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Festival do Clube

O futuro da produção versus a evolução da IA

17.10.25

Em meio ao bombardeio de novas ferramentas e conteúdos, as dúvidas sobre o grau de transformação trazido pela inteligência artificial ao mercado de produção publicitária são proporcionais à pergunta mais frequententemente formulada: “Peraí: isso aqui é IA?”.

Se no discurso de alguns dos principais especialistas da nossa indústria ligados ao audiovisual o tom parece otimista e esperançoso, no ar, o clima ainda é de clara incerteza e preocupação – principalmente na plateia que preencheu o Auditório Criatividade do Festival do Clube 2025 para acompanhar o papo “Produção audiovisual versus Inteligência Artificial”.

Tentando materializar o que já é realidade em suas operações, os painelistas trouxeram exemplos práticos da aplicação atual da IA. Fernando Macedo, fundador e CCO da Spirit Animation, reforçou que “Só IA não existe para nós”, mencionando o desenvolvimento atual de um filme de 15 minutos “muito híbrido”.

Clara Gattone, sócia e produtora executiva da Broders, ressaltou a aplicação em processos mais dinâmicos, indo além da geração de imagens. “Às vezes, a gente acha que é um bicho de sete cabeças, mas há usos muito simples – desde apoio na parte criativa até a otimização de reuniões”. Na prática, ela mostrou um comercial de Hotmart, adaptado e turbinado pela tecnologia: “um filme que não teria sido feito se não fosse com IA”.

Na Spritz.AI, o uso também “está em tudo”: das reuniões à pré, produção e pós. Um dos focos está na busca por diferentes aplicações e no uso multidisciplinar, segundo o sócio-fundador e diretor criativo Vinicius Terranova: “a gente vê que o futuro do audiovisual passa por uma transformação das mídias, do tipo de linguagem e de em quais lugares a gente poderá usar”.

Uma das principais produtoras audiovisuais do mundo, a Hogarth também “usa IA em tudo”, segundo o diretor geral da operação no Brasil, Rafael Nasser, “de orçamento e precificação à pós-produção, storyboard, animatic, edição e pós”, além de desenvolver agentes proprietários para projetos especiais. “Vemos a IA como uma ferramenta que melhora o dia a dia do trabalho, indo além da escala humana – uma vez que é impossível criar 10 mil versões em tempo real, se não for assim”, crava.

No som, a IA também já é tão importante e aplicada quanto nas imagens – apesar de ser “mais invisível”, como considera Lou Schmidt, sócio da Antfood. Segundo ele, usa-se para tratar um som direto mal gravado, substituir um instrumento específico, mudar timbres e até criar coros com base inicial em uma só voz. Ainda assim, ressalta: “Fazer música generativa com IA ainda não é seguro, porque nenhuma plataforma nos garante que ela não terá pedaços de outras músicas ou obras de outros artistas”.

Vantagens e gargalos

Em diferentes disciplinas, o papo é o mesmo: a IA hoje ajuda a otimizar processos e aumentar produtividade. Com isso, ganhamos mais tempo para outras coisas, temos maior agilidade e podemos focar no que mais interessa.

Mas será verdade mesmo?

Com a IA, as pessoas vêm com pedidos cada vez mais surreais – e o prazo que você ganharia usando a tecnologia, passa a ser ainda mais curto. O mercado está se acostumando com o clima de empolgação do cliente, de que é possível fazer tudo”, alerta Macedo, da Spirit. “Ainda assim, está ficando muito mais acessível criar algumas coisas, como personagens e conteúdos”.

Para Gattone, da Broders, a questão vai além do uso da IA ou da câmera aberta: “Muitas vezes vai continuar sendo mais legal filmar. Porém, há muitas ideias que não existiriam se não fosse a viabilidade gerada pela inteligência artificial. Os criadores podem ter mais ideias e as veem tomando forma sem a necessidade de uma enorme quantidade de tempo e dinheiro”.

