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Mano Brown, entrevistador

Projeto reuniu Boogie Naipe, Gana, Mugshot e Spotify

24.08.21

Durante a pandemia, com shows suspensos, o rapper Mano Brown, do grupo Racionais MC’s, dedicou-se a estudar vários assuntos em casa. Entre eles, ancestralidade, religião e música. Depois de um tempo mergulhado nesses temas, ele “despejava” o que tinha aprendido em família. Era tanto conteúdo que sua mulher, a advogada Eliane Dias, sugeriu que criasse um podcast para compartilhar suas reflexões.

Essa história ocorreu há cerca de um ano. Como Brown não disse “não” à proposta, Eliane, que é CEO da produtora Boogie Naipe - que cuida da carreira do rapper, dos Racionais e de outros artistas , orientou o filho Kaire Jorge, diretor da empresa, a começar a desenvolver o projeto. A partir daí a ideia evoluiu, envolvendo mais dois parceiros, a agência Gana e a produtora Mugshot, e, na sequência, o Spotify, que imediatamente embarcou na proposta e se tornou produtor do podcast Mano a Mano, um conteúdo do selo Original, que estreia nesta quinta-feira, 26. Nele, o rapper se torna entrevistador.

Trata-se do primeiro entrevistador preto a ocupar um espaço de destaque, com alcance massivo, pontuou Ary Nogueira, co-CEO e co-CCO da Gana. Com o novo desafio na carreira de Brown e mais a lista de convidados da primeira temporada, a expectativa é gerar muita repercussão.

Na estreia, a conversa é com a cantora Karol Conká, que teve o maior índice de rejeição do Big Brother dentre todas as versões do reality no mundo (99,17%, registrado no BBB21). Outro convidado é o controverso vereador paulistano Fernando Holiday, famoso pelo Movimento Brasil Livre (MBL), do qual já se desligou.

Como as parcerias surgiram

Colocar um podcast “na rua” não é algo que costuma ocorrer em uma agência convencional. Para a Gana, que abriu suas portas na pandemia, é importante fugir do tradicional, do modelo do passado. “Nosso caminho é o da reinvenção”, afirmou Nogueira.

O fato é que o caminho da agência se cruzou com o da Boogie Naipe na época em que ainda eram conhecidos como Coletivo Gana (um grupo de profissionais negros que se reuniam com o objetivo de potencializar a criatividade preta na publicidade brasileira) e foram chamados para criar a campanha da chegada do canal Trace Brazuca. O filme utilizou um trecho da canção “Negro Drama”, dos Racionais. Quando a ideia do podcast surgiu, Eliane e Jorge sabiam onde procurar um parceiro para o projeto.

Além disso, a publicitária Renata Hilário, apresentadora do podcast Meteora e da equipe de marketing da Ambev, que colaborou com a Gana em alguns jobs, já havia sugerido o formato para a agência. Com sua expertise, ela entrou para o projeto no time de produção executiva (veja a Ficha Técnica).

Quem também se juntou ao grupo foi a Mugshot. Gilvana Viana, cofundadora da produtora, tinha sinalizado para a Gana que poderiam produzir podcasts. Desse modo, as parcerias foram construídas para a formatação do projeto.

A primeira reunião foi matadora. Todo mundo estava pronto. O Brown já tinha ideia do que queria fazer. Ele já queria falar com o Holiday”, lembrou Ary. Com o podcast ganhando forma, era preciso viabilizá-lo. A primeira empresa que veio à mente foi o Spotify. O casamento estava acertado entre todas as partes, que trabalharam em conjunto para levá-lo ao ar.

Foram definidos pilares do programa. Uma das premissas é que ele não seria só sobre o mundo preto, como contou Renata. As temáticas são: música, sociedade, cultura, religião, esporte e política. E Brown determinou: as entrevistas seriam para ampliar debates. Portanto, o espaço estaria aberto para pessoas e assuntos polêmicos.

Na apresentação do Original Spotify Mano a Mano, feita nesta terça-feira, 24, Mano Brown reiterou esse posicionamento. “Não vi BBB, mas ouvir uma pessoa com a rejeição que a Karol teve, isso me interessa muito. Holiday é um cara de quem discordo. Mas ninguém queria ouvi-lo. Ele é uma inteligência negra, que falou coisas erradas – e acho que ele nem pensa mais assim. Ele também me interessa”, contou.

