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Conferência do Clima

Juventudes Negras vão à COP 26 com apoio do Clube

25.10.21

A partir do dia 31 de outubro, a cidade escocesa de Glasgow passa a ser a capital do mundo para as discussões sobre a crise do clima. Dessa data até 12 de novembro, acontece a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, também chamada de COP 26. O encontro mobiliza governos, setores industriais, empresas, ativistas, a sociedade civil e a mídia. Tamanha movimentação é mais do que necessária: tudo o que foi feito até agora não demonstra estar sendo suficiente para o planeta.

Foi o que apontou o mais recente relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em agosto. O estudo mostrou que o limiar do aquecimento global (1,5 graus Celsius acima do período pré-industrial) será atingido em 2030, dez anos antes do que se projetava. De acordo com o documento, algumas situações são irreversíveis – mesmo que dediquemos séculos para combatê-las.

Diante desse quadro, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o relatório representa “um código vermelho para a humanidade”. O alerta levou o Clube de Criação a criar uma série, Plantão #CodeRed, para ouvir agências, marcas, produtoras e especialistas a respeito do papel do mercado de comunicação na luta contra o relógio (confira as participações a partir daqui).

O estudo do IPCC foi elaborado a partir das atualizações sobre a ciência e o clima feitas por 234 cientistas de 66 países, que analisaram evidências coletadas no mundo, como o aumento de ondas de calor, alagamentos e inundações e outros eventos climáticos extremos.

Tudo isso evidencia como é essencial uma participação cada vez maior de entidades, grupos civis, marcas, além de governos e especialistas. É importante que os debates não se limitem a um determinado perfil de países e populações.

Para apoiar um esforço coletivo e representativo, o Clube de Criação se junta a um time de empresas e entidades que patrocina a ida para Glasgow de quatro jovens negras e periféricas que irão acompanhar a conferência de perto. Amanda Costa, Mahryan Sampaio (ambas de São Paulo), Ellen Monielle (de Natal) e Vitória Pinheiro (de Manaus) vão compartilhar visões e captar experiências, trocando vivências e aprendizados. Elas formam a delegação do Perifa Sustentável, plataforma de compartilhamento de conteúdo sobre sustentabilidade para as periferias fundada por Amanda em 2019.

A partir desses apoios e da mobilização da changemaker Egnalda Côrtes, CEO da Côrtes e Cia, que atua como consultora de pluralidade e é conselheira permanente do Clube, as quatro representantes do Perifa Sustentável vão poder partir para a Escócia nesta terça-feira, 26, com muitos planos na bagagem. O time de apoiadores é composto por Côrtes e Cia, Clube de Criação, Escritório Daniel, Zentys Medical e Fundação Tide Setúbal.

É preciso democratizar a pauta na periferia e entre as pessoas negras”, afirma Egnalda. Com essa ideia, buscou os apoios. Um mês atrás, apenas Amanda tinha condições de participar, mas isso porque recebera uma credencial, em função de sua história e seu ativismo (ela já participou de outras COPs). Faltava tudo mais. Mas a ajuda veio com as decisões das lideranças das empresas e entidades apoiadoras, todas comandadas por mulheres.

Para Joanna Monteiro, presidente do Clube de Criação, o tema das mudanças climáticas interessa ao mercado e ao mundo inteiro. Clientes têm manifestado suas preocupações a esse respeito com as agências. “Poder estar nesse encontro mundial e receber as perspectivas sobre a conferência, a partir do ponto de vista dessas quatro jovens, é muito importante para o Clube”, diz.

O projeto conta com uma hashtag: #JuventudesNegrasnaCop26. Desse modo, as representantes da Perifa Sustentável pretendem compartilhar com seus seguidores e com as comunidades as informações coletadas na conferência.

Confira as expectativas de cada uma com a COP 26.

Amanda Costa – Formada em Relações Internacionais, é ativista climática, jovem embaixadora da ONU, delegada do Brasil no G20 Youth Summit e é diretora executiva do Perifa Sustentável. Tem três propósitos: enegrecer o discurso climático (“Muitas vezes ele é protagonizado por homens brancos e cisgêneros. Outras narrativas podem ser acrescidas. Para frear o aquecimento global, precisamos de disrupção e pluralidade”); fazer parcerias (que iniciativas estão acontecendo pelo mundo para fortalecer a juventude?) e fortalecer regiões (irá buscar uma participação maior de outros lugares, fora dos grandes centros).

Ellen Monielle – Formada em Relações internacionais pela Universidade Potiguar, faz mestrado em Gestão Pública e Cooperação Internacional pela Universidade Federal da Paraíba. Seus estudos são focados em pautas ecológicas, alimentares e amazônicas: o tema do mestrado está relacionado à diplomacia indígena, mudanças climáticas e COPs. É voluntária de comunicação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), também é redatora independente do La Proleta e é criadora de conteúdo digital no perfil do Instagram @eco.fada, sobre alimentação popular. “Quero levar para a COP a ótica de uma acadêmica negra pesquisando narrativas decoloniais. E quero trazer a COP para o Nordeste, promovendo discussões sobre clima no Rio Grande do Norte. É urgente fazer um debate local. Temos de mostrar que é possível construir outras realidades. Também tenho foco em alimentação e um dos assuntos que discuto é como a crise climática afeta a alimentação”.

Mahryan Sampaio - Graduanda em Relações Internacionais, é embaixadora da ONU, ativista, acadêmica, palestrante e diretora executiva do Perifa Sustentável. Atua na área de direitos humanos, com foco em migração e refúgio, juventude, gênero, raça e meio ambiente. “Crise climática é urgência. Compromete as necessidades das futuras gerações, o que é potencializado pelo racismo estrutural. Ela afeta comunidades, atinge grupos vulnerabilizados, populações negras, indígenas e periféricas. Por isso, é preciso falar das mazelas. Vamos levar nossa visão. No atual governo, houve sucateamento de órgãos. Na COP 26, quero olhar as boas práticas e adaptá-las para nossas necessidades. Precisamos comunicá-las aos jovens”.

Vitória Pinheiro - Estudou Políticas Públicas e Desenvolvimento Rural na UFRGS e compõe redes de ativismo e liderança como o Global Shapers e Women Deliver. É uma jovem trans afroindigena, nascida e crescida no bairro Zumbi dos Palmares, periferia de Manaus. Atua na intersecção dos direitos humanos, da inovação social e tecnologias e hoje é uma ativista no projeto Palmares, que lidera, e no Muvuca, programa que busca reunir e fortalecer jovens lideranças com importantes trajetórias de atuação na área socioambiental pelo Brasil. “Quero questionar como os jovens se envolvem nesses espaços e identificar os pontos que mais interessam à juventude brasileira de periferia. Vou acompanhar as discussões sobre mitigação climática, sobre perdas e danos. Este ano a COP é bem importante porque é o ano de implementação do Acordo de Paris. Há também uma grande expectativa sobre os fundos que as nações vão oferecer para esses esforços de mitigação, principalmente em relação às florestas. Também quero acompanhar as discussões sobre economia circular e sobre o contexto urbano. É como dizem: a crise climática será ganha ou será perdida nas cidades”.

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