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Riscos de vício para jovens teriam sido ignorados
A Meta está em situação cada vez mais complicada em processos movidos por procuradores de 41 Estados nos EUA, abertos em outubro. As ações acusam a big tech de explorar ferramentas em suas plataformas que seriam capazes de viciar jovens no uso das redes e que têm potencial de afetar a saúde mental desse público. Agora, documentos apontam que a companhia teria sido alertada internamente sobre os potenciais riscos com as estratégias e tecnologias que estavam sendo adotadas, porém não alterou seus planos, e que teria ignorado um número massivo de menores de 13 anos criando contas no Instagram, o que infringe suas próprias regras.
O The Wall Street Journal revelou, no sábado 25, ter acessado documentos internos e sigilosos que indicariam que a gigante tecnológica projetou produtos que poderiam tirar proveito de certas vulnerabilidades psicológicas de adolescentes, como predisposição a impulsos e suscetibilidade à pressão de colegas.
Um desses documentos é uma apresentação de 2020 feita pela empresa. “Adolescentes são insaciáveis quando se trata da sensação de bem estar da dopamina”, consta no material, referindo-se ao neurotransmissor associado ao prazer. “Cada vez que um de nossos usuários adolescentes encontra algo inesperado, seus cérebros fornecem uma dose de dopamina", prossegue a apresentação.
Os efeitos sobre o bem estar de adolescentes mais jovens chamaram atenção de alguns executivos, que estavam envolvidos com esse assunto na companhia. “Não são os ‘agentes reguladores’ ou os ‘críticos’ que pensam que o Instagram não é saudável para os jovens adolescentes. São todos, de pesquisadores a especialistas acadêmicos até os pais”, escreveu Karina Newton, head of policy do Instagram, em um e-mail de maio de 2021, que foi mencionado pelos procuradores. “O modelo do aplicativo não foi projetado inerentemente para uma faixa etária que não possui as mesmas habilidades cognitivas e emocionais que os adolescentes mais velhos”, continuou.
A Meta respondeu ao jornal, afirmando que não projetou seus produtos para que estes fossem viciantes para os usuários mais jovens. “A denúncia descaracteriza nosso trabalho, usando citações seletivas e documentos escolhidos a dedo”, afirmou ao Wall Street Journal a porta-voz Stephanie Otway.
Outros documentos levantados pelos procuradores comprometem o CEO da Meta, Mark Zuckerberg. O material indicaria que ele teria instruído funcionários a priorizar o crescimento do uso diário das plataformas da Meta em vez de colocar em primeiro lugar o cuidado com o bem estar dos usuários. Em uma troca de e-mails entre o final de 2017 e início de 2018, executivos de primeiro escalão, entre eles o atual CMO da companhia, Alex Schultz, apoiaram uma proposta de redução no número de alertas push enviados para os usuários. A adoção intensa desse disparo de notificações levaria muita gente a constantemente acessar a rede, a ponto de prejudicar a vida dessas pessoas já que elas não paravam de checar as plataformas. O CEO e fundador da Meta teria ignorado as recomendações.
Menores de 13 anos
O jornal The New York Times também trouxe revelações no sábado 25. De acordo com o diário, a Meta recebeu mais de 1,1 milhão de relatórios referentes a usuários com menos de 13 anos inscritos no Instagram desde o início de 2019. Apenas uma fração dessa quantidade foi desativada.
Em vez de resolver essa situação, segundo o NYT, o Instagram teria continuado a coletar rotineiramente informações pessoais das crianças, como localização e endereços de e-mail, sem autorização dos pais. A atitude, se comprovada, é uma violação de lei federal de privacidade.
O conhecimento da Meta a respeito da base do Instagram ser composta por “milhões de usuários” abaixo de 13 anos foi chamado pelos procuradores de “Open Secret”. Ou seja, o problema era algo sabido internamente.
Vale destacar que essa acusação específica faz parte de um dos processos contra a Meta. Essa ação é movida por procuradores de 33 Estados, incluindo Califórnia, Colorado e Nova York.
Muitas evidências citadas pelos procuradores ficaram “escondidas” por conta de pedidos de sigilo feitos no início do processo. Recentemente parte das denúncias pode ser aberta. Um dos documentos, conforme o NYT, indicou que a Meta continuamente falhou em tornar prioritário um sistema eficaz de verificação de idade.
A big tech informou, em comunicado enviado ao diário, que verificar a idade das pessoas é um desafio complexo para os serviços online, especialmente quando se trata de usuários mais jovens. Para os procuradores, no entanto, a companhia teria feito uma escolha: não estabeleceu um sistema para detectar os menores de 13 anos cadastrados na rede porque vê esses jovens como os usuários da próxima geração.