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Match profissional

Startup de RH irá ampliar base de talentos negros

07.10.20

Com as transformações da indústria de comunicação, é comum a busca por profissionais que tenham habilidades específicas e que possam garantir a entrega de resultados satisfatórios. Porém, muitas vezes essa sondagem é custosa. Em meio a diversas ofertas, encontrar o perfil que se deseja demanda mais tempo de busca.

Startup definida como HR Tech, a Creators propõe uma nova forma de contratar e receber trabalhos. O termo “HR Tech” se aplica quando funções de RH são integradas a novas tecnologias para aumentar a eficiência, a inteligência do setor e otimizar processos, melhorando resultados. O foco da startup é estruturar o modelo freelancer, com acordos claros e seguros entre os profissionais e os clientes.

Fundada em 2017 pelo publicitário Rodrigo Allgayer, a Creators ganhou uma sócia dois anos depois: Nohoa Arcanjo, profissional de marketing com atuação no mercado de comunicação e de moda. Ela passou a ser responsável por marketing, vendas e liderança de comunidade. Em setembro, a Creators recebeu apoio do Black Founder Fund, iniciativa do Google para investimento em startups fundadas e lideradas por empreendedores negros e negras no Brasil – no caso, Nohoa.

Com isso, o negócio poderá ser ampliado com mais pessoas negras, com a meta de chegar a 50% da equipe. Também será aumentada a diversidade da base de talentos. O modelo de trabalho da Creators envolve curadores, que tem reconhecimento do mercado de comunicação. Entre eles estão Gabriel Klein, head of creative da Vice Brasil, e Monique Evelle, autora do livro "Empreendedorismo Feminino: Olhar estratégico sem romantismo", idealizadora da Desabafo Social, laboratório de tecnologias sociais, e sócia da Sharp, hub de inteligência cultural.

A plataforma recebe apenas profissionais sênior, selecionados por recrutadores humanos e chancelados por esse time de curadores, que faz a seleção de currículos e portfólios. Eles também trazem para a rede freelancers com quem já trabalharam. A startup usa algoritmos que identificam as habilidades requisitadas e em 24 horas promove um match entre profissional e cliente, fazendo a mediação da relação entre as partes do início ao fim do projeto.

A Creators aconselha os contratantes em relação ao briefing, escopo e valor de cada de trabalho, fornece canal de comunicação para que contratante e candidato conversem e possui gateway de pagamento integrado, evitando que o freelancer se preocupe em cobrar o cliente.

Além disso, a startup oferece o suporte de um recrutador de talentos para ajudar nas seleções mais especializadas. Se o match não funcionar bem durante o projeto, a Creators garante a substituição do profissional. Para o freelancer, a plataforma oferece o pagamento proporcional aos dias trabalhados em caso de cancelamento do contrato.

Entre os profissionais mais requisitados da plataforma estão redatores (24,8%), diretores de arte (24,5%), designers gráfico (10,0%), planners (9,7%) e programadores (6,6%). Em três anos de operação, a startup conta com cerca de 2.000 profissionais validados e mais de 50 clientes, dentre eles marcas como Pernod Ricard, Vice, UOL, e agências como CuboCC.

O Clubeonline entrevistou Nohoa sobre sua carreira e o mercado de trabalho. Mais abaixo, veja o vídeo-manifesto da startup.

Clubeonline - Como foi sua trajetória até o momento atual, como empreendedora negra no comando de uma startup que une talento e tecnologia?
Nohoa Arcanjo - Não sou uma startupeira de berço. Eu era do mundo corporativo como executiva de marketing, onde pude colaborar com marcas nacionais e internacionais, como a Joalheria Pandora, minha última parada antes de empreender. Até que fui picada pelo bichinho da startup. Tinha uma carreira em consolidação e me tornar empreendedora foi uma super decisão que tive de tomar. Trocar o até então certo do mundo corporativo pelo incerto da vida de startup não foi uma decisão fácil. Mas, já decidida, comecei a me preparar. Depois de cinco anos em multinacional, conversei para me desligar, peguei minha rescisão, fiz um pé de meia para segurar as pontas e me juntei a meu sócio, Rodrigo Allgayer. Foi uma escolha arriscada, mas da qual me orgulho muito. Pois me apresentou um novo mundo de possibilidades e aprendizados infinitos. Hoje sou sócia-fundadora da Creators Trusted Creative Net, plataforma que busca transformar o modelo de contratação de criativos sob demanda. Como cofundadora negra de uma startup, vejo que é notória a falta de pessoas negras prontas para dialogar tecnicamente sobre assuntos que giram em torno da transformação digital. E precisamos cada vez mais ocupar estas posições no ecossistema de tecnologia, pois é a nossa participação ativa nestes diálogos que nos garantirá a permanência nos espaços que recentemente temos conquistado. O futuro da sociedade é estarmos cada vez mais conectados. Por isso, a inclusão digital e tecnológica é essencial para que as minorias participem das tomadas de decisão neste futuro próximo. Tenho a oportunidade de inspirar outras pessoas do meu perfil a se aventurarem na tecnologia com a possibilidade de resolver dores em larga escala.

