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Festival do Clube

'Pssica' e a aventura de filmar nos rios da Amazônia

27.11.25

Pssica”, que significa “azar” ou “maldição”, é uma gíria do Pará usada quando alguém passa por uma série de experiências negativas na vida, que parecem inevitáveis.

Mesmo com um título que é uma expressão profundamente local, com um elenco praticamente desconhecido e falada em português, a minissérie “Pssica” (veja o trailer, abaixo) chegou às top 10 mais assistidas da Netflix em 68 países.

Somando quatro episódios, a série (que estreou em 20 de agosto) fala sobre tráfico de pessoas e exploração sexual, ao contar a história da adolescente Janalice, sequestrada por uma quadrilha e que luta para sobreviver e escapar de seus captores.

A produção é baseada no livro homônimo de Edyr Augusto e foi realizada pela O2 Filmes, numa coprodução com a Netflix. O primeiro desafio foi exatamente convencer a plataforma de streaming a embarcar no projeto, como contou a produtora executiva e sócia da O2 Andrea Barata Ribeiro, em painel que trouxe os bastidores das filmagens, durante o Festival do Clube.

A história por trás da história é tão interessante quanto a própria minissérie. “Os desafios começaram há 10 anos, em 2016, quando compramos os direitos do livro”, contou Andrea. Na época, a ideia era fazer um longa-metragem, mas a produtora não conseguiu – segundo ela, por causa do tema. Foram quatro anos de conversas para convencer a Netflix a fazer uma série, com quatro episódios.

A próxima dificuldade era adaptar o livro para o formato de série. “É uma obra muito densa, mas, para trazer a história para a linguagem do audiovisual, tinhamos que desenvolver melhor as personagens. No livro, o universo masculino era predominante, então pensamos: ‘por que não aumentar o universo feminino e dotar essas mulheres de mais força?’", contou a roteirista Stephanie Degreas.

Por ser uma história sobre tráfico sexual, ainda por cima envolvendo uma adolescente, houve extremo cuidado para não "fetichizar" a personagem, além da preocupação de fazer com que ela tomasse conta de seu próprio destino.

Esta é uma série que nos faz refletir sobre a força feminina e sobre um Brasil do qual a gente não fala, mas que está lá”, apontou Beta Harada, diretora executiva de criação da VML, que participou do painel como entrevistadora, junto com Daniela Ribeiro, CCO da WMcCann.

Os rios como cenários

Ao falar sobre a aventura de filmar nos rios da Amazônia, Andrea brincou que a produção não era um road movie, mas um boat movie.

Filmamos em rios, igarapés e furos [uma forma de canalização da água que se forma em rios], todo mundo embarcado. Dependíamos da tábua das marés para definir quando filmar”, lembrou a produtora, ao assinalar a colaboração da capitania dos portos, entre outras equipes de apoio, para garantir a segurança de toda a trupe.

A produção também trouxe de fora um time de coordenadores de ação, para as cenas com barcos e jet skis. Tudo isso em meio à preocupação de não tumultuar muito a vida das comunidades ribeirinhas durante as filmagens.

O cuidado foi redobrado com o elenco. “Como era um tema muito delicado, tivemos muito cuidado com as atrizes no set, inclusive contratando uma 'coordenadora de intimidade'. Queríamos que a produção fosse cercada de mulheres para proporcionar esse cuidado com as atrizes e com todas as mulheres da equipe”, contou Andrea.

Em se tratando da escolha do elenco, os produtores optaram por formar um grupo original, de atores e atrizes ainda pouco conhecidos. Para viver a protagonista Janalice, a atriz paraense Domithila Cattete passou por uma bateria de testes que durou três meses.

Foi uma honra ter sido selecionada para esse papel. Amo a Janalice com todo o meu coração. Ela é um reflexo da realidade que acontece há muito tempo com muitas mulheres, e que é invisibilizada”, afirmou.

Sucesso internacional

Segundo Stephanie, “Pssica” é uma minissérie que segue todos os fundamentos de roteirização, mas que, ao mesmo tempo, é muito brasileira.

Isso abre espaço para as nossas produções lá fora, que vêm de um legado anterior, de produções nacionais que já vinham abrindo esse espaço há um bom tempo”, reconheceu.

Outro fator crucial para a realização do projeto com nível de qualidade global foi a participação da Netflix, destacou Andrea. “Mesmo a gente, no Brasil, sabendo fazer muito com pouco, às vezes não dá para fazer uma produção de padrão internacional sem orçamento. Com a Netflix tivemos condições para fazer uma produção de alto nível.

O resultado agradou em cheio ao público. “Fiquei completamente apaixonada por ‘Pssica’", confessou Daniela Ribeiro.A série mostra como a sociedade não protege as meninas e as mulheres e nos faz lembrar que, por mais que a gente seja independente, nossos corpos não nos pertencem.

Eliane Pereira

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