O rapper ressaltou que é preciso conviver com pessoas diversas. Eleitores e políticos de linhas ideológicas distintas – no caso de Brown, os que se definem como de direita - estão praticando o que pensam, estão nas ruas. “A gente tem de dialogar com essas pessoas. Não é massa para se desprezar”.

Ele também salientou que há temas em que não há como se acovardar. Brown não irá esconder seu ponto de vista. No entanto, fez questão de esclarecer que não está fechado para outras opiniões.Há momentos em que tenho de me posicionar, mas tenho aprendido muito. Não estou fechado a outras ideias”.

A primeira temporada tem 16 episódios, que irão ao ar semanalmente, toda quinta-feira. Estão na lista de entrevistados o médico Drauzio Varella, o pastor Henrique Vieira e o técnico de futebol Vanderlei Luxemburgo. Brown revelou ainda, na apresentação (que pode ser vista aqui), a participação do trio santista Juary, Gilberto Sorriso e Pita, da primeira formação dos chamados “Meninos da Vila”.

Como observou Javier Piñol, diretor do Spotify Studios na América Latina e para o mercado latino nos EUA, o Brasil é um dos mercados de podcast em ascensão, com potencial para crescer ainda mais. “Ficamos muito felizes em ver que o mercado avança e se desenvolve para trazer novos temas e formatos aos nossos usuários.”

Para ele, Mano Brown é uma das vozes artísticas mais importantes do país, com capacidade de dialogar com diferentes gerações. A expectativa, portanto, para a nova atração da plataforma é grande. “A proposta deste Original Spotify é criar um tom intimista, mais próximo de conversas do que de entrevistas, com um conteúdo verdadeiramente relevante e capaz de estabelecer diálogo com diferentes públicos. Esperamos uma troca vívida entre Mano e seus convidados e a repercussão faz parte disso”, disse.

Experiência e engajamento

Embora o podcast ainda não tenha estreado, a experiência já está rendendo dividendos. O trailer do programa, na voz de Brown e com direito a trechos dos convidados (ouça aqui), está entre os destaques da plataforma na aba de mais escutados. Eliane Dias afirmou que está passando por um intensivão de informações. “Com esses parceiros, estou tendo muito conhecimento técnico. No início, achei que tudo seria mais complicado, mas estamos todos na mesma sintonia”.

O podcast é uma das apostas da Boogie Naipe neste ano. A produtora planeja ainda um evento chamado de Boogie Week, que será uma semana de cultura preta, como disse Eliane, sem adiantar muito. O foco está concentrado agora no Mano a Mano. A produtora também está trabalhando em um novo álbum de Brown, porém não dá mais detalhes.

Gil, da Mugshot, acrescentou que a experiência tem gerado um acréscimo cultural e social para a produtora. “Já tinha noção da potência do Brown, mas com cada convidado parece haver um diálogo com amigos. Ele respeita e é respeitado”. A Mugshot teve de fazer adaptações em sua estrutura, para ampliar o espaço, permitindo o acesso dos convidados do rapper no estúdio, e garantindo medidas de segurança contra a covid-19.

Com as informações dos futuros entrevistados de Brown já circulando na mídia social, a Gana colheu as primeiras impressões. A presença de Holiday, por exemplo, ampliou as conversas captadas desde que o lançamento de Mano a Mano foi divulgado (leia aqui sobre o anúncio), multiplicando o engajamento por quatro. “A gente acredita no poder da diversidade que o podcast vai levar para o público”, finalizou Ary.

Ficha Técnica

Original Spotify Mano a Mano
Direção criativa: Agência Gana
Produção executiva: Renata Hilario, Gilvana Viana, Kaire Jorge e Eliane Dias
Produção: Mugshot e Boogie Naipe
Produtoras: Jaque de Paula e Tainá Vieira
Consultoria jornalística: Semayat Oliveira
Direção: Arthur Abrami
Edição: Leandro Rodrigo e Henrique Oliveira
Música original: Bruno Zibordi, Francisco Reginato e Mauricio Herszkowicz
Identidade visual: Colletivo (arte) e Pedro Dimitrow (foto)

Mano Brown, entrevistador

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