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No CDHU do mundo
Esse tal seqüestradorzinho com nome de sobrenome, Lindenberg - já vi escrito por aí com m antes do d -, devia ser estudado como a personificação de um evento social, e não como uma pessoa.
Porque um ser vivo que leva o título de pessoa não entra na casa de uma menina de 15 anos, mata essa menina, dá um tiro também na amiga da menina e coloca a camisa do São Paulo na janela.
Não necessariamente nessa ordem.
Mas antes que pensem besteira, não tenho nada contra o São Paulo, tenho contra a babaquice desse carinha mesmo.
Ouvi em alguma rádio de plantão (desculpem o pleonasmo) que o sujeito, antes de tudo, atirou no computador da menina.
Claro, assim ela não o trairia nem virtualmente. Vejam só, analisem. Era um apartamento da CDHU, bem simples, mas nele cabiam um computador, uma menina que gostava de hip hop americano e um seqüestrador que queria a mídia toda
como platéia.
Ele avisou os amigos antes: 'Vocês vão ouvir falar de mim ainda nesta semana'.
Esse evento mostra, no mínimo, três lados de uma mesma moeda (neste caso, de 50 cents): o despreparo colossal da polícia, a aterrorizante precocidade das relações e o machismo possessivo e irracional de um jovem de 22 anos.
Desculpem o trocadilho a seguir, mas, se a situação
tinha três lados, por que a polícia ficou de quatro? Vamos descobrir.
A questão é que o tal carinha com nome de sobrenome se achava no direito de fazer o que fez. O que dava essa sensação a ele? Só seu desequilíbrio e sua possível depressão? Não, claro que não. Ele estava defendendo uma honra imaginária, ferida por uma menina que não queria mais se relacionar com ele.
Aí nos debruçamos (sem trocadilho desta vez) sobre essa relação. Dizem que começaram a namorar há três anos. Ela então tinha 12. Ele, 19. Crianças. Mas que diabo aconteceu?
Não foi apenas um seqüestro, repito, foi o epicentro de uma série de fenômenos culturais, sociais e econômicos que ocorreu ali
naquele apertamento.
A mídia, a internet, a polícia, o sexo, a dor-de-cotovelo, tudo virou o molho de uma macarronada social.
Durou uma semana, mas vem vindo há anos. Ninguém percebeu que fim teria esse filme? E o pior, é uma macarronada de filmes também. Um misto de Atração Fatal, O Preço de um Resgate e Loucademia de Polícia.
E tudo isso num cinema perto de você, sim, em Santo André.
Porque poderia ser lá na gringa, tem louco por todo lado, mas aqui o final foi diferente. Aqui o bicho pega. Aqui a polícia atrapalha. Aqui os erros são fatais. Aqui é o CDHU do mundo.
Por Carlos Credie, redator da Colucci
Comentários
xandao - E o cara, como ouvi nos noticiários, pede "arrego" ao estado, ele quer segurança. Na hora do voto, o brasileiro devia apertar o vermelho.
Ana - Seu texto toca num ponto que a mídia solenemente ignorou: mais um relacionamento precoce, que começou na infância dessa menina (12 anos), e fez dela, como já fez de tantas outras, um alvo fácil de um sociopata.
Rafael Funchal - Se levarmos em consideração o Efeito Dominó (uma coisa leva à outra), nada disso teria acontecido se o pai da garota, que é um ex-PM foragido por crimes cometidos em 1991 no estado do Alagoas, tivesse sido preso por seus atos. Ele estaria preso e sua família viveria no Alagoas e o visitaria aos fins de semana.