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Oscar 2021 – análise

Diversidade, recados e final 'esquisito'

26.04.21

Na edição deste ano da grande festa do cinema, o Oscar, faltou... cinema. Em uma cerimônia que não deixou de ser longa (durou três horas e 32 minutos), foram exibidas poucas cenas dos filmes concorrentes que tradicionalmente marcam os momentos antes da abertura do envelope com vitoriosos e vitoriosas. Essas apresentações poderiam ajudar muita gente que não conseguiu ver os títulos indicados já que a experiência do cinema foi severamente abalada pela pandemia. Se a decisão de exibir poucas cenas dos filmes foi para dar agilidade ao evento, não foi o que aconteceu.

Essa foi uma das sensações da 93ª edição do Oscar, a primeira realizada sob impacto direto da pandemia já que a de 2020 ocorreu antes de o mundo ter decretado quarentena. O encontro se deu numa estação de trem, a Union Station, no centro de Los Angeles. Por outro lado, houve mais diversidade em relação à premiação em anos anteriores. Ela também trouxe resultados inéditos, como a primeira diretora não-branca a receber a estatueta de Melhor Direção.

O prêmio foi para a chinesa radicada nos EUA Chloé Zhao, por “Nomadland”. É a segunda mulher a obter o cobiçado troféu na história do evento. O longa conquistou o título de Melhor Filme e de Melhor Atriz, para Frances McDormand, também produtora, tornando-se o filme que recebeu a maior quantidade de prêmios do Oscar 2021: três.

Com mais espaço para discursos (que se alongaram), o formato da premiação deste ano, realizada na noite do domingo 25 em um ambiente que dava um ar de salão de baile, provocou estranhamentos. Foi algo não-Hollywood, definiu a Vanity Fair. Mas o que causou questionamentos entre público e críticos mesmo foi seu final. Isso porque a categoria Melhor Filme não foi a última a ser revelada, o que espantou muita gente.

Para o último bloco do evento, os organizadores resolveram premiar Melhor Atriz – disputa que contava com todas as candidatas presentes no local da festa – antes de Melhor Ator, que tinha como favorito na bolsa de apostas Chadwick Boseman, morto em agosto do ano passado, e que tinha outro candidato, Anthony Hopkins ("Meu Pai"), longe da cerimônia. Pelo segundo ano consecutivo (em 2020 ele concorreu por “Dois Papas”, de Fernando Meirelles), o ator galês não “compareceu” ao evento, nem por vídeo.

Com a decisão de antecipar a revelação de Melhor Filme e deixar para o fim Melhor Ator, a impressão que se teve foi que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, responsável pela premiação, planejou encerrar a festa com uma possível homenagem a Boseman, já que sua performance em “A Voz Suprema do Blues” vinha conquistando diversos prêmios da indústria (como Globo de Ouro e Sindicato dos Atores). Se foi isso, não deu certo.

Sem ninguém para fazer um discurso de agradecimento, restou um clima de “e agora?”. O New York Times classificou o momento como "o mais esquisito" do Oscar 2021. E a Vanity Fair apontou que o show terminou como uma nota fraca e vazia.

A cerimônia ocorreu em Los Angeles, em um cenário com mesas esparsas e distantes e convidados trajados com glamour como nos tempos sem covid-19. No “ao vivo”, eles não precisavam ostentar suas máscaras. Fora das câmeras, sim. Foi o que explicou a atriz Regina King, que abriu o Oscar.

Além disso, havia convidados em outras cidades como Londres, Paris, Sydney e Seul, onde o diretor sul-coreano Bong Joon-Ho, ganhador no ano passado por “Parasita” – a principal estrela do Oscar 2020 –, anunciou o vencedor de Melhor Direção (categoria também antecipada, em comparação a edições passadas).

Antes da revelação, porém, ele contou ao público que perguntou o significado de ser diretor a cada um dos cinco concorrentes. Eles não apareceram em vídeo, apenas fotos. As respostas foram lidas por Bong Joon-Ho, em coreano, momento que ganhou legendas em inglês. Em 2020, o diretor encorajou os fãs de cinema a encararem mais filmes em outras línguas. O recado dado no ano passado gerou a maneira como ele apresentou a categoria nesta edição.

Diversidade

A Academia teve de enfrentar movimentos críticos contundentes a respeito de representatividade e diversidade em passado recente. As manifestações #OscarsSoWhite e #MeToo se expandiram nas redes sociais e em 2017 houve um recorde: 7 atores que representavam grupos minoritários foram indicados a prêmios.

