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O Espaço é Seu

Obrigado, Véio (Erick Rosa)

29.08.11

Existe aquela expressão de que, numa reunião, tem razão aquele que fala apenas o suficiente e, o mais importante, sem gritar.

O Véio, ou RenatoLopes, como o documento de identidade dele insiste em chamar, é essa pessoa. O exemplo da reunião é péssimo, porque convivi e convivo com ele em milhares de situações e momentos mais interessantes do que uma reunião.

Mas o exemplo é justo, se você considerar que numa das piores coisas inventadas pela sociedade moderna, a reunião, ele consegue estabelecer ordem ao pautar pelo bom senso, educação e gentileza.

Conheci o Véio no meu primeiro estágio. O meu primeiro briefing mostrei para ele e para o David Romanetto. Foram delicados com o estagiário agarrado nas primeiras ideias, mas também foram justos e precisos. Na altura o Véio já era um Norte para muitas pessoas na criação. Principalmente para os que estavam começando.

Ele tinha e tem história. Ingressou na profissão pelo estúdio da agência. E antes, muito antes, ingressou no mercado de trabalho pelas ruas de São Paulo como office-boy. Reservado e querido, o Véio sempre conquistou espaço sem fazer barulho. E era exatamente esta postura, este jeito de ser que fazia dele para os mais novos, um mapa, farol e bússola. Tudo ao mesmo tempo.

Depois da minha contratação, fui sentar mais próximo. Mas, apesar de mesas próximas, jobs partilhados em duplas, triplas e com a criação inteira, duplar, duplar mesmo com o Véio, isso só aconteceu quase sete anos depois, aqui em Lisboa.

Aconteceu e desaconteceu. Hoje, o Véio trabalha em outra agência (aqui). Do mesmo grupo, mas em outro endereço. E se, a princípio, fiquei com uma nostalgia antecipada ao imaginar o dia a dia sem o Véio ao lado, fiquei mais feliz com a chance de outras pessoas o terem por perto e aprenderem com ele.

Foram quatro anos juntos. De longe, os melhores anos que tive na profissão. Uma profissão que é dura, com memória curta, de duração igualmente breve e que muda todos os dias. Não é fácil dividir a maior parte útil do seu dia com uma pessoa. É por isso que quando uma dupla acerta, você vê as duas pessoas percorrerem a carreira inteira praticamente juntas. E o Véio, apesar do apelido, é o diretor de arte mais novo que eu conheço.

Certa vez, enquanto organizava o horário para fazer aulas de inglês no almoço, perguntei se o objetivo eram as reuniões com clientes internacionais. E ele, na maior naturalidade disse que não. O inglês era para absorver melhor o que ele via nas revistas importadas, nos livros não traduzidos e na internet. E é aí que está uma das qualidades mais bacanas do Véio. Ele tem fome de vida. De desenhar, pintar, serrar móvel, ler, viajar, fotografar e, também, de fazer nada, numa praia como o Meco, estatelado na areia com duas mãos de filtro solar na cara, sem hora para voltar.

O resultado é um trabalho com estética impecável, uma responsabilidade acima de qualquer média e colegas de trabalho que voltam para casa todos os dias com a mochila cheia de gratidão.

Esse texto, como o título diz, é um obrigado. Como essas coisas não são assim tão simples de dizer para alguém em pessoa, veio em forma de texto.

Voltando à reunião do primeiro parágrafo, tenho me reunido semanalmente com o Véio. Na praia, no Pedrão, no Seu Jaime. Reuniões importantes. Nestas reuniões falamos muito, mas muito pouco de trabalho. Mas do pouco consigo pescar muito. O principal e mais importante é a alegria que ele tem na nova agência.

Sorte da agência. E do estagiário que começar agora lá tendo a oportunidade de mostrar para ele o seu primeiro job.

Valeu, Véio.


Erick Rosa - brasileiro, assim como o Véio, e diretor geral de criação da Leo Ibéria, em Lisboa 
 

O Espaço é Seu

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