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Um conto de Sidney Araújo...
Ela ficou horas olhando para aquela escultura, virava o rosto 45 graus para um lado e para o outro. Não tinha jeito. Continuava vendo apenas uma bicicleta com a cabeça de um cavalo.
"Meu Deus!", pensou ela, "eu não entendo nada de arte!"
Hoje, não havia nem almoçado para poder chegar cedo à Bienal e ver a exposição de Arte Contemporânea. Quem sabe, se tivesse mais tempo, poderia assim entender alguma coisa.
Mas não. Até agora, todas as obras lhe pareciam apenas um monte de entulho organizado por fichas técnicas.
Ela observava as pessoas à sua volta, todas pareciam entender alguma coisa. Será que todos sabiam exatamente o que estavam olhando? Ela tinha medo de perguntar.
Foi então, que ela se aproximou de um casal. Eles admiravam um monte de lâmpadas jogadas em um canto. Eles não falavam nada. Só observavam. Ficaram uns 10 minutos assim. Observando. Olhares distantes. Observando. Mudos. Completamente mudos.
Naquele momento, só ela parecia cega! "Meu Deus! O que essas pessoas estão vendo que eu não vejo?!?"
Um pouco desanimada, se dirigiu para o outro canto da sala. Havia dois copos descartáveis sujos de café, jogados ao chão, de uma maneira meio desorganizada.
Para seu alívio, só ela estava observando aquela escultura. "Ainda bem", pensou, assim ninguém iria perguntar nada e ela não correria o risco de falar nenhuma bobagem.
Ficou tentando encontrar sentido naqueles dois copos de café. Ver se formavam alguma imagem ou, quem sabe, se o café em volta deles desenhava alguma coisa.
Então ela deu um leve sorriso. Começava a ver imagens naquela obra, talvez um cachorro ou até um cabrito, quem sabe?
Ficou feliz consigo mesma.
Mas durou pouco a sua felicidade. Logo, dois rapazes, vestidos de branco e munidos de vassouras, levaram embora os dois copos descartáveis da sua frente.
Meio sem graça, e roxa de vergonha, ela saiu lentamente em direção à próxima sala.
Como explicar ter ficado tanto tempo olhando para um punhado de lixo? Ela se sentia a mais medíocre de todas as mulheres. Não! De todos os seres racionais!
Agora, estava ao lado de um velhinho simpático, mas que parecia um tanto pálido - a semana havia sido muito quente em São Paulo e esse entra e sai de ar-condicionado acaba maltratando a saúde de todo mundo.
Foi ela tentar puxar conversa com o velhinho simpático, que, para sua surpresa, caiu se debatendo no chão e babando.
Desesperada, ela correu para lhe prestar socorro.
E logo ouviu a voz grave de um segurança lhe repreendendo: "Desculpe, minha senhora, não é permitido tocar nas obras de arte.
Ela começou a chorar.
Por Sidney Araújo