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COP30, greenwashing e o papel da comunicação na emergência climática
Em um debate que conectou a urgência da crise climática com a responsabilidade da indústria da comunicação, o painel “Aquecimento COP30: seu impacto para o resto do século” reuniu especialistas de diferentes áreas para discutir os desafios e as contradições que marcam o futuro do planeta. A conversa, realizada durante o Festival do Clube de Criação, foi mediada pela jornalista Cláudia Tavares, do programa Repórter Eco, e contou com as participações de Alice Pataxó, Carolina Pasquali, Luciana Haguiara e Ricardo Cardim.
Cláudia abriu o debate contextualizando a gravidade do momento atual e o longo caminho percorrido desde as primeiras discussões ambientais. “Antes, os cientistas falavam em mudanças climáticas. Hoje a gente fala em emergência climática. Quem não viu as últimas chuvas em São Paulo, deslizamentos de terra no litoral, enchentes no Rio Grande do Sul, furacões, incêndios, ciclones? As coisas estão chegando”, alertou a jornalista, que lembrou também da importância da COP30, conferência do clima da ONU, que ocorrerá em novembro, pela primeira vez na Amazônia, em Belém, no estado do Pará.
Carolina Pasquali, diretora executiva do Greenpeace Brasil, apontou para o que chamou de “o grande elefante na sala”: os combustíveis fósseis. A profissional criticou a falta de compromisso de países e corporações em abandonar essa matriz energética, mesmo após acordos internacionais. "Sabe quando está todo mundo fazendo o louco? Os países estão dizendo 'Eu quero um dia, quem sabe, fazer essa transição, mas não quero falar quando, não quero falar como'", ironizou Carolina, apontando a contradição do Brasil em insistir em discutir a abertura de novas áreas de exploração de petróleo na Foz do Amazonas em vez de liderar a transição para energias renováveis.
O papel da publicidade na crise climática foi o foco da fala de Luciana Haguiara, fundadora da agência Nation. Com uma postura crítica sobre a própria indústria, ela defendeu que as agências assumam sua responsabilidade e se recusem a trabalhar com marcas que destroem o planeta. Luciana destacou como a publicidade, por décadas, foi a principal ferramenta para construir e vender um ideal de progresso intrinsecamente ligado ao consumo desenfreado e, consequentemente, à exploração predatória de recursos naturais. "A indústria da comunicação acelerou a ideia de progresso em cima de destruição".
Para Haguiara, a mudança real só virá quando os profissionais da área assumirem seu poder e sua cumplicidade com o problema, utilizando sua influência para desconstruir essa narrativa em vez de continuar a serviço de empresas que lucram com a degradação ambiental. Haguiara tocou na ferida e alertou sobre o greenwashing - prática de marketing enganosa em que uma empresa tenta parecer mais sustentável e ambientalmente correta do que realmente é - e citou diretamente a campanha "Energia Para Transformar" (aqui) da Petrobras que, segundo ela, promove uma imagem de "transição justa" enquanto a empresa segue sendo uma grande emissora de poluentes. "É muito estranho a gente olhar uma COP acontecendo onde a gente vê mineradoras, indústrias de petróleo e grandes indústrias da produção de carne patrocinando. É angustiante", desabafou.
O botânico e paisagista Ricardo Cardim alertou para um problema frequentemente ignorado: as mudanças climáticas regionais, especialmente nas cidades. Ele argumentou que o debate se concentra excessivamente em agendas globais e importadas, enquanto as metrópoles brasileiras sofrem com ilhas de calor e eventos extremos causados pela falta de biodiversidade nativa. “Quem não se lembra que São Paulo era a cidade da garoa? Hoje, São Paulo é a cidade dos eventos climáticos extremos. Por que isso? Porque a cidade se tornou extremamente árida, pouquíssimo verde”, explicou Cardim, defendendo um investimento maciço em arborização urbana com espécies nativas como a mais eficaz tecnologia para combater o calor e aumentar a resiliência das cidades.
Fechando o leque de perspectivas, a comunicadora indígena e embaixadora da WWF, Alice Pataxó, trouxe o olhar dos povos originários, cujos territórios são os mais preservados do país, mas que continuam sob ataque. Ela enfatizou a importância da participação indígena na COP30, mas também denunciou a cooptação de vozes e a dificuldade de a mensagem ambiental, na perspectiva dos povos originários, chegar de forma clara à população. “Enquanto a gente não começar a discutir e enxergar que a vozes indígenas estão sendo apagadas - e a propaganda está relacionada a isso -, a gente não vai avançar no discurso, no debate e muito menos na resolução dos problemas que a gente vivencia hoje”, afirmou.
O painel concluiu com um chamado à ação a todos os brasileiros, pois a esperança precisa ser acompanhada de mobilização e pressão popular para pressionar por resultados concretos na COP30 e além.
Fernanda Beirão
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