Schmidt, da Antfood, vai pela mesma lógica da experimentação. Cita, como exemplo, a dificuldade logística para ter um quarteto de cordas em uma produção mais simples ou com menos investimento – o que hoje pode ser feito com ajuda da tecnologia, em certo nível. “Não é igual, mas já dá uma noção boa”, diz.

Já Nasser, da Hogarth, destaca a volta do surrealismo como linguagem, incentivando novamente algo que havia se perdido: a criatividade sem limites. Além disso, a oportunidade de materializar um conceito de forma mais efetiva, buscando a aprovação: “Antigamente, você tinha que investir muito para tentar mostrar algo realmente palpável para o cliente. Agora, em uma tarde já dá para tentar estruturar algo que mostre de forma mais clara o potencial daquela ideia”.

Essa acessibilidade também ajudará na descoberta e desenvolvimento de novos talentos, acredita Terranova, da Spritz.IA. Para ele, “estamos entrando em uma era em que, através dessas ferramentas, muitos que não tinham espaço vão encontrá-lo e poderão mostrar seu talento”.

Um dos profissionais mais reconhecidos da indústria – e que participou da conversa como mediador –, o músico, diretor de cena e de criação Jarbas Agnelli, da Hungry Man, celebra a possível volta do que chama de “happy accidents”: aquilo que acontece “sem querer”, mas que é melhor que o planejado, quando permitimos a união entre criatividade e ousadia. “Sempre me preocupei muito com o craft e gostei de botar a mão na massa, aprender errando. Dá para ter um híbrido onde você continua usando sua habilidade como artista e vai testando novos caminhos”, pontua.

Terra de ninguém?

Apesar das novas oportunidades, do lado inclusivo e experimental, os receios sobre aplicação, uso e popularização da IA ainda são grandes – e precisam ser. Questionados sobre regulamentação, cuidados e riscos, os participantes buscam ainda um ponto de equilíbrio, mas dividem suas preocupações e sugestões para termos um mercado regulamentado e saudável.

A questão dos direitos autorais é muito séria”, levantou Macedo, da Spirit – mencionando, como exemplo, a polêmica em Hollywood com os atores 100% criados com IA, produções inteiras criadas e executadas pela tecnologia e a falta de definições de limitação sobre a quantidade de seu uso, bem como de manifestos de ética.

Nós, como indústria, vamos passar por um período em que teremos que nos autorregulamentar. Precisamos dar as mãos e combinar um jeito legal de fazer, além de ficar de olhos abertos e atentos ao que está acontecendo”, alerta Clara, da Broders, além de lembrar que já existe um "Guia de Boas Práticas", da Apro (Associação Brasileira de Produtoras de Obras Audiovisuais), leia matéria sobre o assunto aqui.

Schmidt, da Antfood, segue a mesma linha, acreditando que as gigantes da tecnologia precisam entrar no jogo: “Tem que ter alguma regulamentação. Num mundo dependente de todas as big techs, temos que aguardar a boa vontade deles em ajudar. Talvez um ‘Content ID’, detectável quando há algo com direito autoral usado”.

Já Nasser, da Hogarth, demonstrou maior preocupação – especialmente pela falta de lei e transparência. “Precisamos saber de onde as coisas estão sendo tiradas. Os clientes precisam saber da responsabilidade deles sobre o uso e a origem do que usam. Como indústria, temos a responsabilidade de levantar essa bandeira de que não está tudo bem. A hora de falar é agora, porque, depois que alguém decidir e implementar, a gente vira passageiro. Temos que ser mais proativos e discutir mais”.

Karan Novas

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Apoio (ordem alfabética): Anonymous Content Brazil; Artmont Creative Action; BETC Havas; Broders; Carbono Sound Lab; Casablanca Audiovisual; Corazon; Estúdio Origem; Fantástica Filmes; Felicidade Collective; Grupo Box Brasil; Grupo Tigre; Human; Jungle Kid; Magma; MiamiAdSchool; Prosh; Punch Audio; Stickman Studio, Sympla; Unlimitail; UOL; Zanca Films.

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