Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Acesso exclusivo para sócios corporativos
Ainda não é Sócio do Clube de Criação? Associe-se agora!
Literatura como ferramenta de expressão: atrevida, terapêutica e resistente
Foi um dos painéis mais elogiados e aplaudidos do Festival do Clube de Criação 2025. “A literatura como ferramenta de expressão individual e coletiva” reuniu um quarteto de escritores carismáticos e conquistou o público reunido no Memorial da América Latina.
A mediação foi realizada por Elizandra Souza, escritora, jornalista e poeta, integrante do Sarau das Pretas, empenhada em projetos de comunicação cultural na periferia, autora do elogiado livro “Quem pode acalmar esse redemoinho de ser mulher preta” (2021). Ao iniciar o debate, Elizandra expôs sua visão da construção literária que, nos dias de hoje, rompe antigos paradigmas e constitui novos protagonismos nas periferias. “Literatura é mais do que palavra escrita: é resistência e transformação, especialmente nas margens”, declarou. “É palavra que educa, que acolhe, que ganha as ruas, ferramenta de construção da liberdade”. Ela lançou provocações aos outros participantes da mesa, procurando desvelar o sentido da criação literária na vida de cada um.
Jessé Andarilho, criado em Antares, conjunto habitacional popular da Zona Oeste do Rio de Janeiro, contou de sua trajetória, de estudante rebelde, reprovado várias vezes na sétima série, até os dias atuais, em que se destaca como um dos mais criativos escritores do país. “Eu não jogava bola nem dançava, mas queria ser bem-sucedido”, narrou. “Até que um dia percebi que as pessoas paravam para me ouvir”. Ele se dedicava a um lava-jato na favela quando leu “No Coração do Comando” (2002), de Julio Ludemir, uma história de amor vivida no sistema penitenciário carioca. Depois, conheceu a obra “Zona de Guerra” (2009), de Marcos Lopes, que descreve a vida em meio à violência e pobreza da periferia paulistana, nos anos 1990, com foco no bairro do Capão Redondo, na Zona Sul. Inspirado por essas leituras, Andarilho resolveu contar suas próprias histórias e as redigiu em um aparelho de telefone celular. “Fiel" (2014) é um relato cru e realista das desventuras de um jovem envolvido no mundo do crime em uma favela do Rio de Janeiro. Andarilho criou o MargiNow, um movimento cujo objetivo é dar visibilidade e voz para as pessoas que vivem às margens da sociedade. O trabalho é realizado por meio de saraus, batalhas de rimas, lançamento de livros e outras atividades culturais. “Tudo que fazíamos era considerado arte ‘marginal’ e até tive que explicar esse conceito para minha mãe, dizer que era assim que chamavam as artes das favelas e periferias”, contou. “Aí, a proposta foi modificar esse termo, valorizar o que vinha da margem para o ‘now’, ou seja, para o agora”. Hoje, o escritor tem uma ativa agenda permanente na divulgação da literatura, especialmente em escolas e presídios. “Sempre ouvi falar que a rua ensinava mais do que a escola, mas não é bem assim”, ponderou. “O importante é juntar o conhecimento da rua e o da escola, e aí você se torna imbatível”.
