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Direto do Clio

Ícaro Dória conta como foi

16.04.07

"Depois de quatro meses de um inverno insano, em NY, quando eu soube que o julgamento do Clio seria em New Mexico, - Estado vizinho ao Texas -, tirei a bermuda e o chinelo do fundo do armário e arrumei a mala cheia de camisetas e protetor solar.


Seis horas no ar e chego a Albuquerque, capital de New Mexico. Lá, um motorista me esperava, junto com uma nevasca incrível e temperatura de “menas” 3! De México o Novo México não tem nada, tirando as tortillas que eles servem de entrada, em todos os restaurantes.


Uma hora de Estrada e cheguei a Santa Fé, uma cidade feita pra turista ver. O julgamento do Clio aconteceu num resort a quinze minutos da cidade.


Cheguei no hotel e logo na recepção me entregaram um folder com todas as regras do julgamento. Lá dizia que os 15 jurados seriam divididos em 3 grupos de 5 e que na primeira fase, cada grupo veria um terço de todos os trabalhos inscritos.

Durante esta primeira fase, cada jurado vota “in” ou “out” para cada peça ou campanha. Dentro do grupo de 5 pessoas, são necessarios 3 “in” para que a peça ou campanha passe para o short list.


Então, por três dias inteiros, das nove da manhã às sete da noite, votamos “ins” e “outs”. Muito mais “outs” do que “ins”, na verdade.


No quarto dia, finalmente o juri se reuniu e nós quinze vimos o short list.

Cada jurado votou individualmente dando nota (1 a 10) a cada peça ou campanha. No quinto dia, a organização do Clio colocou todas as peças em ordem decrescente, segundo a média das notas dos jurados. Foi aí que começaram os debates para decidir as medalhas. Começando pela peça que teve a nota media mais alta uma pergunta simples era feita pelo presidente do
juri: 'É ouro'?

Para o ouro eram necessarios 8 votos, ou seja, a maioria num juri formado por 15 pessoas. Se menos de oito pessoas votassem pelo ouro, a pergunta seguinte era 'É prata?', 'Bronze?', ou fica só no short list?

Para confirmar o ouro, a prata ou o bronze eram sempre nececessários no mínimo os 8 votos, representando a maioria dos jurados.


Passamos os dois dias seguintes votando os ouros as pratas e os bronzes.

Toda vez que uma peça ou campanha feita pela agência de um dos jurados era julgada, este jurado tinha que se retirar da sala, abstendo-se de votar e deixando os outros jurados mais a vontade para julgarem o seu trabalho.


E assim aconteceu o julgamento do Clio, que concedeu poucos ouros (um para o Brasil), algumas pratas e um número razoável de bronzes, dos quais não posso dar mais detalhes porque me fizeram assinar um termo de confidencialidade.


O júri foi muito pacífico e na minha opinião muito corajoso, ignorando anúncios que ganharam leões em Cannes e mostrando que a fórmula foto grande, logo pequeno no canto inferior esquerdo vai aos poucos perdendo espaço nos festivais e mostrando também que o design vai aos poucos ganhando espaço nas premiações internacionais.

Durante as pausas para o café, ouvi histórias incríveis, como a do jurado japonês que filmou um comercial na estação espacial russa MIR, a do jurado sul africano que fez um outdoor com paineis solares, que fornece energia para uma escola inteira em Johanesburg, e a do jurado australiano que uma vez usou o mictório ao lado de ninguém menos que Ron Jeremy*".


É isso.


Ícaro Dória


Redator da Saatchy & Saatchy de Nova York - jurado no Clio 2007, categoria Print/Poster, representando os EUA


 * O Ron Jeremy, para quem não sabe, é um porno star. Dizem que seu instrumento de trabalho, digamos assim, mede 24,76cm.


 

Direto do Clio

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