Episódio de mudança da firma

Muita gente quando pensa Paris, pensa em luxo, requinte, alta gastronomia e perfumes caros. Pois bem. Estávamos com mudança de prédio marcada.

O dono da agência disse que o prédio novo seria praticamente um palácio, com 6 andares fabulosos, elevador, móveis sob medida, decoração feita por um arquiteto renomado de Paris, teríamos gavetas com chave, mais espaço, novas cadeiras, diversas salas de reunião por andar sendo uma grande e 2 pequenas, muita iluminação natural (que esta na moda na Europa).

E o fato de a agência ter sido comprada recentemente pelo maior grupo de agências interativas dos Estados Unidos (que pertence a Microsoft) fazia crer que seria algo fabuloso mesmo.

O único porém, sem importância segundo eles, era que na reforma do prédio eles encontraram pequenos focos de amianto, então a reforma ia continuar e alguns andares teriam um plástico na janela, diminuindo a luz da rua. Bobagem, disseram.

Que roubada. Realmente o prédio tem 6 andares. O resto foi balela, o arquiteto deve ser um comediante que esta rindo até agora. Nunca vi móveis tão rusticos e vagabundos. Acho que o orçamento era pequeno, então usaram uma madeira muito tosca, estilo caixotes do Ceasa. Me explicaram depois que aquele é o estilo sueco, madeira vagabunda sem acabamento nos móveis, madeira pura.

Realmente temos gavetas com chave. Mas parece porta de armário de academia, que precisa trazer o cadeado de casa. E a mesa esta uns 30cm menor do que a do antigo escritório, ou seja, meu monitor fica grudado na minha cara e uso o teclado no colo.

Bom, depois de muita reclamação me deram um monitor LCD e esse problema foi resolvido. Algumas salas de reunião foram feitas da mesma madeira fabulosa das mesas e são tão pequenas que cabem 2 pessoas sentadas em cubos de madeira que parecem caixas de tomate.

Enfim, a madeira parece caixa do Ceasa, mas o look ficou ou banheiro de construção ou rancho, você decide. Só faltam ou as alfaces ou as ferraduras penduradas. As salas de reunião não têm portas, um conceito open space. Você ouve tudo o que falam lá e todos ouvem o que você fala. Ou seja, não dá para ouvir nada.

O teto não tem acabamento nenhum, são vários canos aparecendo, fios pendurados, etc. Disseram que o Palácio de Tokio tem o mesmo conceito, tipo arte inacabada e que normalmente a pessoa que olha completa a arte ela mesma.

Pior é que reparei em vários lugares por aqui e é bem isso mesmo, o teto é cheio de fios expostos, canos, cabos, etc.

Assim sendo, cada um pode comprar um litro de tinta e pintar sua mesa, que está muito feia, completando a "arte".

Ah, falta falar das janelas. Estão cobertas com plástico. Mas é um plástico denso e branco que não deixa passar luz. Parece aquelas festas de aniversário realizadas na garagem e com a entrada coberta com plástico. Isso aumenta um pouco o look banheiro de construção. E tem o elevador, que provavelmente esteve parado por muito tempo e agora adora pregar peças, deixando as pessoas presas nele. Um email que enviaram explicando que o conserto definitivo do elevador talvez demorasse um pouco era ótimo: dizia que caso precisasse usar o elevador, seria bom levar consigo o celular e água.

Mas pense pelo lado bom: pelo menos agora todo mundo vem falar comigo. Me botaram sentado na frente do elevador e todo mundo que sai vem me perguntar onde esta fulano ou cicrano.

Uma outra coisa inusitada trouxe um toque bem europeu à agência: na arquitetura européia é muito comum que exista um pátio ou jardim interno, ao contrário da arquitetura brasileira, onde o espaço fica ao redor do prédio. Então, quando temos uma reunião marcada e alguém está atrasado, fica fácil: basta colocar a cabeça pra fora da janela e gritar "ei, monsieur, estamos aqui no terceiro andar começando a reunião, só estamos te esperando". Simpático, não?

Por Carlos Evangelista, da Duke Interactive, de Paris, agência que integra a rede Razorfish

carlos.evangelista@gmail.com

Comentários

Alexandre Feliciano - Hahahahaa, fala aí Loco... Vc ta o próprio Ratatouile hein... se tiver faltando madeira ai me avisa que eu exporto umas caixas de fruta, dá para a gente ficar rico hehehehee... abs e boas aventuras ai pela Croissantlandia.

Calebe Ferres - Ta demais esse Jean Paul Boa matéria abs

pedrovidal - A Ceasa agora é Ceapi! só no Piauí, ou em SP virou Ceasp? heheh