Outra participante da mesa, Maria Vilani, escritora, filósofa, ativista cultural na periferia e fundadora do Centro de Arte e Promoção Social (CAPS), no distrito do Grajaú, extremo sul da capital paulista, nasceu em Fortaleza, no Ceará, e veio a São Paulo com o sonho de conquistar melhores condições de vida para a família. Tornou-se mãe de cinco filhos: Clayton, Kleber, Maria Aparecida, Cleane e Cleon Jr. Kleber se converteria em um incrível cantor, rapper, compositor, indicado a quatro prêmios Grammy Latino: Criolo. Na periferia, ela se convenceu da importância do trabalho comunitário. Era dona de casa e cuidava de crianças das mães trabalhadoras. Nessa atividade, atuava também na alfabetização dos pequenos. Retomou os estudos regulares aos 40 anos, decidida a concluir o ensino médio. Pouco depois, criou uma biblioteca comunitária e começou a promover diversas ações, como oficinas de artesanato e feiras culturais. Decidiu, então, trabalhar com a linguagem da poesia e, assim, reuniu escritores locais. Em 1990, nasceu o Centro de Arte e Promoção Social. Seguindo os estudos, Maria se tornaria bacharel em Filosofia. A primeira obra da artista foi o folhetim “Cinco Contos Sem Desconto e de Quebra Dois Poemas”, lançado em 1991. Depois, vieram outros títulos, como “Varal” (2012), “Penteando a Vida” (2016), “Abscesso” (2019) e o romance “Memórias de Maria e Mais um Pouquinho de Mim” (2022). No Festival do Clube, ela cativou o público por meio da leitura de alguns de seus poemas. Sobre o sentido da literatura, ela se manifestou assim: "A literatura é abrigo e espelho. Faz emergir sentimentos e desvenda mistérios. É um trabalho de cura, de criar perspectivas, de abrir portas e janelas. Quando coloco minhas aspirações em um sarau, falo com a carga das minhas emoções, do ser em si e do ser com o outro. Literatura é cura e expansão." Ela também tratou do caráter transcendente da arte poética. “Antes da ideia da escrita, há algo em uma aura que não acessamos”, afirmou. “Mas aí vem a poesia e nos usa para obter essa mensagem e mostrá-la ao mundo”. Segundo ela, a literatura é fundamental como ato político, ligando o presente às pontas do passado e do futuro. “É conhecimento convertido em sabedoria, é uma oportunidade de não nos perdermos de nós mesmos”, finalizou.
As manifestações sobre a arte literária foram concluídas por Thiago Peixoto, figura central do grupo Baderna e um dos idealizadores do coletivo Slam do 13, batalha de poesia falada que, há mais de uma década, agita o Terminal Santo Amaro. Além de poeta, Peixoto é comunicólogo, educador social, articulador de cultura, formado em Comunicação Empresarial e pós-graduado em Literatura Brasileira. É também integrante do grupo Poetas Ambulantes, que distribui poesias no transporte público paulistano. Recentemente, lançou o livro “Teimosia”, em que expõe os desafios de um pai artista, a aventura de fazer poesia nas ruas e a luta das vozes marginalizadas por justiça e igualdade. De acordo com Peixoto, a literatura é uma forma libertadora de brincar com as palavras e a poesia, em especial, pode ter uma função terapêutica na sociedade contemporânea. “É o caso dos poetas que atuam no transporte público, que usam suas palavras como ferramenta de transformação”, afirmou. “São sonhadores que conectam as pessoas e são capazes de mudar a realidade”. Peixoto foi muito aplaudido ao dizer seu mais famoso poema, dedicado ao filho: “Rimas para Isaac”, que termina com estes versos.
"Antes de jogar, cheque,
não mate sua buxa de duque
se é falando sério não brinque
se é mão de onze, não truque,
faça o link, dá um sac
de Tu Pac a Chico Buarque,
poesia é o melhor trambique
pra driblar o tic tac.
Mas cuidado Isaac
que que que que
rimar pode virar um tique,
se viciar de um breque,
saiba a hora de parar."
Walter Falceta Jr.
Festival do Clube de Criação
Patrocínio Master (ordem alfabética): Globo; Grupo Papaki; Warner Bros. Discovery
Patrocínio (ordem alfabética): AlmapBBDO; Antfood; Artplan; Barry Company; Boiler Hub; Cine; Galeria; Halley Sound; Heineken; Ilha Crossmídia; Jamute; Lew'Lara\TBWA; Love Pictures Company; Not So Impossible; Monks; Mr Pink Music; Netflix; O2; OMZ; Paranoid; Piloto; Publicis Production; Sadia; Sweet Filmes; The Clios; UBC - União Brasileira de Compositores; Unblock Coffee; VML Brasil
Apoio (ordem alfabética): Anonymous Content Brazil; Artmont Creative Action; BETC Havas; Broders; Carbono Sound Lab; Casablanca Audiovisual; Corazon; Estúdio Origem; Fantástica Filmes; Felicidade Collective; Grupo Box Brasil; Grupo Tigre; Human; Jungle Kid; Magma; MiamiAdSchool; Prosh; Punch Audio; Stickman Studio, Sympla; Unlimitail; UOL; Zanca Films.
Sem estas empresas, NÃO haveria Festival.
Siga o Clube nas redes sociais: Instagram, Facebook, X, LinkedIn, TikTok e YouTube (TV Clube de Criação).
Clube de Criação 50 Anos