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O Espaço é Seu

Ignore os urubus dentro do armário da cozinha

28.09.10

Estive na inauguração da 29ª Bienal e, comos vocês devem ter visto na mídia, ela estreou com polêmica. Até aí, ótimo. Afinal, é papel da arte transgredir as regras da sociedade para que os paradigmas sejam vestidos ao contrário e a gente entenda se isso cai bem ou não.


Com o irônico nome de “Bandeira Branca”, a grande obra da discórdia estava bem no meio do quebra-cabeças. Tratava-se de três grandes esculturas que simbolizavam fábricas sombrias com chaminés que serviam de puleiro para 3 urubus vivos.


Vivos. Esta palavra foi o estopim para que ativistas ambientais gerassem um abaixo-assinado na internet e protestos com cartazes em frente à instalação para que as aves fossem soltas.


Volto a repetir: até aí, ótimo. Concordo com os ambientalistas e também aproveito para convidar todos os engajados para protestar semana que vem na frente do Zoológico, levando em consideração que nenhum inocente deve ir para a prisão.


Porém, o heroísmo foi além. O grupo conseguiu cortar a tela de proteção e pichar a instalação. Não, eles não foram soltar os urubus. Foram escrever “Liberte os urubu”, que eu prefiro entender que não foi um erro de concordância e sim por conta de uma imobilização policial antes da hora.


O que me deixa triste é saber que estamos há uma semana das eleições e voltamos a atenção do país para três aves. É entender que problemas envolvendo urubus são capazes de gerar mais engajamento e repercussão que o caso da Erenice Guerra. Não vi nenhum abaixo-assinado. Não levantaram nenhum cartaz. Ninguém foi pichar o Planalto.


Lembrei de “O homem que copiava”, filme de Jorge Furtado onde (lá pelas tantas) um grupo resolve matar um homem montando uma bomba de gás em sua casa. Durante a conversa para planejar o crime, o mentor orienta que levem uma galinha e a coloquem dentro do armário da cozinha. Um dos membros questiona o por quê da galinha e o mentor apenas responde que ele irá entender depois. Na sequência seguinte, sai em todos os jornais a matéria “Homem morre, mas galinha escapa com vida”, mostrando de forma brilhante como a mídia se comporta no país.


Pense nisso. Melhor dizendo: não pense nisso e sim no que é preciso e precioso no momento. Pense que em um andar acima estava – intacta - a “Série Inimigos”, de Gil Vicente.


Rodolfo Barreto



A matéria sobre os urubus você lê aqui.

A foto que fiz no dia do protesto você vê aqui.

A parte genial do filme de Jorge Furtado você assiste aqui.

Comentários

Thales - Razão. Você quer tê-la ou quer ser feliz? Só faltou dedicar uma linha pra mencionar "um dia de furia". A industria de confundir é a que dá mais grana nesse país. Literalmente a gente paga caro nessa p..rra. Tudo é sensacional e engraçado, desde que não seja você a vítima. Desabafo!


 

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