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por: Laura Esteves*
Producers é o nome do musical do momento aqui. O que deve ser um tipo novo de tortura americana, já que mais chato que um producer, só um producer sapateando.
Não me entenda mal. Eu sempre adorei os RTVs (aqui eles são producers) com quem tive a chance de trabalhar no Brasil. Aliás, se eu não trabalhassse na criação adoraria ser desse departamento. Mas, aqui, parece que todo o ego que não está na criação foi pro andar da produção. Já vi casos sensacionais, do tipo o producer bombar seu comercial antes de ser apresentado pro cliente ("ah, essa idéia é muito eighties!", ele disse pra um redator do meu lado). Ou, depois de apresentado e aprovado pelo cliente, o queridíssimo simplesmente se recusa a orçar o comercial, argumentando que com Hum Milhão de Dólares (hum por extenso, pra você não achar que eu errei) não dá pra produzir uma luta de boxe. O comercial nem era meu, mas eu fiquei tão chocada que me ofereci pra ser figurante de grátis. Vai que ajuda no orçamento. Sei lá
Mas acabou que a criação teve que fazer outros roteiros. O cliente não aprovou nenhum, porque gostava do anterior e já que ninguém cedeu, o cliente aceitou pagar mais pra ter a danaaaadia da luta de boxe.
Ou seja, não bastam todos os impedimentos naturais: a dificuldade de ter a idéia, de chegar num consenso com sua dupla, de aprovar sua idéia com seu diretor de criação, de passar pelos 19 atendimentos, planners, accounts e outras mocinhas loiras mais, ainda tem que agradar o diabo do producer. Obstáculos de fazer inveja à Rio-Santos.
Eu sei disso tudo porque o meu comercial está sendo produzido no mesmo pacote para o mesmo cliente, Lotto. Mas eu devo ter que rezar uma novena, já que o meu roteiro não é muito "eighties" e é cabível de se fazer com Oitocentos Mil Dólares.
Antes que todas essas cifras animem os diretores daí a se mudarem pra cá, eu vou avisando que além de tooooooda essa simpatia e flexibilidade com custos, essas fofuras de pessoas não são muito abertas a diretores que eles não conhecem. E olha que eu tentei.
Mas funciona assim: depois de aprovado pelo cliente, o producer vê os diretores que ele acredita que se encaixam no estilo e na verba do seu roteiro. Ele passa o board (que não é nada mais que o roteiro com uma imagem que conta um pouco a idéia, o que eles chamam de key frame) para os diretores que vão analisar. Aí começa a lida. Por duas, três semanas você fica fazendo conference calls com os diretores (a maioria fica em Los Angeles ou Londres) conversando sobre como ele vê seu roteiro. Eles geralmente mudam radicalmente sua idéia porque é considerado meio medíocre você só executar a idéia e não adicionar nada. O diretor, no comercial, é um terceiro criativo, além do redator e do diretor de arte.
Muitas vezes os comentários são bem-vindos e realmente acrescentam.
Quando a criação gosta e o diretor gosta da criação (éeee
ele também tem que gostar do seu roteiro ou simplesmente fala que não está interessado, que acha que essa idéia não vai acrescentar nada ao rolo dele. Uuia. Um dos diretores disse isso pra o tal filme da luta de boxe da outra dupla. Dupla sofrida essa, né? Só levou bordoada até agora.
Enfim você filma. Como o mercado hispânico aqui é o ódoborogodó e todas as marcas têm que vender pra eles, a maioria dos comerciais é filmado numa diária em inglês e outra em espanhol (o que nem precisa dizer que 10 em 10 americanos acham que é minha língua official).
Passado isso, vem a edição. O editor é tão importante quanto o diretor.
A criação escolhe da mesma forma: vê os rolos, analisa os prêmios e aí decide quem vai editar.
São empresas completamente diferentes, a produtora e a editora. Assim que tem todo o material filmado, o diretor vai lá e com o editor monta a versão que ele recomenda. Nesse momento acaba o papel do diretor e você provavelmente não vê ele mais.
Aí chega a vez da criação, que passa um, dois, as vezes cinco dias dentro da editora vendo todo o material e escolhendo o melhor corte pro seu comercial. A edição tem exatamente o mesmo valor, aqui, que a direção. Papinho em festa de propaganda é assim: "Ah, você filmou um comercial novo"? "Quem dirigiu"? "E quem editou"? "Mckenzie Cutler"? "Ah, sei, mas o David ou o Jeff"? Ah, tá.
O producer te acompanha em tudo, desde a filmagem até os dias de exílio na ilha deserta de edição. E aí é aquela coisa meio náufrago, não tem tu vai tu mesmo. E de tanto tempo junto você começa a ver que o cara não é de todo mau assim, que é o nome dele que tá em jogo e por isso ele tem que ser rigoroso. Você acabou achando que apesar de toda a frescurada ele é um cara legal e talentoso e quanto está prestes a tomar carinho pelo producer, bum, você vê que ele errou na ficha técnica do seu comercial. Sim, meus caros, quem senão esse profissional iluminado seria encarregado de preencher a ficha técnica? Ele, o coisa ruim, claro. (Tem um aqui que chama Jason). Bom, o Jason, ou um baixinho que parece o Chuck, provavelmente vai te colocar na ficha como atendimento, segundo redator ou no mínimo escrever seu nome errado. E lá vou eu de novo explicar que não, eu não sou prima do Emilio Estevez.
Laura Esteves e não Estévez, é redatora da DDB NY e colunista da seção Passaporte.
laura.esteves@ny.ddb.com