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Mafalda, 55 anos

Personagem criada por Quino era parte de campanha

30.09.19

Uma garota pequena de opiniões fortes e visão crítica do mundo completou 55 anos neste domingo, 29. É Mafalda, personagem do argentino Quino. Originalmente criada como parte de uma campanha publicitária - que nunca veio a público -, a menina de seis anos, de cabelos pretos e que odeia sopa teve sua primeira aparição na revista Primera Plana, cerca de um ano depois de ter sido elaborada por encomenda.

Quino, nascido Joaquín Salvador Lavado Tejón, trabalhava com outro desenhista, Miguel Brascó, quando seu colega foi procurado pela agência Agnes Publicidad, em 1963. Os criativos planejavam uma história com uma família constituída de pai, mãe e um casal de filhos para a marca Mansfield. A ideia era promover uma nova linha de eletrodomésticos por meio de quadrinhos que tivessem um pouco do perfil dos personagens de Snoopy. O primeiro nome que veio à mente foi Brascó. O desenhista disse para a agência que esse trabalho não tinha nada a ver com o que fazia normalmente. Então, propôs que o job fosse passado a Quino.

A agência pediu a Quino que os personagens criados tivessem nomes que lembrassem a marca. Ou seja, que começassem com a letra “M”. Quino estudava alternativas até uma noite em que viu um filme onde aparecia uma bebê chamada Mafalda. Naquela hora, escolheu o nome da garotinha que se tornaria tão emblemática não apenas para o cartunista como para a própria história dos comics na América Latina e no mundo.

A campanha acabou não saindo e as tirinhas foram parar numa gaveta de Quino. Em 1964, o chefe de redação da Primera Plana se aproximou dele perguntando se não teria algo diferente para as páginas de humor. O cartunista se lembrou da família de classe média que havia criado. Depois de conversar com o chefe, ele decidiu dar protagonismo a Mafalda.

Menos de um ano depois, no dia 9 de março de 1965, a garotinha foi para as páginas do jornal El Mundo. Quino produzia seis tirinhas por semana e o sucesso da menina contestadora, defensora das mulheres, da democracia e fã de Beatles alcançou sucesso que cruzou as fronteiras. Na Itália, em 1969, o primeiro livro de Mafalda teve a apresentação de Umberto Eco.

Apesar do sucesso internacional, que levou a personagem a ser traduzida para dezenas de idiomas, isso não impediu Quino de tomar uma decisão que surpreenderia. Em junho de 1973, o cartunista resolveu que não desenharia mais Mafalda. Mais ou menos como fez Bill Watterson com o pequeno Calvin e seu tigre Haroldo, muitos anos depois, em 1995. Mas, ao contrário do desenhista americano, Quino autorizou novas produções com a personagem. Em 1993, a espanhola D.G. Producciones, em coprodução com a Televisiones Españolas, lançaram 104 episódios da versão animada de Mafalda, em desenhos de um minuto de duração.

Sobre a decisão de deixar de desenhar a menina, Quino já declarou - como lembra o Clarín (leia aqui) - que fazer HQ não é o mesmo que fazer uma página de humor ou uma charge. Os quadrinhos se tornam mais rotineiros, o que transforma o trabalho em algo mais limitado. “A HQ obriga a desenhar sempre os mesmo personagens e na mesma medida. É como se um carpinteiro tivesse que fazer sempre a mesma mesa. Eu queria também fazer portas, cadeiras, banquinhos. Uma vez me perguntaram se eu não pensava em ressuscitá-la. Mas ressuscitá-la significaria que está morta. Ninguém tem dúvidas de que ela está bem viva”, declarou o cartunista.

Mafalda, 55 anos

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