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O espaço é seu

Paulo Barros. O criativo persistente

18.02.10

Não é de hoje que o carnavalesco Paulo Barros vem dando show nas quatro linhas. Ou melhor, nos 700 metros da avenida.
 
Quando se tem uma proposta nova, realmente diferenciada, é preciso persistência pra emplacá-la. O Paulo uniu explosão criativa à maturidade de não desistir. Mesmo tomando porrada de todos os lados.
 
É um revolucionário. O carnavalesco mais criativo de todos os tempos. Sempre aclamado pelo público. E até então, incompreendido pelos jurados.
 
Não quero perder o fio da meada, mas é importante descrever um pouco da história dele.
 
Surgiu no Grupo Especial das escolas do RJ em 2004, pela própria Tijuca, com enredo sobre Ciência. Talvez você tenha ouvido falar, pelo menos de raspão, do carro em que pessoas reproduziam o DNA humano. A Tijuca saiu como favorita do povo, mas foi vice.
 
Em 2005, um Carnaval espetacular sobre fábulas e fantasias. Mais uma vez, aclamada pelo povo. Mais uma vez, vice.
 
Em 2006, o mais brilhante Carnaval do mago. Com o enredo “Ouvindo tudo que vejo, vou vendo tudo que ouço”, Paulo extrapolou os limites da criatividade humana, se é que este limite existe, para mostrar o quanto a música pode ser reproduzida pelos olhos, ou uma imagem pelo som. Trouxe Mozart na comissão de frente, um carro do Filme ET, outro com 14 Fuscas pretos empilhados metaforizando a música do Almir Rogério, uma discoteca ambulante e um simulador da arquibancada da Sapucaí. Tomou um 6º lugar na cabeça.
 
Reconhecido, mas ainda não vitorioso, foi convidado pela Viradouro.
 
Lá, em 2007, desenvolveu o enredo “A Viradouro vira o jogo”. E virou até um dos carros alegóricos, que veio de ponta-cabeça na avenida. Na saia da porta-bandeira, uma réplica de roleta do Taj Mahal, cassino de Las Vegas. Colocou a bateria como peças de xadrez em cima do carro Tabuleiro. Uma ala com roupa idêntica a substituiu assim que ela desceu para entrar no recuo. A Sapucaí foi ao delírio. Os jurados, não. 5º lugar.
 
Após tantos tropeços com resultados, a crítica se aproveitou para contestar o estilo Paulo Barros. Lembro-me de uma frase dele na época, mais ou menos assim: “Largarei o Carnaval no dia em que me obrigarem a fazer um desfile convencional”.
 
E, em 2008, a Viradouro foi tudo, menos isso. Uma semana antes do desfile, Paulo chorou ao ver o carro Holocausto impedido de desfilar por uma liminar da justiça. Não deixou a peteca cair. Com o enredo “É de arrepiar”, levou pra avenida uma pista de esqui com toneladas de gelo e a ala Marcha dos Pinguins, o arrepio do frio. Um carro com figurantes vestidos de baratas que desciam e subiam sem parar, o arrepio do nojo. O arrepio da tortura foi retratado com artistas de circo de ponta-cabeça em um carro. E pela hilariante ala da guilhotina, com pessoas sem a cabeça. Por fim, o arrepio da emoção dos grandes desfiles do Rio e sambistas, destaque para a ala “Ratos e Urubus, larguem a minha fantasia” e para o carro “As Rosas não falam”, homenagem aos 100 anos do Cartola.
 
Foi um Carnaval para ele levar com o pé nas costas. A campeã do povo. Ficou em 7º. E levou foi um pé na bunda da Viradouro.
Em 2009, pouco brilhou, já que foi contratado para ser o 2º carnavalesco na Vila Isabel, faltando poucos meses para o Carnaval, e não teve trabalho autoral no desfile.
 
Apesar de muitos olhares de desconfiança, felizmente a Tijuca o trouxe de volta em 2010. Falando sobre os segredos da humanidade, o cara apavorou. Já na comissão de frente, um show de mágica levou o público ao delírio.
 
No abre-alas, simulação do incêndio na Biblioteca de Alexandria.
O carro do Jardim Suspenso da Babilônia era composto por centenas de plantas vivas.
 
Os super-heróis que guardam super-segredos vieram de super-heróis. Nada de plumas, costeiros ou adereços.
 
E a bateria de mafioso com direito a invasão de um carro cheio de gângsteres antes do recuo.
 
A opinião popular, mais uma vez, estava com Paulo Barros.
 
Pela primeira vez, os jurados deixaram de punir a criatividade. Resultado: Tijuca campeã.
 
Raros desfiles foram tão comentados. Raras vezes vi um resultado tão justo e comemorado.
 
A criatividade venceu a mesmice. E pela persistência.
 
Ficou no ar um recado para todos nós, criativos, planners, anunciantes, enfim: vamos parar de jogar a culpa de um trabalho medíocre no povo. De insultar sua inteligência. De desistir facilmente das boas ideias.
 
O povo quer o inusitado. O povo quer surpresas, espetáculos.
 
O povo quer mais “Paulos Barros”.
 
Raphael Quatrocci - redator da Santa Clara Nitro


Comentários

tevo duraes -  Que beleza, que bacaninha, que supimpa. Lembrar do cara - Paulo Barros - que foi campeão é, no mínimo, irônico. Gostaria de ter lido esta matéria há 1, 2, 3 anos. Quando o cara ainda era só o preferido do público. É como Leão - quando ganha vira ídolo,mas no short-list ninguém se lembra. Mesmo que o short seja Great.


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