Cavalli: Uma vez por ano faço uma exposição individual, mas ainda não defini o tema de 2010. Em outubro de 2009, a mostra foi o “Set de Filmagem”, como você citou, e apresentei seis telas. Eu gosto muito de pintar bicicletas, acho que porque eu andava muito quando moleque. Em 2008, pintei a bicicleta de Renata Falzoni e essa foi a obra principal da minha mostra, só com imagens das ‘magrelas’. Foi bem emocionante, porque a Renata trouxe diversos 'night bikers' para conferir a exposição. O interessante é que as bicicletas vão 'pedalando' pelo mundo. Já tive, por exemplo, dois trabalhos com bikes expostos em galerias de Nova York.
Clubeonline: Algo mais?
Cavalli: Não posso deixar de citar a importância da internet para o artista. Afinal, meu trabalho só chegou ao conhecimento da FIFA porque está exposto na web e porque eu faço parte de diversos sites e grupos na internet sobre pintura. Destaco um deles, o Mirca, que eu participo há três ou quatro anos, e que reúne artistas do mundo em torno de causas sociais, como direitos humanos, por exemplo. Tenho também meu próprio site, com um apanhado de imagens de meus trabalhos, e meu blog. Todas as obras no blog estão disponíveis para venda.


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