Mas o evento voltou a enfrentar duras críticas em 2020 pela falta de diversidade. Cynthia Erivo foi a única atriz não-branca a ser indicada. E não havia mulheres na disputa de Melhor Direção. Acuada, a Academia teve de se mexer. No ano passado, convidou mais 800 membros para o time de votantes. Em 2016, ele era composto por seis mil membros, sendo 93% brancos e 76% homens.

Desde então, a Academia vem ampliando esse grupo, prometendo aumentar também a diversidade. Hoje, o grupo beira nove mil integrantes (na edição de 2020 o percentual de votantes brancos baixou para 84%, conforme o Statista).

Na abertura desta edição, Regina King mencionou o veredito dado ao policial Derek Chauvin, condenado na semana passada nas três acusações feitas pela morte de George Floyd. "Como mãe de um filho negro, conheço o medo com que tantos vivem. Nenhuma quantidade de fama ou fortuna pode mudar isso", declarou. Foi o primeiro de diversos recados transmitidos pelos ganhadores ao longo da cerimônia.

O veredito do caso George Floyd foi abordado, de certo modo, também pelo ator e diretor Tyler Perry, que conquistou o Oscar Humanitário. Primeiro afro-americano a ser dono de um estúdio, ele recebeu seu prêmio dizendo que se recusa a aceitar o ódio. “Eu me recuso a odiar uma pessoa porque ela é mexicana ou negra ou branca ou LBGTQ. Eu me recuso a odiar uma pessoa por ela ser policial. Eu me recuso a odiar uma pessoa por ela ser asiática”.

Nos prêmios de atuação, Daniel Kaluuya (“Judas e o Messias Negro”) venceu na categoria Ator Coadjuvante. Foi o único ator negro, dentre todos os indicados, a conquistar uma estatueta.

Na disputa de Atriz Coadjuvante, uma surpresa. A veterana estrela sul-coreana Youn Yuh-Jung, de 73 anos, conquistou o prêmio por "Minari". É a primeira de seu país a levar o troféu. E é a segunda de origem asiática a se destacar na categoria na história do Oscar (em 1958, a japonesa Miyoshi Umeki recebeu a estatueta como Atriz Coadjuvante em “Sayonara”). Poderia levar também o prêmio de discurso mais divertido da noite, se houvesse.

Outro resultado inédito aconteceu na disputa de Maquiagem e Penteado, título que coube ao time de “A Voz Suprema do Blues”. As negras Mia Neal e Jamika Wilson levaram o troféu junto com o espanhol Sergio Lopez-Rivera. Elas são as primeiras mulheres indicadas na categoria e as primeiras vencedoras negras do prêmio.

"Quero agradecer a nossos ancestrais que trabalharam, foram negados, mas nunca desistiram", afirmou Mia na premiação. "Jamika e eu rompemos esse teto de vidro com muita empolgação para o futuro. Porque posso imaginar mulheres trans negras de pé aqui, nossas irmãs asiáticas, nossas irmãs latinas e mulheres indígenas. E eu sei um dia isso não será incomum ou inovador, será apenas normal", completou.

A Academia informou que, nesta edição, 15 mulheres receberam 17 Oscars, incluindo o de Som e Roteiro Original.

Na disputa de Melhor Ator, mais um recorde. A vitória de Anthony Hopkins por “Meu Pai” estabelece nova marca pelo lado da idade. O ator galês conquistou a estatueta aos 83 anos. Antes dele, Christopher Plummer, que morreu em fevereiro passado, tinha vencido com 82 anos por “Toda Forma de Amor”, em 2012.

Cinema e Netflix

Dentre todas as empresas que concorriam com filmes no Oscar, quem se destacou foi a Netflix. Ela, que já havia garantido a maior quantidade de indicações no evento (leia mais aqui), saiu da festa com sete estatuetas. O segundo melhor desempenho ficou com a Disney, que conquistou cinco prêmios.

Desde 2013, quando obteve sua primeira indicação ao Oscar (para o documentário “A Praça Tahrir”), a companhia vem melhorando sua performance na premiação. Depois dos resultados da 93ª edição, a Netflix soma 15 troféus. Os deste ano foram para as produções “A Voz Suprema do Blues” (2), “Mank” (2), “Professor Polvo”, “Dois Estranhos” e “Se Algo Acontecer… Te Amo“.

Tão abalado pela pandemia, o cinema físico também brilhou no Oscar 2021. Ao discursar como produtora de “Nomadland”, assim que o prêmio de Melhor Filme foi atribuído, Frances McDormand convocou o público a ver o filme na telona.Um dia, logo, leve alguém que você conheça para o cinema, ombro com ombro, naquele espaço escuro, e veja cada um dos filmes representados nesta noite”, afirmou Frances, que, pouco depois, receberia sua terceira estatueta do Oscar, a de Melhor Atriz desta temporada abalada pela pandemia.

