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O Espaço é Seu

Redator critica a campanha 'Não aceito Corrupção'

02.07.12


Democracia, demagogia e um conceito feito 'nas coxas'. Sob o conceito "Não aceito Corrupção" (leia e assista aqui), o MP chama a atenção da população para o tema. Mas esquece que a boca da sociedade também está apontada para o Ministério Público.


 


Imaginei então a seguinte situação, envolvendo um cliente em uma mesa de reunião com a agência: "Precisamos urgentemente de uma campanha publicitária preconizando nossos valores para toda a sociedade. A coisa fedeu lá em Goiás com o caso do Cachoeira (se fosse um diretor de marketing, diria Waterfall) que envolve governadores, um senador e, de quebra, um representante da classe que, por um acaso, é irmão do senadorSentiram o tamanho do nabo? Agora tá todo mundo na berlinda. Estávamos na zona de conforto dos nossos sonhos, tranquilos, com a moral lá em cima, o país todo confiante na gente, e aí vem um p..rra desse e não queima só o filme, toca fogo no cinema".


 


Então emtra o diretor de criação e diz: "Entendi. É coisa pra ontem, né? Quanto mais rápida for a resposta mais eficiente ela vai ser. Vamos puxar o fio da meada pra acharmos um conceito"



Cliente, com cara de que não está entendo coisa nenhuma, diz: "Vamos lá. O que vocês precisam?" .



Diretor de criação pergunta: "No que vocês acreditam?" .



Cliente, sentindo-se questionado, responde: "Como assim 'no que vocês acreditam?' Nós acreditamos na igualdade, na justiça e na defesa da sociedade. São nesses pilares que nos apoiamos".



Diretor de criação cutuca: "Sim, ok. Mas nisso, em tese, todos os representantes da população deveriam acreditar, não é? Não acha isso meio vago, aberto? Quando uma coisa serve pra todos não serve para ninguém".



Cliente, já sem paciência, explica o que, para ele, é óbvio: "Rapaz, nós somos do Ministério Público. E mais: somos do Ministério Público Democrático. Você entende o que isso significa? Nós temos uma história e é nela que devemos nos nortear. Esse é o tal conceito que vocês estão falando aí".



Diretor de criação vai mais longe: "Mas essa postura não acaba deixando a classe numa posição intocável?".


 


Nisso, um outro criativo da agência, presente na reunião, atravessa com uma ideia: "E se usássemos trechos do filme 'Os intocáveis'?" .



O cliente, já com as mãos fechadas e a cara roxa, esbraveja: "Que porra é essa??? Você tá loco, menino??? Isso aqui não é brincadeira, não. É coisa séria. Estamos falando com a sociedade civil. Isso não é palhaçada!!!" .



O diretor de criação contorna a situação propondo: "E se a campanha fosse assinada com Justiça, Igualdade e Defesa da Sociedade?" .



Cliente, ainda bufando, quase assimila a ideia: "É... é bom... identifica com a classe. Mas tem que ser algo que a população entenda. E isso aí ninguém vai entender".



O diretor de criação para por um instante. Coloca a falange nos lábios e pensa alto: "Hummm ... algo que a população entenda, mas que não aceite. Coisas como: impostos exorbitantes, sistema de saúde precário, educação de péssima qualidade, transporte público ineficiente, corrupção..." .



Nesse momento, o cliente dá um tapa na coxa e grita: "É isso aí! Fechou". E escreve com os dedos pontuando cada palavra no ar: "NÃO ACEITO CORRUPÇÃO!" .



E finaliza: "Agora vambora, vai!".


 


Arnaldo Albergaria, redator, atualmente freelando na Sunset

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