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Entrevista

Cia de Cinema reúne clássicos dirigidos por Rodolfo Vanni

28.07.15

Tem muito comercial ruim, mas tem também muito filme bom. Mais raros são aqueles que você assiste e diz: "ótimo!". Agora, só uma pequena parcela consegue ultrapassar os limites da publicidade e passa a fazer parte da cultura popular. Esses são os clássicos. Comerciais que se consagraram, como o da Varig, "560 quilômetros, 560 quilômetros. Pára um pouquinho, descansa um pouquinho 560 quilômetros" (aqui), ou aquele do rapaz da Honda, cantando "Eu acordei, tirei o pijama, fiquei na cama, depois voltei pra tomar café..." (aqui), e ainda o da jovem da Sukita "tesourando" uma paquera ao soltar um: "Tio, aperta o 21 pra mim?" (aqui).

Estes três exemplos têm em comum o fato de serem assinados pelo diretor de cena Rodolfo Vanni, sócio da Cia de Cinema, produtora que acaba de soprar 31 velinhas. E os três podem ser vistos no Arquivo Vanni, uma área recém-lançada no site da empresa, que reúne comerciais dirigidos pelo argentino (veja aqui).

Abaixo, o diretor fala sobre o projeto, sobre publicidade e novas gerações de diretores de cena, entre outros assuntos. Confira:

Clubeonline: Por que decidiu reunir seus principais trabalhos? Quais os critérios utilizados na seleção? 
Rodolfo Vanni: Acabamos de fazer aniversário e toda festa tem um pouco de alegria e um pouco de saudosismo. Falando sobre isso e sobre os rolos dos diretores, que obrigatoriamente sempre têm os filmes mais recentes, o Righi (Carlos Righi, sócio e diretor de criação da Cia de Cinema) teve a ideia de fazer outro rolo, só com os clássicos.

Clubeonline: Entre os selecionados, quais são os mais marcantes para você? Quais foram os mais prazerosos? E quais lhe desafiaram como diretor?
Vanni: Costumo brincar dizendo que já fiz algo entre 858 e 1232 comerciais. Nunca saberei exatamente quantos são. E não é por falta de memória. É apenas falta de cuidado com os arquivos. São 24 anos de filmes em 35mm, VHS, Beta, CD, DVD e agora digitalizados e “pendrivizados”. Os filmes mais marcantes que fiz sempre foram aqueles em que a ideia prevaleceu. Eu como diretor de arte e criativo, sempre procurei que a direção do comercial estivesse alinhada com a ideia. Essa deve ser a função de um diretor, seja na propaganda ou em qualquer outra atividade artística: surfar sem perder o rumo. Seguindo este raciocínio, destaco os filmes que dirigi para Philco e para a F/Nazca. O comercial do Tio Sukita, com a moça no elevador. Fiquei rotulado como diretor de humor, mas no fundo paquero a emoção. Tenho muito orgulho do comercial que fiz para Itaú Seguros, da DM9, que me deu o Profissionais do Ano da Rede Globo. Enfim, tenho muitos filmes para comentar. Alguns já estão no Arquivo Vanni, no site da Cia de Cinema. Logo teremos outros.

Clubeonline: Em relação à direção, o que mais mudou na publicidade da década de 1990 – quando você começou a dirigir filmes publicitários – para cá, na sua percepção?
Vanni: Tudo mudou. O mundo mudou. Mudaram os clientes, os criativos, as mídias, os veículos, as técnicas, os prazos e, principalmente, minha conta no banco.

Clubeonline: Rodolfo, você continua filmando e ao mesmo tempo ajudando novos diretores da Cia de Cinema, como a dupla IÊ. Qual sua avaliação sobre a nova geração de diretores que está despontando no mercado? O que eles devem aprender com a “velha guarda”?
Vanni: Continuar filmando, para mim, é um trabalho e, paradoxalmente, também é uma maneira de tentar expressar tudo aquilo que a profissão não permite. Daí os grandes conflitos entre criativos e clientes. Modestamente, isso me faz lembrar de um pintor italiano que queria pintar uma capela de um jeito que contrariava o de seu cliente. Esse pintor exercia algo parecido com a nossa profissão, tinha que comunicar algo para os outros, e conseguiu! Resultado: o mundo conhece a tal capela e o nome do genial pintor, mas todos esqueceram o nome do cliente. A flamante e querida dupla IÊ, que brilha na Cia de Cinema, assim como Martin Toro, Paula Goldman e Carol Delgado, merece toda a atenção. São jovens talentosos, trabalhadores incansáveis e, principalmente, receptivos aos conselhos, com paciência e carinho. É nossa obrigação transmitir e ensinar nossa maravilhosa e competitiva profissão, assim como também saber escutá-los. As modas saem de moda, mas o talento fica.

Clubeonline: Você trabalhava em Buenos Aires, como diretor de arte e fotógrafo, e veio para o Brasil, em 1970, exercendo essas mesmas atividades. Também realizou diversas exposições como pintor. Como essas experiências – como criativo e artista – o ajudaram a se tornar o diretor de cena que é hoje?
Vanni: Comecei como office boy. Estava rodeado de jornalistas e escritores que faziam bico como redatores. E de pintores que escutavam jazz, música clássica e pintavam anúncios em dez minutos, antes de ir ao cinema, para depois beberem como condenados, sujos de aquarela. Eles limpavam o pincel na gravata, e. depois, as presenteavam como surrealistas obras de arte. Essa romântica formação, toda essa escola, foi fundamental para eu ter uma ampla visão das artes e seus conflitos. Cheguei ao Brasil em 1970 e fui trabalhar com Armando Mihanovich e Júlio Ribeiro, como diretor de arte e fotógrafo. Pulei para DPZ, passei pela Leo, MPM Rio, depois Proeme, DPZ again, e, agora, estou como diretor. Hoje, quando leio um roteiro, percebo que são infinitas as combinações de como encarar a direção: quanto mais arquivo temos em nossa memória, mais complexa, rica e rápida fica a solução. São muitas coisas na cabeça para dirigir um comercial, e tem dado certo. Muita arte e um pouco de loucura fazem muito bem!

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