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A partir da indignação, Gavião Kyikatêjê FC vira conteúdo inspirador
Com uma história que encanta, o “Projeto Gavião Kyikatêjê: transformando indignação em criatividade" foi uma das atrações da programação do segundo dia do Festival do Clube de Criação.
Com mediação da atriz, transformadora social e consultora de diversidade indígena, Karina Duarte Puri, da Arte Selva Conexões, a mesa contou com a participação do diretores Faga Melo (Dirty Work), Luiz Whately (Balma Films), do CCO da Bumblebeat, Lucas Sfair, e de Victor Toyofuku, vice-presidente e diretor de criação da Area 23 NY.
Com eles estava ainda “Madson” como é conhecido Kokinire Haraxare, um dos diretores do time Gavião Kyikatêjê Futebol Clube, o primeiro clube de futebol profissional indígena do Brasil, formado em 2009. Kokinire - o nome dele foi escolhido pelo avô e tem um belo significado, de “abrir rios" e ter um vínculo com a água - também cuida da área de audiovisual do time de futebol.
E é exatamente em torno dessa modalidade esportiva que a história se desenvolve.
Longe de ser uma resposta a uma declaração infeliz e preconceituosa (explicamos mais abaixo), a história do Projeto Gavião, transformada em filme (veja abaixo), se tornou um conteúdo colaborativo e inspirador. E também premiado.
No Anuário de 2025, o trabalho, com duração de 4'53’', conquistou Ouro em Filme/Montagem, Prata em Sound Design, Bronze em Filme/Direção e Prêmio Anuário em Animação. Ou seja, bombou.
É tudo sobre uma história que revela o valor e a força cultural dos Kyikatêjê, notáveis por um espírito de resistência e uma das etnias indígenas que compõem um grupo maior, conhecido como Gaviões do Oeste ou Gaviões do Pará.
Importante começar pela indignação. Há pouco mais de um ano, em julho de 2024, um técnico de futebol da série A, o português Abel Ferreira, do Palmeiras, durante uma entrevista coletiva, se referiu aos indígenas para aludir à “desorganização” de seu time – usando a expressão pejorativa "não é um time de índios".
A declaração, obviamente, pegou muito mal, com forte repercussão negativa na imprensa e, rapidamente, mobilizou o grupo de publicitários que participou da mesa.
O pontapé inicial dessa mobilização foi dado por Victor Toyofuku, o Fukinho. Ele viu a repercussão e decidiu pesquisar sobre o Gavião Kyikatêjê.
"Que baita time", disse Toyofuku, lembrando sua reação ao se surpreender com tudo que aprendeu nas buscas pela equipe de futebol, inclusive a descoberta do perfil do Zeca Gavião, líder indígena e técnico do time, no Instagram, por onde tiveram os primeiros contatos. “Conversei com o Zeca e ele falou que seu povo estava pedindo uma resposta".
Toyofuku pensou inicialmente em sugerir apenas uma resposta em um tom “mais elegante". “Mas vamos fazer o quê?", ele se questionou. Foi com essa pergunta que ele começou o projeto.
“Parece simples, mas foi assim mesmo", ele conta, lembrando que uma das primeiras iniciativas foi fazer contato com o Lucas Sfair, que havia conhecido cerca de um mês antes, no Festival de Cannes. "Você gosta de futebol? Vamos fazer um projeto juntos?", ele perguntou. Lucas respondeu um sonoro “sim", mesmo sem receber qualquer pista vinda do outro lado da linha.
Voar mais longe
Três meses depois, Lucas soube dos avanços. Toyofuku já havia mobilizado outros profissionais que, junto come ele, foram mais fundo no universo Kyikatêjê, confirmando, cada vez mais, a percepção de estar diante de uma história excepcionalmente inspiradora, que merecia ser contada com uma outra perspectiva, sem a necessidade de ser propriamente uma resposta a um comentário xenofóbico, mas sim de mostrar o valioso mundo dos Kyikatêjê. “Tínhamos de contar a história deles como uma homenagem, para impulsionar o time a voar ainda mais longe”, resume Toyofuku.
