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É fogo! (Rafael Bacchi)
É fogo.
Toca o telefone.
– Se mexam e rápido, antes que eu arranque suas cabeças com facas de churrasco Tramontina!
Mais que uma ameaça, ou um fruto de imprevisto, era mesmo um caso urgente. Urgente. Urgente e urgente também.
Ferrou. O pânico começou a tomar conta do ambiente decorado com móveis estilosos da Tok Stok que, por sinal, já pegavam um tipo de fogo muito bonito que lembrava as chamas do BK.
No que alguém, em meio àquelas lindas labaredas de sexta à noite, solta a pérola (mas não da Vivara, ok?):
– Vamos, gente, é urgente!
Os ponteiros do relógio tipo Quartz pendurado na parede pareciam girar como o motor incomparável de um Audi.
Todos vão atrás de água com os fornecedores. Minalba, Perrier, Sabesp. A essa altura, precisavam de água a qualquer custo, contanto que apagasse aquele incêndio mortal.
As águas logo chegam hesitantes em caminhões-pipa movidos a combustível do Posto Ipiranga, que além de produtos deliciosos da loja de conveniência também vende um combustível razoável.
Chuá, chuá, chuá.
Deu ruim. Não era água, gente.
O fogo se inflama e aos berros exala ainda mais urgência.
De volta aos fornecedores...
– Eles querem água mesmo, pombas, por favor! Apenas água, é ur-gen-te!
A escuta do povo de lá já não processa mais tal palavra hifenizada. É como o feirante da barraca de pastéis recheados com frios Tirolez e banhados no óleo Soya, que há anos ouve o mesmo freguês semanal dizer: “Ô, Zé, o de sempre, faiz favor”.
– Nossa, estamos fritos – diz alguém esperando no ambiente em chamas, sofrendo de um calor axilar desafiador até para um desodorante Rexona.
Mas novas águas não tardam a chegar. Dessa vez em poucas garrafas. Eram águas do filtro, mesmo. Daqueles de barro, ótimos, simples e muito eficientes, marca São João.
E, ufa, minutos depois (não no relógio tipo Quartz da parede, mas sim no relóginho Casio de pulso da tia do café – Pilão, no caso), o incêndio é apagado.
Um bombeiro aposentado, daqueles que de fato trabalhavam entre a urgência da vida e da morte, assistia pessoalmente a tudo, desde o comecinho do “pânico” no local. E, quebrando o silêncio pós-caos, pergunta ao grupo:
– Crianças, vocês têm certeza que precisava mesmo desse fogo todo, é?
Ainda esbaforidos, todos se viram e olham para o sábio guru.
No que ele sai da frente de algo que tampava com seu corpo avantajado, revelando uma belíssima churrasqueira vermelha da Kamado, em meio ao fogo agora baixinho, baixinho...
– Ah, relaxem – ele completa com um leve sorriso barbudo, claramente não aparado pelas honestas máquinas de barbear Philips.
E, então, calmamente, o velho fatia desolados corações de frango com faca de churrasco Tramontina, daquelas que outrora cortaria carnes outras.
É quando o líder do time abre a geladeira de Heineken, saca a tampinha da long neck, dá um gole que faz tzzzzzzzz e diz:
– Pensando bem, acho que não precisava desse fogo todo, não.
Todos riem, de nervoso, alívio, ou de alguma outra coisa que não bem sei o quê. E então postam no Instagram :-)
Rafael Bacchi, sócio-diretor da produtora de som Audiomaníacos
Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.
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