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Festival do Clube 2018

Moda da periferia: uma conquista de espaço 'na marra'

05.10.18

"Mostrar o lado bom da periferia e não mais dar ênfase às tragédias que diariamente são mostradas nos noticiários. Precisamos trazer o nosso orgulho de volta", disse Marcos Rochah, publicitário e fundador do projeto Mete a Marra, no  Festival do Clube de Criação. Ele foi um dos participantes do painel "Moda na Periferia", mediado pela jornalista especialista em moda Vivian Whiteman, e que apresentou uma periferia cada vez mais criativa, empreendedora e orgulhosa de suas raízes culturais.

Nascido em Paraisópolis, o publicitário criou há três anos a marca Mete a Marra, quando resolveu "melhorar" esteticamente os uniformes dos times de futebol de várzea na sua região. A partir daí, começou a desenvolver outros estilos. "No ano passado, lançamos a campanha 'Vista essa atitude', em que apresentamos diversos artigos da marca em personagens reais. O objetivo é mostrar que existe moda e arte também na periferia", enfatizou.

Para Evandro Fióti, chief executive officer da Lab Fantasma, e irmão do rapper Emicida, vivemos uma transformação que não tem mais volta no Brasil: a periferia está resgatando a sua história e "conquistando na marra o seu espaço". A marca Lab Fantasma, por exemplo, criou neste ano para a C&A a coleção "A Rua é Noiz", em que apresentou o cenário periférico do hip hop negro brasileiro. "No ano passado, fizemos o desfile mais emblemático da história da SPFW mostrando nossa marca e, junto com ela, o nosso propósito de transformação social. Não realizamos nada sem que haja um cunho transformador", ressaltou Fióti, que teve a Lab Fantasma indicada pela consultoria Interbrand como uma das maiores marcas de moda que soluciona problemas sociais no país sem o auxílio do Estado. "Nós enfrentamos este sistema desigual criando uma marca que é referência para vários jovens da periferia. Esse é o nosso trabalho, o de promover mudanças", completou Fióti.

Empreendedorismo periférico

Segundo Dani Gábriél, chief executive officer da Dume, a periferia está se reinventando, com um grande movimento de pessoas migrando do chamado trabalho "CLT" para o empreendedorismo. "O que vemos na periferia são criações extremamente potentes nos segmentos de moda e gastronomia, com criações sustentáveis e criativas, potencializando novas formas de consumo", afirmou.

Da mesma forma, Gustavo Silvestre, estilista e designer, após ter observado e feito uma reflexão sobre o lado obscuro da indústria da moda, criou o Projeto Ponto Firme, em que ensina a arte do crochê a detentos da penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos. "O crochê me trouxe liberdade, autonomia e muita vontade de contribuir para uma transformação social. Diante de uma realidade na qual não existe política pública para o sistema carcerário brasileiro, o Projeto Ponto Firme já conseguiu formar mais de 120 alunos e foi um sucesso na SPFW deste ano", disse Silvestre.

A necessidade de transformar e propor um olhar diferente para o mercado da moda também foram iniciativas precursoras para o nascimento do Movimento Periferia Inventado (PIM), do designer de moda Alex Santos. O projeto oferece oficinas de passarela, maquiagem e fotografia em Heliópolis, a segunda maior favela de São Paulo, para jovens que querem se desenvolver neste mercado. "Eu vim da periferia e sei que estamos abrindo uma porta muito importante para vários jovens que desejam viver esse mundo da moda, além de resgatar o orgulho e a autoestima dessas pessoas", enfatizou Alex.

Juliana Welling

Festival do Clube 2018

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