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Sobre a propaganda de automóveis...
Elois e Marlocks na propaganda de automóveis
Algo de errado não está certo na propaganda brasileira. Não, não vou apontar falta de criatividade, nem culpar a crise econômica. O problema não é esse. Não é a falta de idéias para criar as peças. O problema é não ter a menor idéia de como compor os personagens.
Quando vejo automóveis que custam R$ 70.000 em comerciais com personagens de 25 anos, vejo que algo está errado. E, quando comprovo nas ruas que os donos desses modelos de carro têm 45 anos, vejo que algo não está certo.
Parece que vivemos naquele mundo futurista da Máquina do Tempo, de H.G. Wells, onde os Elois mais velhos serviam de alimento para os Morlocks e, assim, o que existia era um mundo aparente de virtude e perfeição.
Tudo bem, nas agências brasileiras cabelo branco não costuma fazer sucesso como nos Estados Unidos. Mas daí a transportar isso para os personagens já é demais. A impressão que tenho é que os atores são escolhidos de forma religiosa: à imagem e semelhança do criador. Nos comerciais, os consumidores são jovens, bem nascidos, magros e modernos. Parece até que trabalham na criação da agência que criou o comercial. E que ganham como o Diretor de Criação, porque conseguiram comprar aquele carrão.
Os números do Brasil mostram que essa mentalidade está meio na contra-mão. O país está envelhecendo. E, hoje, ter 40 anos está deixando de ser um martírio. Muito pelo contrário. Ter 40 anos hoje é ter mais estabilidade financeira, mais autoconhecimento e mais noção do que é a vida.
Aí, em defesa do ator de 25 anos vêm aqueles discursos de apresentação de campanha: temos que trabalhar o aspiracional, temos que buscar arquétipos humanos que expressem essas aspirações, etc, etc, etc. Só que há um outro tipo de gente no planeta. Gente que tem 40 anos e não quer ter vinte. Gente que gosta de cerveja e não liga muito para o panceps avantajado. Gente, enfim, que quer ser gente e não um personagem de ficção científica.
Em outros mercados é fácil encontrar gente de verdade nos filmes. Até de automóveis. Como aquele sujeito barrigudinho que limpa seu carro com o seu cachorrinho, no brilhante filme Inglês da Peugeot .
Cabe aqui, para finalizar, uma exceção que vem comprovar a regra. O belíssimo filme de lançamento do Gol G4, que mostra um garoto com cara de gente de verdade, daqueles que trabalham para comprar um carro.
Mais um Gol da Almap.
Só falta agora um careca comprando uma Blazer Turbo-Diesel 4x4.
Claudio Gonçalves
Diretor de Criação da Manufactura de Propaganda