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Trilogia comunista: um painel de fotógrafos
A primeira palestra do domingo, 02, no Festival do Clube de Criação foi Trilogia Vermelha, projeto coletivo de registros fotográficos em países comunistas, desenvolvido por Maurício Nahas, Ricardo Barcellos e Paulo Mancini.
O projeto uma parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo - nasceu de uma necessidade dos fotógrafos de fazer algo pessoal, fora dos estúdios. A jornada teve início em 2005, em Cuba, percorreu a Rússia, em 2006, e a China, em 2009.
Segundo Barcellos, no nosso dia a dia já trabalhamos demais com a imagem construída, então, sair somente com uma câmera na mão, se jogar nas ruas sem nada programado, foi uma experiência muito válida.
O fotógrafo ainda completou: tecnicamente, o trabalho é simples, envolve apenas luz natural e filme. Vai de encontro com a tradição da fotografia documentária.
A primeira cidade visitada foi Havana que, se por uma lado trazia algumas facilidades, como a curta distância e a língua parecida, apresentava o desafio de a ilha já ter sido muito fotografada, o que podia ser uma armadilha para os fotógrafos.
Neste caso, trabalhamos com o negativo para criar um outro tipo de experiência, explica Nahas.
Peguntado sobre historias curiosas, Nahas conta que enquanto fotografava um prostituta, em Cuba, um vizinho da mulher chamou a polícia. Estava fotografando aquela prostituta como se fosse uma modelo, dando até um pouco de dignidade para aquela mulher. Porém, não iriam entender esta explicação. No final, o fotógrafo teve que sair a passos largos, antes que a policia entrasse no quarto.
Já na Rússia, o desafio foi outro. Apesar das pessoas serem mais festeiras, mais expansivas do que em Cuba, os fotógrafos tinham, diariamente, a sensação de estarem sendo vigiados. Parecia uma bomba relógio. Tudo era muito controlado. Fui fazer foto numa fábrica e me fizeram devolver todos os filmes . Apesar de não ser mais comunista, o espirito ainda existe por lá, comenta Nahas.
Em coro, os fotógrafos falaram sobre os contrastes do velho com o novo e sobre o excessivo consumismo do jovem. "Lá trabalhamos com temas. Eu, por exemplo, fotografei monumentos, prédios antigos, e percebi uma diferença enorme entre os russos e os cubanos. Enquanto os primeiros eram mais ruidosos e provocativos com a câmera, os cubanos eram contidos, contou Mancini.
Na Rússia, você percebe uma crise de identidade, de valores. Enquanto os jovens são soltos e livres, os mais velhos são saudosistas em relação ao comunismo. É uma crise de ideais, completou Barcellos.
No projeto da China, o trio de fotógrafos foi mais ambicioso. Ficaram 40 dias viajando pelo país e dividiram o processo: cada um foi para uma parte do país, já que a diversidade é, segundo eles, fantástica. A ferramenta usada também foi outra: desta vez, a câmera digital permeou o trabalho, o que fez gerar um número muito maior de fotos e, consequentemente, isso dificultou o processo de edição.
O trio comenta que ainda pensa em uma nova etapa: ir para a Coréia do Norte, o que para eles seria o maior desafio, já que o país vive sob um dos mais rígidos regimes comunistas.