Veja os ganhadores aqui:

Melhor Filme
• Meu Pai
• Judas e o Messias Negro
• Mank
• Minari
Nomadland – Vencedor
• Bela Vingança
• O Som do Silêncio
• Os 7 de Chicago

Melhor Ator
• Riz Ahmed - O Som do Silêncio
• Chadwick Boseman - A Voz Suprema do Blues
• Anthony Hopkins - Meu Pai – Vencedor
• Gary Oldman - Mank
• Steven Yeun - Minari

Melhor Atriz
• Viola Davis - A Voz Suprema do Blues
• Andra Day - The United States vs. Billie Holiday
• Vanessa Kirby - Pieces of a Woman
• Frances McDormand – Nomadland – Vencedora
• Carey Mulligan - Bela Vingança

Melhor Atriz Coadjuvante
• Maria Bakalova - Borat 2
• Glenn Close - Era uma Vez um Sonho
• Olivia Colman - Meu Pai
• Amanda Seyfried - Mank
• Youn Yuh-Jung – Minari – Vencedora

Melhor Ator Coadjuvante
• Sacha Baron Cohen – Os 7 de Chicago
• Daniel Kaluuya – Judas e o Messias Negro – Vencedor
• Leslie Odom Jr. – Uma Noite em Miami
• Paul Raci – O Som do Silêncio
• Lakeith Stanfield – Judas e o Messias Negro

Melhor Fotografia
• Judas e o Messias Negro
• Mank – Vencedor
• Relatos do Mundo
• Nomadland
• Os 7 de Chicago

Melhor Figurino
• Emma
• A Voz Suprema do Blues – Vencedor
• Mank
• Mulan
• Pinóquio

Melhor Direção
• Thomas Vinterberg - Druk - Mais uma rodada
• David Fincher - Mank
• Lee Isaac Chung - Minari
• Chloé Zhao – Nomadland – Vencedora
• Emerald Fennell - Bela Vingança

Melhor Roteiro Adaptado
• Borat 2
• Meu Pai – Vencedor
• Nomadland
• Uma Noite em Miami
• O Tigre Branco

Melhor Roteiro Original
• Judas e o Messias Negro
• Minari
• Bela Vingança – Vencedor
• Som do Silêncio
• Os 7 de Chicago

Melhor Documentário
• Collective
• Crip Camp
• The Mole Agent
• Professor Polvo – Vencedor
• Time

Melhor Documentário de Curta-Metragem
• Collete – Vencedor
• A Concerto is a Conversation
• Do Not Split
• Hunger Ward
• A Love Song for Latasha

Melhor Montagem
• Meu Pai
• Nomadland
• Bela Vingança
• O Som do Silêncio – Vencedor
• Os 7 de Chicago

Melhor Filme Internacional
• Druk - Mais uma rodada (Dinamarca) – Vencedor
• Better Days (Hong Kong)
• Collective (Romênia)
• The Man Who Sold His Skin (Tunísia)
• Quo Vadis, Aida? (Bósnia)

Melhor Animação
• Onward
• Over the Moon
• Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca
• Soul – Vencedor
• Wolfwalkers

Melhor Cabelo e Maquiagem
• Emma
• Era uma Vez um Sonho
• A Voz Suprema do Blues – Vencedor
• Mank
• Pinóquio

Melhor Trilha Sonora Original
• Terence Blanchard - Destacamento Blood
• Trent Reznor e Atticus Ross - Mank
• Emile Mosseri - Minari
• James Newton Howard - Relatos do Mundo
• Trent Reznor, Atticus Ross e Jon Batiste – Soul – Vencedor

Melhor Canção Original
• “Fight for You” - Judas e o Messias Negro – Vencedor
• “Hear my Voice” - Os 7 de Chicago
• “Husavik” - Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars
• “Io Sí” - Rosa e Momo
• “Speak Now” - Uma Noite em Miami

Melhor Design De Produção
• Meu Pai
• A Voz Suprema do Blues
• Mank – Vencedor
• Relatos do Mundo
• Tenet

Melhor Curta De Animação
• Burrow
• Genius Loci
• If Anything Happens I Love You – Vencedor
• Opera
• Yes-People

Melhor Curta-Metragem
• Feeling Through
• The Letter Room
• The Present
• Dois Estranhos – Vencedor
• White Eye

Melhor Som
• Greyhound
• Mank
• Relatos do Mundo
• Soul
• O Som do Silêncio – Vencedor

Melhores Efeitos Visuais
• Love and Monsters
• O Céu da Meia-Noite
• Mulan
• O Grande Ivan
• Tenet – Vencedor

 

Lena Castellón

Oscar 2021 – análise

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