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Criado-Mudo

'Quem tem criado-mudo não gasta com analista'

03.05.06

Quem tem criado-mudo não gasta com analista


Confesso que senti uma felicidade enorme ao procurar o que eu escreveria nesta seção. Daqui a pouco você entende o porquê.

Minha namorada, que nada tem a ver com propaganda, também ficou muito feliz quando eu buscava assunto para escrever: tive que arrumar toda a bagunça.


Mas vamos a ele, o criado-mudo. Sua primeira característica não é lá uma grande novidade para os leitores da coluna: não é um criado-mudo. É um quarto inteiro. São coisas jogadas pelo chão e em volta da cama (isso quando não estão jogadas sobre a própria cama).


No meu “criado-mudo” (desculpem pelas aspas, são homenagem ao meu amigo Toni), tem o Weird tales of the Ramones. Bem legal. É uma caixa com 3 CDs, 1 DVD e uma revista feita pelos maiores nomes das HQs independentes americanas. Há desde histórias longas a tiras. Adivinha quem são os protagonistas?


Lá está também o disco novo do Death Cab for Cutie. Não é o mais bacana deles, mas tem uma música linda, I will follow you into the dark. Já empurrei essa música pra Clau, a minha dupla, e vou tentar empurrar pra todo mundo. Escuto no repeat na hora de fazer títulos para me concentrar. Funciona que é uma beleza: na primeira vez que toca, até canto a música. Lá pra quinta, nem percebo e já estou fazendo títulos. Pena que os títulos
continuam ruins.


Tem Por quem os sinos dobram que, antes de você falar que tô querendo parecer culto, ainda não li.Tem outro, bastante usado, que é a Bíblia. O Novo Testamento foi o primeiro roteiro à Tarantino lançado na história: a mesma trama contada de pontos de vista diferentes. Piada de lado, sou católico e leio sempre. Por fim, o último livro que habita meu criado-mudo no momento é The art of modern rock, uma coletânea de pôsteres de shows. Fodido.


Meu criado-mudo é espada, mas tem flores. Minha namorada as compra e depois briga comigo porque as coitadinhas sempre morrem por falta de água. As de agora estão durando. Ufa!


Enfim, olhar para o meu criado-mudo me deixou muito feliz. Eu percebi que, à medida do possível, gosto das mesmas coisas, bandas, livros, filmes etc. que eu gostava aos 16 anos. Só que, mais do que isso, eu reparei que aos 26 tenho exatamente a vida com a qual eu sonhava lá atrás.

Não posso deixar de agradecer a Deus, à minha família, namorada e a todas as pessoas que me ajudaram desde que voltei pra São Paulo e desde que comecei essa carreirinha tão curta. Vocês e o meu criado-mudo me deram a vida que eu desejava quando era adolescente em Paranaíba, interior do Mato Grosso do
Sul. E o melhor: meu criado-mudo nunca perguntou se meus problemas têm origem em traumas de infância, em situações difíceis com a minha mãe ou meu pai, com brigas na escola etc. etc. etc.


Escrevi essas bobagens ouvindo Cold Roses, do Ryan Adams and the Cardinals. E recomendo. Mas deixa eu, aos 16 anos, saber que agora escuto isso. Seria mais um bom tempo sem um falar com o outro.


João Caetano Brasil
Redator da JWT, paulistano de nascimento, sul-matogrossense de coração e fã de Ramones.
Joao.caetano@jwt.com

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