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IV Congresso Brasileiro de Publicidade

Tese de Guga Lemes, aprovada na Comissão Criatividade Brasileira

15.07.08

Não acredito que a função deste painel seja debater se nós, publicitários brasileiros, somos criativos ou não. O debate, a meu ver, deve ser sobre como aumentar nossa capacidade criativa. E isso está diretamente ligado à rentabilidade financeira das agências. Vou explicar.


Era um menino quando comecei minha carreira em propaganda. Estudei muito, não fui apadrinhado e tive de ralar anos para conseguir espaço na publicidade. Por tudo isso, acho que tenho liberdade para tratar deste assunto tão delicado.


O cenário que se desenha no mercado publicitário não é dos mais prósperos para a maioria dos profissionais de criação que passaram dos 40.


Nos últimos tempos, tenho visto pessoas com 10, 15 e 20 anos de experiência jogando seu currículo no lixo, em busca de uma vaga de estágio em uma agência. Na contramão, existe o “profissional sênior”, recém-formado, com dois anos de experiência, ocupando a vaga do primeiro.


Esse paradoxo deve ser analisado com cautela. Existem, sim, fatores positivos na mudança, como a renovação do setor e a reciclagem dos profissionais. Mas os pontos negativos são infinitamente superiores.


É notório que influenciou a “juniorização” do mercado a queda da rentabilidade das agências. Com um caixa menor, buscaram mão-de-obra mais barata e, por conseqüência, mais jovem. Ponto negativo para quem abriu mão da experiência.


Outro fator que fez o mercado virar de ponta-cabeça foi a entrada dos computadores nas agências. Quem não aprendeu rapidamente a operar os programas gráficos acabou perdendo o lugar para o assistente. É verdade que grandes talentos surgiram nesta época. Mas apareceram também avalanches de operadores, meramente técnicos, ocupando a cadeira de diretor de arte. Ponto negativo para os que substituíram a idéia pela técnica.


Hoje, a situação está mais ou menos assim: se você tem 20 anos de profissão, está velho para trabalhar em propaganda. Tem milhões de jovens com pique para trabalhar madrugadas adentro, sem reclamar, e para ganhar menos da metade do que você ganha. E, mesmo que você tope o desafio, a chance do júnior ganhar a vaga é maior.


É assustador. A perspectiva de continuar trabalhando no meio, para quem passou dos 40 (e não chegou a um cargo de importância), é pequena. Tenho amigos que viraram o jogo, indo trabalhar do outro lado do balcão, como anunciantes. Outros, foram para o interior para assumir o mesmo posto em agências menores. E alguns, mais afortunados, montaram seu próprio negócio.


No paralelo, a propaganda passou a ser um dos cursos mais disputados nas universidades. Pipocaram faculdades por todos os lados e, todo ano, milhares de jovens aparecem procurando emprego, estágio ou uma oportunidade de mostrar trabalho. Mas, infelizmente, não há vaga para tanta gente. Nem vaga de estágio.


Na propaganda, dizem que as grandes mudanças vêm em ciclos. Já faz alguns anos que a maré anda parada. Mas o IV Congresso Brasileiro de Publicidade está aí. E, em pouco tempo, vai dizer a que veio.


 


Propostas:


1 – Estagiário só deve ser contratado se estiver estudando. Os contratos devem ser fiscalizados por órgão do setor.


2 – Estagiário que cumpre papel de profissional deve ser efetivado como profissional júnior.


3 – O papel do estagiário deve ser clarificado. Estagiário está em etapa de aprendizado e o papel da agência é de ajudar na sua formação.


4 – Todo estágio deve ser remunerado com, pelo menos, 1 salário mínimo, mais despesas de transporte e alimentação.


5 – Estabelecer base mínima salarial para o profissional júnior e sênior de criação.


 


Guga Lemes


Agnelo Pacheco Comunicação

IV Congresso Brasileiro de Publicidade

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