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O espaço é seu

Está tudo diferente. Mas continua igual (Adriano Alarcon)

10.02.20

Está tudo diferente. Mas continua igual

A maior novidade ainda é a relevância das grandes histórias

O mundo é play. Ele vive e acontece dentro de uma tela, seja de 4,7 ou 70 polegadas. É nela em que vemos tudo o que ocorre no mundo, desde os questionamentos sociais levantados pelo BBB ao trending topic do dia: a cerimônia do Oscar e a possível dobradinha de Sam Mendes nas categorias de Melhor Filme e Melhor Diretor.

Essa mesma possibilidade se deu em 2000, quando o diretor ainda era uma aposta da indústria cinematográfica. Um novato que vinha do mundo do teatro e encantava o público com as histórias que contava no West End, em Londres.

Vinte anos se passaram, e temos a certeza de que vivemos um novo mundo, mas ao mesmo tempo nos deparamos com situações tão similares que parece que nada mudou: as pessoas continuam comentando o BBB, e Sam Mendes voltou a ser assunto – ambos nas redes sociais, algo inimaginável há duas décadas. Contudo, a partir daqui, vamos focar na sétima arte.

Antes, as apostas dos vencedores eram feitas por críticos especialistas em cinema e cinéfilos de plantão, com acertos que não passavam de 60%, quando contavam com a sorte. Hoje, por inteligência artificial, os vencedores são apontados com quase 90% de precisão. A cobertura completa do evento era realizada por canais apresentados por famosos e grandes críticos. Agora, as notícias são dadas em real-time em mensagens de 280 caracteres por qualquer anônimo proprietário de um smartphone com uma conexão que vai de 3 a 5G. Os indicados também são outros. Se antes o território era dominado pelos estúdios clássicos, há pelo menos 15 anos as plataformas de streaming avançam com tudo num plano-sequência de puro sucesso e, em pouco menos de duas décadas, seus filmes serão os únicos indicados ao prêmio na academia (sim, o Oscar).

As mudanças afetaram não só a cerimônia de premiação mas também a indústria cinematográfica, o que inclui desde a maneira como os filmes são produzidos até a forma como são distribuídos. A substituição da película pela captação digital, a extinção dos revolucionários DVDs e o combate à pirataria são exemplos disso. E essas mudanças não se limitaram exclusivamente ao cinema: a comunicação também vem passando por grandes transformações, coincidentemente, nesses dois aspectos, produção e distribuição. Hoje, o material criativo é produzido com equipamentos mais acessíveis, em volume infinitamente maior e menores verbas, contando com novas produtoras, artistas, creators e influencers. E é distribuído por plataformas de tecnologia, por novos meios de comunicação e ainda pelos tradicionais canais de televisão aberta.

Se o jeito de pensar o cinema mudou, a forma de pensar a publicidade também. Novos códigos, novos formatos, novas tensões sociais, novas necessidades e novos argumentos. As redes sociais deram voz a quem não tinha e permitiu que novas conversas fossem criadas. O que antes era um monólogo hoje é um diálogo rico com respostas rápidas de aprovação ou reprovação da mensagem e da maneira como ela foi feita. É uma nova dinâmica que exige um melhor comportamento dos personagens de ambas as indústrias, além do resgate e da reavaliação de erros cometidos no passado que servirão como exemplo para o bom comportamento no futuro.

A troca nas lideranças, a correção de erros e a busca por oportunidades mais igualitárias são mudanças fundamentais que ainda estão no começo e mostram que ainda existe um longo caminho pela frente − o qual ambas as indústrias precisam seguir com vontade e colaboração.

No final das contas, muitas coisas mudaram, mas algumas permanecem exatamente iguais. Tanto no cinema quanto na publicidade, ainda são as boas histórias que fazem a diferença, seja em duas horas, em formato anamórfico ou em 15 segundos na vertical. No cinema ou na tela do celular, são as grandes mensagens que conectam o público. E se boas histórias continuam sendo algo esperado desde Aristóteles, o resultado do Oscar foi inesperado.

Sam Mendes, diferentemente de 20 anos atrás, não volta para casa com as duas principais estatuetas. Isso mostra mais uma vez que as coisas sempre mudam. E, ao que tudo indica, para um melhor cenário nas duas indústrias.

Que venham reconhecimentos inéditos como os que presenciamos no Oscar e mais boas histórias como a que Bong Joon-ho viveu e contou para o mundo.

Adriano Alarcon, CCO (Chief Creative Officer) da F.biz

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