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O Espaço é Seu

Fotografia: a persistência do analógico (Juh Almeida)

14.05.25

Cresci no interior da Bahia, em um município da região metropolitana de Salvador chamado Catu. O nome da cidade faz referência à luta e resistência indígena, mas foi só na vida adulta que descobri o real significado dessa história. Catu, geograficamente estratégica para a implantação de empresas de petróleo, pouco tem a ver com arte. Mas, ao refletir sobre minha trajetória, percebo, de forma até romantizada, que a fotografia foi a porta que me levou à direção de filmes. Para mim, ela apareceu como um fôlego de vida.

Aos 10 anos, descobri que era filha adotiva, e esse momento causou uma ruptura na minha comunicação. Mas foi não muito tempo depois, ao encontrar um tesouro guardado na gaveta de minha mãe – uma Yashica MG-2 –, que um mundo de possibilidades se abriu diante dos meus olhos. A fotografia analógica foi meu ponto de partida. Foi através dela que aprendi a falar, escutar e ter paciência com o mundo ao meu redor. Embora eu aprecie a fotografia digital, não tenho o mesmo entusiasmo por ela que tenho pela analógica. Existe algo no processo lento da fotografia analógica que ressoou comigo, um respeito pelo tempo das coisas, um tempo necessário para que a fotografia ganhasse vida diante dos nossos olhos. Algo que beira o mágico. Com frequência, busco resgatar aquela menina do interior, com seus olhos ávidos por encantamento, e de algum modo, tento retomar o caminho de um olhar livre.

Por indicação de uma amiga, assisti a "Às Vezes Quero Sumir", de Rachel Lambert. A premissa do filme é simples: o dia a dia da personagem e as poucas novidades que surgem em sua vida, enquanto ela, em momentos de devaneio, considera desaparecer. As imagens que povoam sua mente são apresentadas quase como fotografias: quadros estáticos que nos transportam para uma sensação profunda e quase palpável. Isso me fez lembrar de um trecho do livro "Sobre Fotografia", de Susan Sontag, que diz: "todas as fotos são 'memento mori'. Tirar uma foto é participar da mortalidade, da vulnerabilidade e da mutabilidade de outra pessoa. Precisamente por cortar uma fatia desse momento e congelá-la, toda foto testemunha a dissolução implacável do tempo". Acho que, por isso, sempre que inicio uma produção, imagino uma única imagem que poderia capturar a essência daquele filme, mesmo que de maneira subjetiva ou semiótica. A partir dela, a ideia cresce. Esse exercício conecta-se com a menina do interior que fui, aquela que sente as imagens antes de compartilhá-las com o público. Elas precisam, antes de mais nada, me tocar e fazer sentido para mim.

A fotografia, em sua essência, está profundamente enraizada no analógico. Ela nos ensina sobre o tempo, a paciência e a imersão no processo. Mesmo com a chegada da inteligência artificial e das novas tecnologias, há algo de profundamente humano e visceral na fotografia analógica que permanece irremovível. Um artefato caro, a fotografia analógica me ensinou também muito sobre escassez, reaproveitamento e experimentação. A fase de experimentação é a mais preciosa, porque é nela que nos moldamos. Durante esse processo, a inspiração ganha movimento, ritmo e potência, criando uma base sólida para que ela possa se transformar em algo genuíno, capaz de tocar o público.

Na publicidade brasileira, a fotografia desempenha um papel crucial na construção de narrativas visuais que transcendem a mera apresentação de produtos. Ela atua como um veículo de comunicação que traduz emoções, aspirações e estilos de vida, criando uma conexão emocional entre a marca e o consumidor. Quando executada com maestria, a fotografia publicitária não apenas captura a essência de um produto, mas também evoca sentimentos que ressoam profundamente com o público-alvo. A escolha do momento exato, a manipulação da luz e a composição cuidadosa são elementos que se entrelaçam para contar uma história impactante. No contexto atual, onde a saturação de conteúdo visual é uma realidade, a fotografia se torna um diferencial estratégico, capaz de transformar uma simples imagem em uma experiência memorável. No Brasil, onde a diversidade cultural e a criatividade são abundantes, a fotografia publicitária se destaca por sua capacidade de refletir a pluralidade da sociedade, tornando-se uma ferramenta essencial para marcas que buscam se conectar de forma autêntica e duradoura com seus consumidores.

Juh Almeida, diretora de cena na Café Royal e jurada na categoria Fotografia do D&AD 2025

Leia o texto anterior da seção "O Espaço é Seu" aqui.

 

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