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Estresse, trabalho e depressão
Tema mês de outubro: Estresse, trabalho e depressão.
Por: Dr André F. Reis e Dr. Rodrigo Bressan
Recebi vários e-mails solicitando que abordasse tema relacionado ao estresse do trabalho e sua associação com a depressão.
Assim como em outras atividades, os profissionais de criação trabalham intensamente com prazos por vezes muito curtos e com alta competitividade.
Este ritmo de trabalho pode levar a uma pressão emocional de alta intensidade.
Para abordar este tema tão importante e de grande impacto na qualidade de vida destes profissionais, convidei o Professor. Dr. Rodrigo Bressan, colega da UNIFESP Escola Paulista de Medicina.
Dr. André: Rodrigo, qual a diferença entre depressão e tristeza?
Dr. Rodrigo: André, antes disto, acho legal definir humor saudável. Os estados de humor estão diretamente ligados as vivências, ou seja, quando recebemos a notícia de uma tragédia, nos entristecemos. Eles devem ser elásticos, quero dizer, assim que acaba o estímulo eles voltam a normalidade. Para exemplificar, quando temos um resultado negativo no trabalho nós ficamos chateados, mas assim que entendemos os motivos e obtemos resultados mais favoráveis, o estado de humor melhora. Portanto, para distinguir estados de tristeza (que são absolutamente normais e desejáveis) da depressão, é preciso levar isto em conta. Quando os estados de tristeza se cronificam, mesmo que na presença de estímulos positivos, há que se investigar um quadro depressivo. É importante notar que a tristeza é um sintoma da depressão, mas a depressão não se limita a tristeza. A depressão é considerada uma doença chamada de transtorno do humor. Muitas pessoas apresentam mais desinteresse, apatia ou angústia do que tristeza propriamente dita.
Dr. André: Rodrigo, é verdade que existe a associação entre estresse profissional e depressão ou é uma mera coincidência em pessoas pré-dispostas?
Dr. Rodrigo: É verdade, André. Assim como o diabetes, que você conhece bem, a depressão é causada por uma combinação entre predisposição genética e fatores ambientais. No caso do diabetes, sabemos que os fatores ambientais estão ligados a alimentação e prática de atividade física. No caso da depressão, os principais fatores ambientais estão ligados ao estresse. Bom, estresse é algo bastante amplo, inclui desde fatos pontuais, como perda de um ente querido ou mudança de país, até situações crônicas, como problemas no trabalho (assédio moral). No caso da depressão, a percepção da gravidade do estresse é mais importante do que a gravidade dos fatos vistos de fora. Vou dar um exemplo, para algumas pessoas a perda precoce de um irmão pode ter um significado menor do que a perda do emprego. Atualmente, o trabalho vem ocupando cada vez mais espaço na vida das pessoas. Ele tem um significado muito grande na identidade das pessoas. Perturbações no trabalho assumem proporções muito grandes dentro do contexto de vida das pessoas. Na prática do consultório, as questões relacionadas ao trabalho estão sempre em pauta e geram muito estresse. Elas precisam ser manejadas com cuidado para evitar quadros depressivos.
Dr André: Quais os sintomas e sinais mais evidentes de um quadro de depressão?
Dr. Rodrigo: É importante notar que a depressão não é somente tristeza, ela é uma doença que inclui desinteresse, apatia, culpa excessiva, anedonia (dificuldade de experienciar prazer), alterações de sono (tipicamente insônia terminal, ou , acordar mais cedo e angustiado), menos valia (sensação de que é pior do que os outros), sintomas de ansiedade e angústia e dores no corpo. Em algumas pessoas, a tristeza não é o componente principal e sim a apatia.
Dr. André: Hoje sabemos que vários indivíduos usam medicações do grupo de antidepressivos mesmo sem controle médico. Quais os riscos do uso e abuso destas medicações?
Dr. Rodrigo: André, como regra geral, não é legal tomar medicações sem acompanhamento médico. Antidepressivos podem ser prescritos por quaisquer médicos e deve ficar claro para o paciente por que ele está tomando o remédio para que ele possa entender quais são os objetivos do tratamento. Quando prescritas adequadamente, estas medicações não têm um potencial de abuso, são bem toleradas e não apresentam grandes riscos a longo prazo. É preciso ter em mente que elas podem ter interações com outras medicações que a pessoa venha a tomar por qualquer outra razão. Por exemplo, o uso de alguns antibióticos associado a alguns antidepressivos pode gerar uma piora dos efeitos colaterais. Portanto, é boa prática avisar ao médico que está prescrevendo qualquer medicação que usa e em caso de dúvida consutar o médico que prescreveu o antidepressivo. A longo prazo, é fundamental que a pessoa tenha um acompanhamento médico qualificado para avaliar os benefícios e os riscos da tomada da medicação antidepressiva. Algumas pessoas podem interromper o uso após 6 meses a um ano e outras precisam tomar a medicação por períodos mais prolongados para evitar novos episódios.
Dr André : Quais as estratégias para aliviar a pressão do trabalho e manter a saúde emocional em dia?
Dr Rodrigo: André, aqui não existe uma receita mágica, mas o bom senso deve prevalecer. Todas as atividades ligadas a saúde física tendem a ter um impacto bastante positivo na saúde emocional, incluindo atividade física regular e alimentação saudável. Obviamente, ter relações emocionais significativas fora do trabalho, tais como família, amigos e companheiros, também ajuda bastante. Estas relações são particularmente importantes quando as coisas não vão bem, pois permitem um alívio das tensões do trabalho. Esta pessoas do convívio também ajudam quando se precisa de conselhos, pois eles não estão numa posição competitiva e têm uma distância das questões do trabalho que pode ser muito benéfica na hora de aconselhar.
Os problemas emocionais no trabalho são inevitáveis, pois estamos o tempo todo sob pressão para atingir resultados, convivendo com pessoas diferentes que têm formas de pensar muito diferentes e muitas vezes com agendas próprias. Neste sentido, é fundamental tentar manter um clima emocional favorável no trabalho quando as coisas estão bem. Este clima ajuda bastante a resolução dos problemas a medida que eles vão surgindo. O trabalho está nos testando o tempo todo e muitas vezes nos deparamos com dificuldades emocionais que não imaginávamos antes. Nestas situações, as psicoterapias estão bem indicadas, pois podem nos ajudar a entender os conflitos com mais profundidade e a manejá-los com um pouco mais de habilidade.
Dr.André F. Reis
e-mail:andrefreis@terra.com.br
Dr. Rodrigo Bressan
e-mail: r.bressan@psiquiatria.epm.br
Veja também os temas anteriores:
Julho: pré-diabetes
Agosto: tiróide sempre acusada: culpada ou inocente?
Setembro: sedentarismo: abandone está idéia.
Comentários
Talitha Benevenuto talitha@clicintativa.com
Primeiramente, parabéns pela coluna, as matérias são sempre muito claras, diretas e objetivas. Segundo que além de todos os benefícios físicos que o exercício físico traz, posso afirmar que ele relaxa. Que estresse que nada, viva a aula de boxe!