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Coluna do W.O.

Entre aspas

10.05.21

A primeira frase realmente boa e eficaz que escrevi na vida, não foi para um anúncio, foi para um cartão que acompanhava umas flores, que eu mandei para uma moça.

Eu estava começando na publicidade e ela no jornalismo. Ela era linda, inteligente e talentosa, mas tinha um grande defeito: um namorado italiano, bonitão, bem vestido, 18 anos mais velho do que eu, que desfilava pelas ruas de São Paulo com uma Ferrari Dino vermelha.

Uma competição entre mim e ele, era mais ou menos como uma disputa do Corinthians Sub-20 com a Juventus de Turim, do Cristiano Ronaldo.

Mas como a moça tinha se encantado com o fato de eu ter ganho um Leão de Bronze no Festival do Cinema Publicitário de Veneza, com o primeiro comercial que escrevi na vida, resolvi tentar.

Comprei um maço de flores do campo e mandei para ela acompanhado de um cartão que dizia, "As próximas, a gente rouba juntos". Ela adorou o cartão e o impossível aconteceu: tomei a namorada do italiano bonitão.

Anos depois, já publicitário conhecido, fiz uma palestra com o tema "O cartão é mais importante do que as flores", onde eu dizia que o negócio da persuasão na publicidade era igualzinho à vida real.

Dois rapazes podiam comprar as mesmas flores, para a mesma moça, na mesma floricultura; mas agradaria mais, aquele que escrevesse o melhor cartão.

Desde menino, sempre gostei de frases e certamente por isso, acabei virando publicitário, uma atividade onde frases inesquecíveis são fundamentais. Gosto de todos os tipos de frases, desde que bem pensadas.

Podem ser afetadas como as de Oscar Wilde: "Chamamos de ética o conjunto de coisas que as pessoas fazem quando todos estão olhando".

Verdadeiras como as de Nelson Rodrigues: "A liberdade é mais importante do que o pão".

Poéticas como as de Mário Quintana: "A grande tristeza dos rios é não poderem levar a tua imagem".

Autocríticas como as de Tim Maia: "Comecei uma dieta, cortei a bebida e as comidas pesadas e em quatorze dias perdi duas semanas".

Pretensiosas como as de Salvador Dalí: "Às vezes eu penso que um dia morrerei por uma overdose de satisfação".

Sinceras como as de Tom Jobim: "Viver no Rio é uma merda, mas é bom. Viver em New York é bom, mas é uma merda".

Precisas como as de Millôr Fernandes: "Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim".

Autoanalíticas como as de Raul Seixas: "A arte de ser louco é jamais cometer a loucura de ser um sujeito normal".

Cínicas como as do príncipe Phillip: "Quando você encontrar um homem abrindo a porta do carro para sua esposa, pode ter certeza de que ou carro é novo, ou a esposa é nova".

Políticas e comportamentais como as de Winston Churchill: "A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes", "Se Hitler invadisse o Inferno, eu faria uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Comuns", "Não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor”, “Estou sempre disposto a aprender, mas nem sempre gosto que me ensinem".

Winston Churchill foi, sem dúvida, o político que melhores frases disse e escreveu em todos os tempos. Tanto sobre a política, quanto sobre a vida, coisas que na verdade são uma coisa só. Existem inúmeros livros com as frases de Churchill. Lendo qualquer um deles, dá pra perceber como são medíocres as frases da maioria dos governantes brasileiros.

Alguns até conseguem dizer coisas que um dia serão lembradas, mas apenas pelo fato de serem ridículas ou descabidas. Coisas do tipo "Não vão me fazer desistir porque sou imbrochável", ou "Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária".

Evito ler e ouvir o que dizem esses personagens, normalmente, repetindo sandices na tentativa de encantar seus eleitores cativos para uma próxima eleição.

Quando, por acaso, sou atingido por mensagens de algum deles, coloco em prática uma das frases famosas de Groucho Marx: "Eu nunca me esqueço de um rosto, mas, no seu caso, ficarei feliz em abrir uma exceção."

Washington Olivetto
Publicitário
washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.

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