“Em geral, o povo indígena ainda é invisibilizado, muito nichado. Quando se fala sobre diversidade, fala-se muito pouco sobre indígenas. A declaração do Abel incomodou muito", observou Karina, ao comentar sobre as conexões que ela realizou entre os publicitários e o povo Kyikatêjê.
Lucas Sfair conta que viu de forma imediata o potencial criativo do projeto. “Era fazer uma pegada meio Nike, com uma história incrível, de comunidade e de inspiração para ser mostrada", ele diz, contando que a produção sonora ganhou um processo totalmente colaborativo com músicos diversos, inclusive rappers do Pará, com sons das orações e rituais indígenas e de instrumentos próprios dos Kyikatêjê. “No total, o filme conta com 16 músicas", enumera Sfair.
O diretor Luiz Whately lembra que, quando conheceu a proposta do filme, ele estava abrindo sua produtora. "Fazia muito sentido entrar com tudo em um projeto como esse, misturando povos indígenas e futebol. A gente construiu um roteiro inicial que não tem nada a ver com a entrega final. Era mais sobre o Abel. Depois que fomos lá e conhecemos a aldeia, perguntamos “por que estamos falando do Abel?". Vamos mudar essa história. Fomos mudando tudo", ele conta.
Sentido metafórico
Faga Melo avalia que a indignação deu lugar a uma “atmosfera para experimentar”. “Tínhamos muitas incertezas sobre narrativas e técnicas, mas estávamos todos juntos e ficamos mais à vontade para pensar em inovação. O mais legal foi a imersão no povo Kyikatêjê. Propusemos uma narrativa paralela. Retratamos o time de futebol, mas queríamos trazer algo mais metafórico para a peça, procurando sintetizar a história deles no filme", diz.
O processo colaborativo ultrapassou o âmbito da produção e ganhou apoiadores de diversas áreas, incluindo o jornalista esportivo Mauro Beting, entre outros profissionais de comunicação, no momento em que os idealizadores definiram que, além de corrigir a indignação, o filme teria também o objetivo de buscar patrocinadores, a partir do conceito de brasilidade e da força do futebol. “A Band abraçou de forma abrangente", lembra Toyofuku.
Madson, o Kokinire Haraxare, afirmou que ao ver os profissionais da Dirty Work, da Balma e da Bumblebeat realizando o trabalho nas terras indígenas, ele se lembrou do surgimento do Gavião Kyikatêjê Futebol Clube.
Bem antes da fala de Abel Ferreira, houve um outro episódio de preconceito. “Na verdade, nosso clube existe por um outro caso de indignação", ele revelou, contando que vários indígenas passaram em um teste para jogar em clube profissional do Pará, mas, depois de aprovados, receberam a orientação de que só poderiam “tornar público” que eram indígenas, depois da assinatura do contrato - ou “haveria problemas".
Foi a partir dessa repressão que o Cacique Gavião tomou a iniciativa de formar um time para os Kyikatêjê. “Não foi criado apenas para o nosso povo, para o Gavião, mas para todos os indígenas", ressalta Madson.
Sobre a versão final do filme, Madson afirma que sempre reflete quando vê a parte da animação entrando pelos corpos dos indígenas. “Remete muito à nossa natureza, ao que pulsa. A gente vira ave. Somos natureza, somos de luta", ele finaliza.
Marcello Queiroz
Festival do Clube de Criação 2025
Patrocínio Master (ordem alfabética): Globo; Grupo Papaki; Warner Bros. Discovery
Patrocínio (ordem alfabética): AlmapBBDO; Antfood; Artplan; Barry Company; Boiler Hub; Cine; Galeria; Halley Sound; Heineken; Ilha Crossmídia; Jamute; Lew'Lara\TBWA; Love Pictures Company; Not So Impossible; Monks; Mr Pink Music; Netflix; O2; OMZ; Paranoid; Piloto; Publicis Production; Sadia; Sweet Filmes; The Clios; UBC - União Brasileira de Compositores; Unblock Coffee; VML Brasil
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