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‘Jamais deixarei de filmar no meu país’

Carlos Manga Jr., diretor de cena e sócio da Republika Filmes

13.02.07

Clubeonline: Afinal, em meio a tanto 'diz que me diz', quais são seus planos internacionais?


Carlos Manga Jr.: O que acontece é que eu passo a ser representado, nos Estados Unidos e Europa, pela HSI Productions e estou muito feliz por isso. Eu tive outros agentes, nos dois últimos anos, mas agora concentrei minha carreira internacional na HSI. Vale lembrar que a Republika, minha produtora, também mantém acordos de parceria no Canadá, com a Blink Pictures, na República Tcheca, com a Film Services, e na Argentina, com a Trebejos Films.


Clubeonline: Então, na verdade, você não vai se mudar para Los Angeles nem há uma joint venture entre HSI e Republika? Trata-se de um acordo de representação?


Manguinha: Exatamente. Não sei de onde saiu isso tudo. Continuo aqui e nunca pensei em me mudar. Minha produtora está aqui, minha família mora aqui. Eu vou ter uma base em Los Angeles, outra em Nova York e outra em Londres, porque são essas as cidades onde há escritórios da HSI. Posso até passar 15 dias em LA, eventualmente, ou em Nova York, mas nada além disso. Aliás, nossos planos são de produzir aqui no Brasil a maior parte dos filmes que me forem repassados pela HSI. Isso deve acontecer em 50% das vezes. E não há joint venture nenhuma, imagina.


Clubeonline: Interessante essa possibilidade da HSI mandar filmes para serem realizados no Brasil...


Manguinha: Com certeza. É interessante dizer que a HSI já filmou muito na Argentina, mas o país está saturado, digamos assim, porque há um fluxo tão grande de produções ali que você chega e não consegue locar equipamentos, luz, câmeras, não consegue filmar nas locações mais procuradas, virou uma coisa bem complicada, quase caótica. Então, fiquei feliz de ouvir da própria produtora que eles querem dar espaço para o Brasil, em detrimento da super-lotada Argentina. Isso é muito bom pra gente. Há uma clara tendência de grandes produtoras e agências virem filmar no Brasil.


Clubeonline: E, sem querer ser 'puxa-saca', é muito bom saber que você não vai se afastar do nosso país e do nosso mercado. Seu olhar faria falta por aqui.


Manguinha: Jamais deixaria de filmar no meu país, pras agências daqui, isso nem se discute. Além do que, a própria HSI quer ver sempre novidades bacanas no meu repertório, que eu tenha realizado aqui. É óbvio que eles gostaram da minha mão, da minha gramática, mas a pegada brasileira dos filmes que formam meu rolo é para eles meu maior diferencial, a ser apresentado ao mercado internacional. O que é criado no Brasil é que faz do meu repertório algo especial. O brasileiro é muito criativo e a liberdade e a autênticidade do que se cria por aqui, em algumas agências, chama muito a atenção, lá fora . Eles (a HSI) sabem que meu repertório sempre terá novidades interessantes. Lá fora tem muita grana e prazos melhores, mas isso não é tudo, sem criatividade não se chega a resultados satisfatórios. Nem todas as agências lá de fora chamam-se Wieden+Kennedy, Crispin, Porter + Bogusky ou TBWA Chiat  Day. Ou seja, nem todas são realmente criativas, embora trabalhem com gordos orçamentos. E eu sei que sempre terei filmes criativos e diferenciados para fazer por aqui e apresentar ao mercado internacional, com muito orgulho. O que sou hoje devo aos criativos brasileiros. Por aqui, pude arriscar na textura, no olhar, na narrativa de meus filmes e alcançar resultados dos quais gosto muito.


Clubeonline: O Leão de Ouro conquistado por você, em 2006, no Festival de Cannes, com Alzheimer, filme criado pela Leo Burnett de Portugal, ajudou a abrir essas portas internacionais?


Manguinha: Sem dúvida, ajudou, claro. Mas antes deste eu já tinha conquistado outros quatros, e esses por filmes criados por agências brasileiras.


Clubeonline: Diretores de comerciais brasileiros costumam ser criticados dentro do nosso mercado. Tem sempre alguém pra dar uma jogada pra baixo. Parece bacana a HSI mostrar que não é bem assim.


Manguinha: Pois é, sempre rolam aquelas comparações com os diretores de outros países, e essa discussão sobre talento, prazos e verba nunca tem fim. Mas a verdade é que essa proximidade com a HSI também será uma maneira de trazer para toda a equipe da Republika um know-how internacional, afinal, tanto eu vou compartilhar minhas experiências com toda a equipe, quanto eles vão conviver, aqui, com equipes de diversas partes do mundo, o que é muito enriquecedor, sem dúvida. Os outros diretores da casa também vão ganhar muito com isso, e a Republika tende a se tornar, como eu sempre quis, uma cidadã do mundo. Minha torcida é que comece a acontecer por aqui, no nosso país, o que rolou na Argentina, onde hoje os diretores e as produtoras são locais, mas trabalham o tempo todo com gente de tudo quanto é canto do mundo. Essa oportunidade que me apareceu, considero mais como algo institucional, para minha carreira, minha produtora e meu país. Eu aceitei esse convite da HSI porque não há um diretor brasileiro que não aceitasse. Isso mostra que nosso mercado pode exportar talentos, também, não só do ponto de vista da criação, mas também da produção. É a primeira vez que uma produtora do porte da HSI contrata um diretor brasileiro, e não para trabalhar para o mercado latino, mas sim, para os mercados norte-americano e europeu. Se o Fernando Meirelles e o Walter Salles abriram as portas do mundo para os nossos diretores de cinema, quem sabe agora as portas não começam a se abrir para os diretores de publicidade, também.

Clubeonline: Esse convite te pegou de surpresa?


Manguinha: Não exatamente, isso é algo que venho semeando, faz tempo, mas fiquei muito feliz por minha paixão e obsessão pelo que faço terem me trazido um convite como esse. Dirigir campanhas me dá muito prazer, cada vez mais. A combinação da criatividade com o talento na realização é poderosa. E até queria registrar que achei muito bacana receber diversos telefonemas de criativos brasileiros me parabenizando por esse acordo com a HSI. Fiquei feliz, mesmo, pelo apoio que recebi.


Clubeonline: E que produções estão na sua agenda, por hora?


Manguinha: Acabei de fazer uma campanha grande para HSBC e estou envolvido numa campanha de Motorola, no momento. Também estou orçando duas campanhas internacionais, uma delas para ser produzida no Brasil. Estou orçando também para uma grande agência de Buenos Aires, mas, acredite, para realizar o filme aqui em São Paulo. Olha que interessante.

Clubeonline: Algo mais?


Manguinha: Só queria contar que vamos representar diretores estrangeiros aqui no Brasil, via Republika, assim como já acontece com o argentino Marcelo Szechman.


 Comentários

marlon klug - excelente para o manguinha, excelente para o mercado brasileiro. marlon@corporacaofantastica.com


Toniko - Aí Manga ! Vc está pondo a prova aquele nosso papo de ponte aérea (lembra?) de que as produtoras brasileiras deveriam acordar e parar de vender só hardware e passar a vender tbem o software (nós). Parabéns pelo salto. Ab Tk toniko@o2filmes.com


 cesar netto - manguinha parabens pela carreira e pela parceria... acredito realmente que ta na hora da gente resgatar e mostrar ao mundo que aqui tambem se faz bons fimes e tambem se conta boas historias...cesar netto cesarnetto@gmail.com


 


 


 



 

‘Jamais deixarei de filmar no meu país’

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