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Ignore os urubus dentro do armário da cozinha
Estive na inauguração da 29ª Bienal e, comos vocês devem ter visto na mídia, ela estreou com polêmica. Até aí, ótimo. Afinal, é papel da arte transgredir as regras da sociedade para que os paradigmas sejam vestidos ao contrário e a gente entenda se isso cai bem ou não.
Com o irônico nome de Bandeira Branca, a grande obra da discórdia estava bem no meio do quebra-cabeças. Tratava-se de três grandes esculturas que simbolizavam fábricas sombrias com chaminés que serviam de puleiro para 3 urubus vivos.
Vivos. Esta palavra foi o estopim para que ativistas ambientais gerassem um abaixo-assinado na internet e protestos com cartazes em frente à instalação para que as aves fossem soltas.
Volto a repetir: até aí, ótimo. Concordo com os ambientalistas e também aproveito para convidar todos os engajados para protestar semana que vem na frente do Zoológico, levando em consideração que nenhum inocente deve ir para a prisão.
Porém, o heroísmo foi além. O grupo conseguiu cortar a tela de proteção e pichar a instalação. Não, eles não foram soltar os urubus. Foram escrever Liberte os urubu, que eu prefiro entender que não foi um erro de concordância e sim por conta de uma imobilização policial antes da hora.
O que me deixa triste é saber que estamos há uma semana das eleições e voltamos a atenção do país para três aves. É entender que problemas envolvendo urubus são capazes de gerar mais engajamento e repercussão que o caso da Erenice Guerra. Não vi nenhum abaixo-assinado. Não levantaram nenhum cartaz. Ninguém foi pichar o Planalto.
Lembrei de O homem que copiava, filme de Jorge Furtado onde (lá pelas tantas) um grupo resolve matar um homem montando uma bomba de gás em sua casa. Durante a conversa para planejar o crime, o mentor orienta que levem uma galinha e a coloquem dentro do armário da cozinha. Um dos membros questiona o por quê da galinha e o mentor apenas responde que ele irá entender depois. Na sequência seguinte, sai em todos os jornais a matéria Homem morre, mas galinha escapa com vida, mostrando de forma brilhante como a mídia se comporta no país.
Pense nisso. Melhor dizendo: não pense nisso e sim no que é preciso e precioso no momento. Pense que em um andar acima estava intacta - a Série Inimigos, de Gil Vicente.
Rodolfo Barreto
A matéria sobre os urubus você lê aqui.
A foto que fiz no dia do protesto você vê aqui.
A parte genial do filme de Jorge Furtado você assiste aqui.
Comentários
Thales - Razão. Você quer tê-la ou quer ser feliz? Só faltou dedicar uma linha pra mencionar "um dia de furia". A industria de confundir é a que dá mais grana nesse país. Literalmente a gente paga caro nessa p..rra. Tudo é sensacional e engraçado, desde que não seja você a vítima. Desabafo!