arrow_backVoltar

O Espaço é Seu

A Revolução da Inteligência Artificial e o Desafio da Regulamentação nas Artes Criativas

06.10.23

A evolução tecnológica sempre teve um impacto significativo nas artes e na forma como expressamos nossa criatividade. Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) emergiu como uma ferramenta poderosa que está transformando o cenário criativo de maneira profunda e inesperada, numa velocidade alucinante. No entanto, como qualquer inovação disruptiva, a IA traz consigo desafios e questões éticas que precisam ser cuidadosamente consideradas.


Há dois momentos cruciais na história da arte visual que ecoam as mudanças trazidas pela IA. O primeiro foi o advento da fotografia, que democratizou o acesso à representação visual. Antes disso, obter um retrato pessoal era um privilégio reservado à burguesia ou ao clero, que eram as classes dominantes que podiam pagar um retratista. A fotografia mudou isso, permitindo que pessoas comuns tivessem retratos de suas vidas e registrassem momentos importantes (de aniversários, viagens e cerimônias). Já pararam para pensar no impacto disso na construção da memória? No entanto, essa democratização também desafiou os artistas tradicionais, que tiveram que se reinventar, focando em aspectos mais subjetivos e expressivos da arte.


O segundo momento foi a chegada dos bancos de imagens, no século XX, que permitiu que empresas menores e empreendedores individuais acessassem ilustrações e fotografias de alta qualidade a preços populares. Isso, mais uma vez, diminuiu a demanda por artistas e fotógrafos tradicionais, criando uma crise no mercado criativo.


Agora, enfrentamos um desafio semelhante com a IA. Ela democratiza o acesso a criações artísticas personalizadas, como ilustração, fotografia e até música. No entanto, também gera preocupações sobre a valorização e o reconhecimento do trabalho criativo humano.


Acredito que a pergunta a ser feita não é se a IA deve ou não ser usada, e sim como devemos regulamentá-la. É imprescindível proteger os direitos dos criadores originais. Mas a implementação de regulamentações eficazes não será simples. A internet ainda é um território relativamente livre e sem regras, o que dificulta a aplicação de leis relacionadas à IA. Isso é evidenciado pela disseminação de fake news e a falta de legislação e cumprimento de leis já existentes, em várias áreas online.


Além disso, a aceitação e implementação dessas regras podem variar entre diferentes indústrias criativas. O mercado audiovisual e fonográfico, por exemplo, é mais estruturado e provavelmente será mais assertivo na proteção de seus direitos autorais e de seus artistas.


No Brasil, a opinião sobre sindicatos é polarizada por um viés político e mais sensível do que em outros territórios, mas não podemos esquecer que essas organizações desempenham um papel fundamental em estabelecer limites e proteger os direitos dos trabalhadores ali representados.


A chegada da IA no cenário criativo já aconteceu, é inevitável, e é importante que a sociedade e os legisladores estejam atentos para garantir que ela beneficie a todos, sem prejudicar os criadores humanos. Isso requer um equilíbrio delicado entre a inovação tecnológica e a proteção dos direitos autorais, um desafio que precisa ser abordado com seriedade e responsabilidade, à medida que avançamos nessa nova era da criatividade digital.


Victor Marcello - diretor de criatividade e produção - Ole Interactive Brasil

O Espaço é Seu

/