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Festival do Clube 2021

Fernando Meirelles e Paulo Artaxo: é preciso agir já pelo planeta

08.10.21

O cineasta, produtor e roteirista Fernando Meirelles encontrou o professor Paulo Artaxo, doutor em Física Atmosférica e um dos maiores especialistas brasileiros de mudanças climáticas, para um bate-papo sobre degradação ambiental e futuro do planeta no Festival do Clube de Criação 2021.

No painel “A crise do clima e a farsa do greenwashing: como as marcas podem deixar de ser parte do problema e virar parte da solução”, Meirelles expressou sua preocupação com o problema, tratou do dilema moral ao produzir peças que estimulam o consumo e elencou seus esforços pela criação de um mundo mais sustentável. “Tenho três fazendas e, há anos, planto milhares de árvores nesses terrenos”, revelou. “Também estou fazendo um filme sobre a questão do clima, focado nos adolescentes, que será rodado no ano que vem”.

Artaxo, destacado participante do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, mais conhecido como IPCC, fez referência ao último relatório do grupo – o Clubeonline fez uma série, o Plantão #CodeRed para dar mais visibilidade a seus resultados e pedir comentários de profissionais do mercado e especialistas; entre eles, o próprio Meirelles (confira a última participação aqui). O documento mostra que estamos muito “próximos do precipício”, utilizando recursos naturais em volume muito superior ao que o planeta é capaz de suportar e regenerar.

A coisa pegou porque este estudo foi produzido numa linguagem mais acessível e mostra claramente a gravidade da situação”, explicou. “Essas transformações estão ocorrendo rapidamente, em todas as partes do mundo, provocando danos à economia e às comunidades humanas”.

De acordo com Meirelles, eventos recentes estão derrubando as teses negacionistas sobre o clima, mas os governos ainda estão trabalhando muito lentamente para reduzir os efeitos da degradação ambiental. “Há autoridades e empresas que fazem propaganda de suas ações, mas efetivamente ainda subsidiam setores que emitem poluentes, envenenam as águas e derrubam florestas”, afirmou. Segundo ele, chegamos a um ponto em que essas pessoas e instituições precisam ser expostas e denunciadas, como faz a ativista Greta Thunberg.

Artaxo lembrou que os cientistas não são bons comunicadores, e que cineastas, jornalistas e profissionais de publicidade precisam assumir a missão de mudar a cabeça do cidadão comum. “Não é uma coisa ruim que vai acontecer no futuro, mas algo que já está acontecendo”, disse. “O Nordeste brasileiro, por exemplo, está deixando de ser semiárido para ser árido, há países na África onde a vida já não é possível e o derretimento do permafrost liberará grandes quantidades de metano, agravando o efeito estufa”.

Meirelles revelou sua tristeza em imaginar que sua neta não verá as praias brasileiras, provavelmente submersas pela elevação do nível do mar. Lamentou que, em algumas décadas, a floresta amazônica cederá espaço a uma savana. “Mesmo sabendo dos meus esforços pessoais e de outras pessoas conscientes, me assusta o fato de que somente teremos uma mudança real se governos e empresas se empenharem nessa missão”, declarou.

Para o professor Artaxo, os comunicadores, particularmente os publicitários, precisam se engajar em uma alteração de paradigma no teatro das trocas econômicas.É necessário cessar o estímulo ao consumo irresponsável, volumoso e desnecessário”, disse. “É preciso mostrar para as pessoas que há felicidade mesmo longe do shopping center”.

Na opinião de Meirelles, já existem tecnologias para modificar muitos desses costumes e procedimentos nocivos. A divulgação dessas práticas não seria, entretanto, do interesse dos ricos conglomerados industriais e financeiros. “Eles investem pesadamente em think tanks que negam o impacto humano nas mudanças climáticas”, salientou. “Tendo a achar que só vamos nos reciclar pela pedagogia da dor, e que vamos efetivamente mudar quando não tiver mais jeito, depois de muito sofrimento”, previu.

Mais otimista, Artaxo acredita que os acontecimentos recentes exigirão uma resposta das próprias empresas. “A JBS, por exemplo, anunciou um alto investimento em preservação da Amazônia”, lembrou. “Mas o interesse é, sobretudo, econômico, pois muitos países ameaçam boicotar produtos brasileiros, como a carne”. De acordo com o cientista, o modo de produção e consumo atual está com os dias contados e exigirá uma rápida adaptação dos agentes econômicos.Ou fazemos um mundo sustentável ou fazemos um mundo sustentável, porque hoje não temos um planeta B onde possamos viver”, resumiu.

Walter Falceta

Todos os painéis do Festival do Clube 2021, realizado entre os dias 22 e 23 de setembro, foram transmitidos pelo Globoplay. O evento deste ano foi gratuito.

O conteúdo do Festival já está disponível na plataforma de streaming. Até o dia 27 de outubro - acesse a partir daqui.

Reveja a programação completa aqui.

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