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Quarta Mídia Extra

Esquenta a guerra entre Globo e Record

02.10.07

A Rede Record está levando a sua briga com a Rede Globo para o campo das notícias. Em uma iniciativa criticada por muitos, a emissora do bispo Edir Macedo, que também é dono da Igreja Universal do Reino de Deus, fez o apresentador do Jornal da Record ler um editorial que atacava a Globo, que por sua vez acusa haver uma suposta ilegalidade na operação do canal de notícias Record News, inaugurado na semana passada.


Tanto para a Globo quanto para a Band, assim como para a organização não governamental Intervozes – que fiscaliza as concessões públicas para exploração de serviços de radiodifusão – o Record News é ilegal, pois a legislação brasileira impede que uma mesma empresa tenha dois canais de televisão aberta em uma mesma cidade, no caso, São Paulo. Isso porque o Record News ocupou a freqüência que era da Rede Mulher, essa controlada por executivos ligados à Igreja Universal, de Macedo.


A Intervozes vai mais fundo no ataque e afirma que, ao participar da inauguração do Record News, o presidente Lula, o governador paulista José Serra e o prefeito paulistano Gilberto Kassab, além do presidente da Câmara dos Deputados Arlindo Chinaglia, tomaram parte de um ato ilegal, corroborando uma ação que contraria a legislação federal que rege o setor de telecomunicações.


Na nota lida na noite desta segunda-feira, dia 1º, no Jornal da Record, a emissora de Edir Macedo se defende afirmando que não controla o Record News, mas apenas fornece conteúdo para o canal. Antes do canal de notícias 24 horas do grupo Record ser inaugurado, o vice-presidente de relações institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, tentou impedir o início das operações do concorrente do Globo News, levando sua queixa – que também seria a mesma do Grupo Bandeirantes – para autoridades do governo e a interlocutores do Ministro das Comunicações, Hélio Costa, que é o principal responsável pelo sistema de concessões de radiodifusão no País.


No seu comunicado em resposta à Record, a Globo parte para o ataque, mostrando que as armas dessa guerra entre as duas emissoras serão dignas de disputas jamais assistidas pela população brasileira. Isso pode ser observado com a frase: "Esse ataque leviano não chega a ser surpreendente: é de se esperar que um grupo que lucra pela manipulação da fé religiosa queira também manipular a opinião pública", do comunicado da Globo.


Leia abaixo a íntegra do pronunciamento editorializado no Jornal da Record, da Record e, em seguida a íntegra do comunicado das Organizações Globo comentando o editorial de sua concorrente.


Editorial da Record: “O jornalista Josias de Souza, da Folha de S. Paulo, no último dia 27 de setembro, revelou os bastidores de uma operação covarde e leviana para impedir o sucesso do lançamento da Record News, o primeiro canal 24 horas de notícias gratuito da televisão Brasileira. Dias antes da estréia da Record News, na última quinta-feira, o vice-presidente de relações institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, percorreu os gabinetes de Brasília para questionar a legalidade da Record News junto às autoridades do governo. Segundo informou o jornalista da Folha de S. Paulo, o emissário da Globo queixou-se inclusive ao ministro das Comunicações, Hélio Costa, que se manteve imparcial sobre o assunto. Operando sempre no subterrâneo do poder constituído – aliás, uma prática contumaz desse grupo na época da ditadura – Evandro Guimarães acusou a Record de ferir a lei, ou seja, de operar dois canais de rede aberta numa mesma cidade, São Paulo. O emissário da Globo dizia também representar os interesses da Rede Bandeirantes, a mesma que, curiosamente, opera em São Paulo os canais Bandeirantes e PlayTV, o antigo Canal 21. Por esse motivo, a Rede Record presta um esclarecimento: A Record não controla duas geradoras de TV na cidade de São Paulo, conforme prova documento protocolado no Ministério das Comunicações, em 11 de julho de 2007. A praça geradora da Rede Mulher, hoje exibidora de conteúdo produzido pela Record, situa-se na cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, como mostra concessão da emissora publicada no Diário Oficial da União. O canal 42 UHF é retransmissor da Rede Mulher na cidade de São Paulo. Portanto, não há ilegalidade nenhuma, como, obscuramente e a qualquer custo, a concorrência tenta acusar. Afinal, por que a Rede Globo teme tanto a Record News? 1. Medo de a Globo News perder anunciantes. A disputa com um canal de notícias com programação de melhor qualidade e de graça certamente levará à divisão de faturamento. 2. Incapacidade de executar um projeto inovador, que vai revolucionar o jeito de informar o brasileiro. 3. Certeza de que o monopólio da informação está chegando ao fim.  A pressão desesperada da Rede Globo não impediu o sucesso incontestável do lançamento da Record News, prestigiado pelas principais autoridades e empresários do país, e, sobretudo, pelo público que, desde a estréia, vem proporcionando à nova emissora expressivos índices de audiência. Se podemos extrair algo de bom dessa operação vergonhosa da Rede Globo é a certeza de que o país mudou, e para melhor. Não vivemos hoje os tempos nebulosos da época em que grupos empresariais de comunicação usavam o Brasil e os brasileiros para seus interesses mais vis. Como, por exemplo, a falsificação de documentos cometida pela família Marinho na época da compra da TV Globo de São Paulo, na década de 60. Após investigar o caso e comprovar as irregularidades, a procuradora da República, Melissa Lagitz, enviou o processo ao Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que neste momento analisa as acusações contra a Rede Globo. A Record acredita na democratização da notícia. E reafirma: O monopólio da informação é um câncer para o Brasil.”.


Resposta das Organizações Globo: "O público que assistiu hoje à noite à Rede Record foi desrespeitado pelo uso de suposto espaço jornalístico para a defesa de interesses particulares e inconfessáveis. As denúncias ali apresentadas são calúnias requentadas; todas já desmoralizadas pela Justiça. Assim como são fantasiosas as alegadas articulações para coibir os negócios da Record. Os poderes constituídos da República têm isenção e independência para agirem por livre iniciativa. A TV Globo valoriza a concorrência porque ela reforça nossa filosofia de sempre aprimorar o nosso trabalho. Também, quanto maior é a competição, mais valiosos são os resultados de audiência, que evidenciam a ampla preferência do público pela nossa programação. Neste caso, estamos apenas acompanhando a interpretação da legislação para avaliar nossas opções no futuro. Esse ataque leviano não chega a ser surpreendente: é de se esperar que um grupo que lucra pela manipulação da fé religiosa queira também manipular a opinião pública, chamando de monopólio a escolha democrática dos brasileiros.".


Por Marcelo Affini - quartamidia@ccsp.com.br


Comentários

Davi Assumpção - A coisa tá quente.... não defendo nenhuma das duas emissoras. A Globo é manipuladora de informação e a Record parece uma emissora de fundo de garagem, e acredito que eles realmente abusam da fé religiosa dos menos favorecidos. 1 x 0 para a Globo.....


 

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