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Quarentena em NY

A primeira primavera de PJ Pereira

24.03.20

Nova York é o epicentro da epidemia de coronavírus nos Estados Unidos. A região é responsável por cerca de metade dos casos da doença no país. E é lá que vive PJ Pereira, sócio da Pereira O’Dell, que se mudou definitivamente para NYC em agosto passado, após 15 anos morando em São Francisco, que também está entre as cidades mais atingidas. Naquela época, a agência passou a ter duas sedes (relembre aqui).

De seu confinamento em Nova York, PJ conversou, via Messenger, com o Clubeonline sobre a rotina que estabeleceu em sua casa e nos negócios e sobre possíveis transformações provocadas pelo novo vírus. Esta é a primeira primavera de PJ na cidade, desde que mudou da Costa Oeste para a Leste. Não dá para saber como ela se desenrolará. Ao menos, não tão cedo.

Acho que nossa geração vai ficar com várias cicatrizes desse momento. Algumas boas outras ruins, outras só curiosas”, diz. Ele prossegue tentando refletir sobre o futuro: “No mercado publicitário será que a vida de freelancer, que vinha aumentando, vai regredir? Será que isso vai valorizar a importância das pequenas empresas? E principalmente: será que vamos deixar de ser tão cruéis uns com os outros?”, questiona.

CLUBEONLINE - Como é trabalhar numa situação dessas, sem igual? Cenários mudam constantemente? Toda hora tem reunião?
PJ - A maior dificuldade é que a intensidade está maior do que nunca foi. Uma coisa depois da outra, várias emergências por dia, algumas boas, outras ruins. E você tendo que lidar com todas elas, não deixando nenhum dos dois lados te tirar do eixo. É um tempo de manter a cabeça fria, aberta e focada no que importa — o que é um exercício constante pois as prioridades, os pesos e as notícias mudam o tempo todo. Isto posto, é difícil parar pra escrever muito mais do que isso [risos]. Aqui são 7pm e eu terminei minha aula de artes marciais via zoom (treinar é essencial pra minha saúde mental e física; então, não posso negociar essa parte), mas agora, às 7:30, tenho outra reunião. Depois tenho um último call do dia, às 9pm porque é a hora que o expediente termina em São Francisco e eu e meu sócio, Andrew, nos falamos todos os dias nesse horário para nos mantermos informados do que aconteceu e está por acontecer.

CLUBEONLINE - Sua aula é individual ou é em grupo?
PJ - Treino quase todos os dias. Alguns dias sozinho assistindo a vídeos e repetindo exercícios. Outros, treino com minha mulher ou meu filho. Outros faço aula com o resto da academia, via Zoom. Em São Francisco, eu tinha um dojo que amava. Aqui, é mais improvisado. Não consegui terminar, mas dei sorte que os tatames chegaram uma semana antes do isolamento. Quando comprei nem sabia que ia precisar tanto.

CLUBEONLINE - Você foi pra aí definitivamente em...
PJ - Agosto de 2019 cheguei de vez em Nova York. Não fez um ano. Poucos meses. Não passei um verão ainda. Estamos chegando na minha primeira primavera.

CLUBEONLINE - E sua equipe? Está todo mundo bem? Tem de injetar ânimo? Nem precisa?
PJ - Minha equipe está bem. Depois de amanhã [sexta-feira 27] faz duas semanas que todo mundo tá trabalhando de casa. Mas tanto Nova York quando São Francisco estão super contaminados. Então, acho que demos sorte até agora. A galera tá lidando bem. É diferente, estressante às vezes, mas a gente tenta dar uma amenizada. Faz uns happy hours virtuais, temos aula de yoga em grupo via zoom liderada por uma menina do atendimento. Hoje a diretora de RH tocou um bootcamp de 30min. A gente vai se ajudando. Desde que cheguei nesta fase de casa, estou mais focado em dormir bem, comer direito e cuidar da saúde física e mental, porque isso ajuda com a imunidade. Temos falado muito isso para os funcionários. Não quero ninguém virando noite e exagerando no trabalho.

CLUBEONLINE – Um vice-presidente da Microsoft disse que depois desta pandemia haverá talvez um ponto de mudança na maneira como trabalhamos e aprendemos.
PJ - Acho que nossa geração vai ficar com várias cicatrizes desse momento. Algumas boas, outras ruins, outras só curiosas. Será que os bidês vão voltar? E os fundos de teleconferência vão virar briefing de decoradores? As pessoas vão passar a naturalmente trabalhar um dia por semana de casa ou não vão querer trabalhar de casa nunca mais? No mercado publicitário será que a vida de freelancer, que vinha aumentando, vai regredir? Será que isso vai valorizar a importância das pequenas empresas? E principalmente: será que vamos deixar de ser tão cruéis uns com os outros? Ou vamos ficar ainda mais cada-um-por-si? É um exercício interessante imaginar os impactos que ainda sentiremos em alguns anos.

CLUBEONLINE - Bidês?
PJ - Isso. Bidês. Tá faltando papel higiênico no mundo todo!

Lena Castellón

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