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O espaço é seu

"Tô pensando em ir pra gringa" (Claudio Lima)

15.04.14


Várias vezes por semana, eu recebo emails, mensagens no Linkedin e no Facebook de pessoas que querem morar fora do Brasil. Perguntam o que precisam fazer, qual o jeito mais fácil, o que é mais importante ter na pasta, como funcionam os headhunters, visto, preço do aluguel etc, etc.



Sei que alguns outros já colocaram textos aqui no Clubeonline com dicas, mas resolvi dar as minhas. Assim, por pura preguiça, quando alguém me perguntar de novo eu mando esse link aqui para eles.



Vou enumerar as dicas, para dar uma sensação de que são várias.



1. A primeira coisa que você precisa para trabalhar fora do país é querer. Não é só dizer que quer, reclamar do “mercado” do Brasil na sua hora do almoço, falar com seu dupla que tá pensando etc. Tem que querer mesmo. E, geralmente, a maioria do pessoal que quer mesmo, consegue.



2. Falar fluentemente outra língua sempre ajuda, a não ser que você queira ir pra Portugal (que já é legal pacas), mas tem que falar o idioma do lugar que você quer ir, bem o suficiente para vender sua ideia para o seu dupla, para o seu chefe e para o cliente. Se você for redator, tem que escrever bem em outra língua também, ou tentar arrumar um dupla gringo brother que “passe-a-limpo” para você.



3. Com a vontade e a comunicação em dia, você vai precisar de um link com seus trabalhos. Tem um milhão de jeitos de fazer, mas quanto mais bem cuidado e bem feito for, melhor para você. Ainda mais se você for diretor de arte, pegar um template tosco do blogspot não vai te ajudar. Não esquece de colocar tudo em inglês, legendar os filmes e explicar minimamente a ideia/problema quando for necessário. Quanto à seleção de peças, se for colocar print, coloca pouco, dê preferência para digital, 360º, social media e, claro, filme. Tente privilegiar também clientes que seu chefe-to-be conheça, ou peças que deixem claro o que é o cliente. Peças que são geniais, mas só brasileiro entende, não vão fazer a menor diferença na sua pasta. Outra coisa, pode colocar seus side projects, a galera aqui adora um fotógrafo, ilustrador, artista, skatista nas horas vagas.



4. Outra parte importante é a sua BIO/Resume. Sim, o pessoal aqui quer saber onde você passou, com quem trabalhou, quantos anos ficou, quantos prêmios tem, se você tem alguma atividade “paralela” etc. Mas não precisa escrever três páginas, não. Escreve pensando que aquela informação é a informação que seu “futuro chefe” vai usar para explicar pro RH porque ele precisa de você. Tem que ser rápido, objetivo e soar importante.



 5. Mostrar a pasta aqui é diferente do Brasil, que você liga para alguém, que alguém te indicou, passa na agência e faz uma entrevista. Aqui, você tem que ser craque no email: descobrir emails de diretores de criação e recruiters de agências é o melhor caminho. Aí, faça um email curto e direto e pergunte se pode mandar seu link, depois mande seu link e espere alguém te escrever de volta. Linkedin também funciona e é bom para você descobrir os nomes das pessoas. Uma dica extra: dá um search no Linkedin por “creative recruiter” ou “creative talent manager”, escolhe o país e começa focando nessas pessoas.



6. Outro caminho são os headhunters: você pode trabalhar com 3 ou 4 para diferentes regiões - um para os Estados Unidos, um para Inglaterra/Europa, um para Ásia, e um para o Middle East. Você manda sua pasta para eles, bate um papo, explica para onde você quer ir e vê se eles têm alguma coisa disponível para você. Quando eles vêm potencial de ganhar dinheiro com você, vão correndo te arrumar um emprego. Quer achá-los? Linkedin de novo: “creative headhunter”.



7. Se você conseguir marcar um papo ou ter uma entrevista com alguém, aí é com você, e qualquer site de procura de emprego tem dicas muito melhores de entrevista do que eu posso tentar dar.



No final das contas, como eu já disse lá em cima, a coisa que você mais precisa é querer. No Brasil, tem umas 200 agências que você pode trabalhar? Fora do Brasil tem 200 mil. Por isso, se você ficar tentando, tentando, tentando uma hora consegue. Claro, se você fez um shortlist na sua cabeça com Droga5, W&K e BBH, talvez demore um pouco mais para conseguir, mas se você estiver disposto a ir para uma agência ou mercado menor e a partir daí investir em agências/mercados maiores, fica mais fácil.



O grande obstáculo para trabalhar fora é o visto. Se a gente não precisasse de visto, conseguia emprego na hora, porque sim, somos rápidos, criativos e temos menos frescura que muito colega estrangeiro. Mas tirar um visto para alguém é um saco, custa uma mega grana, demora um tempão e dá preguiça ao RH, ao Financeiro e ao diretor de criação/creative recruiter, que tem que ir lá, ficar pedindo para eles entrarem com o processo. Então, para alguém te fazer uma oferta e te dar um visto pode ter certeza que aquela pessoa quer mesmo você na equipe.



E não precisa ser uma sumidade, mega premiado e com coleção de calça justa para trabalhar fora, não. Eu, a primeira vez que fui morar fora, tinha 21 anos, havia acabado a faculdade 6 meses antes e o único prêmio que já tinha ganho eram 80 reais em um bingo de quermesse lá no Tatuapé. Conheço brasileiro de todo jeito trabalhando fora, desde os mega premiados até gente que saiu antes de sequer ter um emprego no Brasil e que tá fazendo a carreira toda por aqui.



Espero que isso ajude. Qualquer dúvida, pode me escrever, mas já vou avisando que a chance de eu te mandar esse link como resposta é enorme.





Claudio Lima

Vice-President Creative Director

Y&R Latam/Bravo Miami





 


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