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Quebrando o Tabu

Fernando Grostein fala sobre documentário

02.06.11

A descriminalização das drogas no Brasil é o tema central do documentário “Quebrando o Tabu”, do diretor da Spray Filmes Fernando Grostein Andrade, que estreia nesta sexta-feira, 3 (leia aqui).

A polêmica e o burburinho que o assunto provoca não assustaram as empresas patrocinadoras do projeto, que decidiram associar suas marcas a um documentário que se propõe a “debater alternativas para se reduzir os danos causados pelas drogas na vida das pessoas e na sociedade”, como define Grostein.

“As empresas têm uma visão clara da sua missão social. Quando viram que o projeto tinha a credibilidade de FHC (Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil), do Luciano Huck (um dos produtores do filme e irmão do diretor), da Spray Filmes, que produz para marcas do porte de Itaú, Folha e Volkswagen, entre outras, essas empresas tiveram a segurança de apostar no filme”, conta o diretor. “Quebrando o Tabu” tem o patrocínio da Telefonica, Santander, Man (Volkswagen Caminhões) e Banco Pine.

A ideia de abordar o tema espinhoso surgiu há cerca de 10 anos, quando Grostein foi produzir um clipe a pedido de Flora e Gilberto Gil na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro.


“Vi adolescentes e crianças envolvidos no tráfico, gente morrendo e matando por drogas. Depois fiz uma viagem a Amsterdã e aí comecei a me questionar: Por que por aqui essa matança e em outros lugares do mundo a droga chega a poder ser comprada em um bar?”, questionou.

Sob essa inquietude, Grostein viu, algum tempo depois, FHC falando na TV sobre um relatório da "Comissão Latinoamericana sobre Drogas", que mostrava como as políticas de repressão aos entorpecentes eram falhas.


“Foi aí que decidi convidar o ex-presidente para participar do documentário. Ele topou de primeira, por conta da gravidade da questão. O interessante é que conforme íamos investigando mais sobre o tema, durante as filmagens, e observando casos, FHC foi mudando de opinião, até concluir que todas as drogas devem ser descriminalizadas e a maconha regulamentada”, afirma Grostein.

O diretor defende que políticas equivocadas ao combate às drogas nestes últimos 40 anos levaram a efeitos colaterais sociais gravíssimos. “A declaração de guerra às drogas é um fracasso. Não há cidade que você vá que não consiga comprar drogas. Inclusive nas cadeias você consegue e até mais do que fora delas”, observa Grostein, citando a frase que está no cartaz do filme (cuja arte é assinada por Marcello Serpa, presidente e diretor de criação da AlmapBBDO): "Se não conseguimos acabar com as drogas dentro de uma prisão de segurança máxima, como podemos acabar com elas em uma sociedade livre?".

Grostein explica que a declaração é de Anthony Pappa, norte-americano que passou 12 anos em uma prisão de segurança máxima em Nova York, por ter entregado um envelope contendo uma pequena quantidade de drogas.


Além da participação de Pappa e de Fernando Henrique Cardoso, o documentário traz muitos outros depoimentos, como do médico Dráuzio Varella, do escritor Paulo Coelho, dos ex-presidentes César Gavíria (da Colômbia), Ernesto Zedillo (do México) e Ruth Dreifuss (da Suíça) e dos ex-presidentes norte-americanos Bill Clinton e Jimmy Carter.


O diretor de “Quebrando o Tabu” revela que foi bastante desafiador conseguir falar com os ex-presidentes dos EUA e que suas declarações foram “surpreendentes”. “Bill Clinton falou pela primeira vez sobre o irmão dependente de cocaína e admitiu o fracasso de sua política de combate às drogas, quando presidente”, conta.


“Já Jimmy Carter confessou que as iniciativas para combater as drogas nos EUA quando era presidente eram racistas”, diz Grostein.


Com tantos depoimentos de “personalidades” conhecidas do grande público, a declaração que mais tocou o diretor foi a de um menino, vítima de bala perdida do tráfico, que ficou paralítico aos 18 anos. “Ele não tinha nada a ver com as drogas”, afirma o diretor. Para ele, nenhum dos depoimentos foi conseguido de maneira “fácil”. “O tema é tabu, por isso foi tudo bastante trabalhoso”, comenta.

Além de assinar a direção e o roteiro (ao lado de Ilona Szabó, Ricardo Setti, Thomaz Souto Correa, Bruno Módolo, Rodrigo Oliveira e Carolina Kotscho), Grostein também é responsável pela fotografia do documentário, juntamente com Rafael Levy. “Gosto de fazer a fotografia. É divertido. Fiz também em Coração Vagabundo (documentário anterior do diretor, sobre Caetano Veloso)”, declara Grostein. A produção de "Quebrando o Tabu" foi feita por Luciano Huck, Fernando Menocci e Silvana Tinelli. A trilha é produto da parceria entre Ruben Feffer (Binho) e Lucas Lima.

Apesar de o documentário percorrer realidades de países como EUA, Holanda, Portugal e México, entre outros, Grostein afirma que ainda não pensou numa possível carreira internacional para o filme. "O que eu espero, na verdade, é que o documentário contribua para a discussão sobre o tema, tão importante para nossa sociedade", conclui o cineasta.

Quebrando o Tabu

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