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Por Rafael Rizuto, da Ogilvy Dubai
Ano passado, caiu um job meio estranho pra mim, ter que filmar as cenas de demonstração de um produto, um creme rejuvenescedor duma marca bem famosa. Tudo bem, mas até pra um simples job como esse passamos meses em reuniões de pré-produção e um monte de burocracia.
Pra começar o perrengue, tinhamos que usar a mesma modelo do filme original, o problema foi que fizeram esse filme há 3 anos na India e quando vimos a tal modelo descobrimos o quanto 3 anos fazem diferença na vida de uma pessoa. Quando o cara do online (pós-produção no computador) que estava no set a viu, fez aquela cara de "tô fodido" que todo mundo percebeu, inclusive a coitada.
Tudo deu certo, tudo lindo, tivemos "probleminha" com a maquiagem, mas o diretor deixou todos bem tranquilos dizendo que resolvia no computador. Todos menos o carinha do online que tava a ponto de voar no pescoço dele.
Filme pronto e editado, o produtor veio apresentar na sala de reunião, pra todo mundo, todo o time de atendimento, desde a account director até o final da fila, onde se puxa mais o saco, que é onde ficam os juniors account executives.
Foi um desastre! A coisa toda tava muito ruim, aquela balbúrdia se instalou, todo mundo se lamuriando como se fosse o apocalipse, confesso que senti um pouco de regogizo, uma espécie de vingança por todos os maus tratos passado na mão deles. Esse job era muito importante pra eles porque chegou uma nova marketing manager no cliente e esse seria o primeiro job que ela ia aprovar, a tal da Piuí. Tudo que eles queriam era impressionar a Piuí.
No final da reunião, meu diretor de criação olhou pra mim e disse: "Fodeu, você vai ter que ir lá amanhã de manhã e só sair de lá na hora de apresentar ao cliente as 3 da tarde com tudo perfeito". Me senti na pele do carinha do online agora.
No outro dia, cheguei na produtora, tudo era surreal desde o dono até o nome: Deja Vu. Vou começar pelo dono: um indiano de um metro e meio de estatura, falando um inglês com um sotaque muito forte e ainda por cima com a língua presa. Tudo o que ele falava merecia um briefing, porque eu não entendi porra nenhuma da primeira vez. A produtora parecia um bordel ou um puteiro de luxo, como chamamos em Recife. Tudo preto e vermelho bordeaux, veludo pra todo lado, um globo espelhado na entrada e no centro um enorme lustre de cristal vermelho.
A reunião com a tão temida Piuí estava chegando e as coisas ainda não estavam do jeito que eu queria. O produtor sempre me tranqulizando e o coitado do cara do online estava sofrendo forte, sendo esculachado em hindi (dava pra entender o significado só pelos gestos).
2h50 foi o limite, tínhamos que sair. Fomos no Aston Martin do cara, me senti no filme do James Bond e eu ainda instigando o cara a correr dizendo que pra adiar essa reunião só com um atestado médico.
3 em ponto chegamos. O atendimento como de costume chegou atrasado e com aquela cara de "estamos fodidos". Entramos na sala de reunião, tudo preparado pra chegada da temida Piuí.
Escutamos o toc toc do salto dela pelo corredor, estava imaginando uma dominatrix, mas, pra minha surpresa entra na sala uma filipininha pouco maior do que a cadeira em que ela ia sentar, com um sorriso largo e cheia de tranquilidade. Tudo deu certo, ela adorou. Grande Piuí.
Rafael Rizuto é diretor de arte da Memac Ogilvy Dubai