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Festival do CCSP 2013

“O artista precisa do ócio e da preguiça para criar”

20.09.13


Criativos de diferentes áreas defendem mais liberdade para criação e não veem sentido no atual desenho das agências de publicidade. Essa frase pode ser o resumo da mesa We Art What We Eat, proposta ao CCSP pela produtora Zola, que realizou a curadoria deste painel, em específico.



Gastar um bom tempo vivendo e observando as idiossincrasias do cotidiano é a receita de criativos para encontrar ideias que escapem dos “clichês” da indústria publicitária. O difícil e etéreo tema do processo criativo foi o centro dos debates da mesa,  no primeiro dia do Festival do CCSP 2013, que reuniu profissionais de diferentes áreas, como o estilista Ronaldo Fraga, o músico André Abujamra, o diretor de filmes Carlos Manga Júnior, o fotógrafo Felipe Morosini e o designer gráfico Vokos.



Mediado pelo CCO da AgênciaClick, Fred Saldanha, a palestra terminou com algumas mensagens importantes. A primeira delas é a de que as referências já prontas – apontadas por clientes ou agências de publicidade – nem sempre funcionam bem para que se obtenha um bom trabalho autoral. “Uma das coisas que eu mais detesto em publicidade é a tal da referência”, diz Abujamra. “Para mim, é muito mais importante conversar três horas com um pipoqueiro, conversar com um taxista, por exemplo”. Abujamra arrancou gargalhadas da plateia ao defender o ócio como um elemento importante do seu processo de criação. “Tem muita coisa que a gente cria por preguiça”, disse ao falar sobre a ideia de ter criado para si mesmo um "curriculum musical", por exemplo, que ele apresenta para clientes. Com preguiça para lidar com a “burocracia” da descrição de suas experiências em um texto, ele resolveu entregar logo uma música para este momento. “O artista precisa do ócio e da preguiça para criar”, reafirmou Abujamra.



As brincadeiras entre os convidados acabaram resvalando em um tema ainda espinhoso no mercado brasileiro: a obrigação imposta aos criativos de trabalhar dentro das agências publicitárias. “Essa imagem de agências de publicidade lotadas é uma imagem que deveria ser coisa do passado”, comentou o estilista Ronaldo Fraga usando o setor de publicidade como um exemplo genérico. Para ele, as empresas que têm a criação como matéria prima não precisam impor obrigação do trabalho dentro do escritório.



O diretor de cena Carlos Manga Júnior ressaltou a importância de se procurar elementos de fora da indústria para desenvolver novas ideias, também de maneira imediata. “Basicamente fotografia, música e pintura são as coisas que me rodeiam”, diz. “Na publicidade, você joga tudo numa sopa”.



No entanto, os criativos ponderam que a liberdade de criação em tempo e espaços confortáveis para o criativo também precisa de certos limites. Um deles é a necessidade de se trabalhar dentro de uma organização empresarial e de ter uma equipe que viabilize a execução das ideias, por mais malucas que possam aparecer. Não adianta nada ter uma ideia original e fantástica sem capacidade de execução. Outro elemento é o prazo. “É ótimo que a mente vá longe, e tem que ir mesmo, mas tem hora pra entregar”, pontua o fotógrafo Felipe Morosini. “É complicado porque você tem que dar ordens para você mesmo”.



E mais: esta condição de liberdade no trabalho, pelo menos na indústria de publicidade, não é privilégio de todos. Depende do grau de maturidade que o profissional conquistou no mercado. “A liberdade de criação se conquista ralando a bunda”, disparou Abujamra.



Ruy Barata Ribeiro



#unbovineyourself

#festivalccsp2013



Serviço:



Festival do Clube de Criação de São Paulo

Quando: dias 20, 21 e 22 de setembro (sexta-feira, sábado, domingo)

Onde: Memorial da América Latina – Barra Funda – São Paulo

Estacionamento no local e metrô ao lado

Fan page: http://www.festivaldoccsp.com.br


Festival do CCSP 2013

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