Clubeonline - O que significa a ajuda de um fundo como o Black Founder Fund para o negócio? Ele ajudará a impulsionar mais carreiras de profissionais negros?
Nohoa - Receber este investimento significa receber um aval do mercado para soluções desenvolvidas por pessoas não brancas, trazendo outros pontos de vista aos problemas da sociedade atual e potencializando o impacto da solução investida. E, se esse investimento vem de empresas como o Google, esse peso é muito maior. Segundo pesquisas da Freelance Union, a força de trabalho do modelo independente adiciona por volta de US$ 1 trilhão todos os anos à economia norte-americana. Por aqui, embora o formato venha crescendo a olhos vistos, ainda não é possível mensurar de maneira precisa seu impacto na economia. Na Creators, já movimentamos cerca de R$ 3 milhões na plataforma. É um cenário muito promissor. Nossa ideia é investir no crescimento da startup, aumentando o time com o compromisso de contratar 50% de pessoas negras e também aumentar a diversidade da base de talentos com a ajuda de um modelo de negócios proprietário, no qual remuneramos curadores renomados no mercado da comunicação - que nos indicam talentos com quem já trabalharam - e fazem a seleção dos melhores currículos e portfólios. Neste modelo, focamos em curadores com perfis diversos pois acreditamos que os talentos estão em todos os lugares.

Clubeonline Como funciona exatamente uma HR Tech?
Nohoa - O termo começou a ser usado para designar funções de RH integradas às novas tecnologias, com a finalidade de aumentar a eficiência, a inteligência do setor e otimizar os processos, melhorando os resultados. Assim, o principal objetivo de uma HR Tech (Human Resources Technology) é desburocratizar os processos realizados por meio de soluções que possibilitem que a equipe trabalhe de forma cada vez mais ágil e segura. A Creators propõe uma nova forma de contratar e receber trabalhos sob demanda nas áreas da comunicação e tecnologia. O foco é conectar os melhores talentos do mercado a empresas admiradas, estruturando o mercado freelancer e promovendo acordos claros e seguros entre profissionais e clientes. Nosso objetivo maior é ser a rede mais segura para este tipo de contratação. A plataforma faz o match perfeito em até 24 horas. Oferecemos suporte no recrutamento e na mediação da relação do início ao fim do projeto. Aconselhamos do match ao briefing, escopo e valor de cada de job. Nosso gateway de pagamento integrado evita que o freelancer se preocupe em cobrar o cliente, evitando relações desconfortáveis para ambos. Nossos profissionais são chancelados por um time de curadores super renomados. Inclusive, a gente montou um business model de curadoria com remuneração para indicações de talentos. Vários desses curadores têm a missão de povoar nossa comunidade com diversidade de talentos de altíssimo nível, fortalecendo ainda mais as oportunidades para mulheres, negres e LGBTQIA+ na comunicação e tecnologia.

Clubeonline - Os trabalhos de freelancers vão aumentar ainda mais sob efeito da pandemia? De que modo esses profissionais podem ampliar suas chances de 'dar match' e encontrar oportunidades em um cenário futuro que sugere grandes desafios para empregadores e para trabalhadores?
Nohoa - A maioria dos talentos de nossa comunidade relata ter escolhido o lifestyle de trabalho independente por conta do crescimento pessoal, da flexibilidade de horário e da liberdade criativa. Em contrapartida, engana-se quem pensa que o freelancer é alguém despreparado, que não se encaixa no mercado formal por não ser qualificado. Ao contrário, 60% dos profissionais que atuam no formato são graduados e pelo menos 20% possuem certificado de curso técnicos ou profissionalizante. Além disso, nos últimos três anos o número de MEIs triplicou no Brasil, que já está percebendo a força da economia do talento independente. Nós somos um país em que o freela ainda é um bico, mas, na verdade, temos uma pesquisa que mostra que é a renda principal de muitas famílias. Um profissional independente ainda não tem o reconhecimento e respeito de um profissional CLT e enfrenta muitas burocracias para mostrar que tem um emprego estável e isso cria uma sensação ruim de instabilidade no cenário, quando o que falta é uma forma de regularizar e dar suporte para essas conexões, fortalecer essa comunidade. A regulamentação e humanização do talento independente de comunicação e tecnologia é urgente; queremos ser a plataforma que traz qualidade e fidelidade para essas contratações e que seja um dos pilares dessa mudança. Um dos maiores medos ao decidir encarar a carreira freelancer é a precarização. Sem uma legislação clara, benefícios como aposentadoria e seguro saúde se tornam difíceis de manejar. Nesse sentido, algumas proposições já vêm sendo feitas, mas nada ainda saiu do papel.

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