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Bloco de Emicida e Fióti destaca raízes negras do Carnaval em SP
Criado em 2020, o bloco de Carnaval Quilombo Lab, idealizado pela Laboratório Fantasma, hub de entretenimento capitaneado por Emicida e Evandro Fióti, volta para a avenida para sua segunda edição. Marcado para o domingo, 19, ele fica concentrado na Zona Norte de São Paulo, região que abriga diversas escolas de samba e que tem raízes culturais negras desconhecidas por parte da população.
Além disso, a Zona Norte (ZN) é a região onde Emicida e Fióti cresceram e despontaram para o mundo. Ao escolher essa porção da cidade como seu local de realização, os organizadores do Quilombo Lab buscam proporcionar um Carnaval descentralizado, possibilitando com que os moradores do local, do entorno e de outras áreas de São Paulo se conectem com as raízes ancestrais e históricas da ZN.
O tema do bloco neste ano é “O Carnaval dos Carnavais — A esperança mora no samba”, que celebra o retorno da festa na rua como manifestação cultural e evento que espalha afeto para que as pessoas se conectem com o seu passado, presente e futuro. No desfile do Quilombo Lab estarão Emicida, Rael e Drik Barbosa, Prettos, Salgadinho, Marquinhos Sensação, Dona Jacira, Danny Bond, MC Hariel e FBC. O evento é gratuito.
No ano de seu lançamento, o bloco conseguiu o apoio da Budweiser. Desta vez, a Red Bull é quem dá o apoio para o Quilombo Lab. Não houve tempo para captação de patrocínio, o que foi apontado como um dos desafios para a organização. O edital do Carnaval nas ruas na cidade de São Paulo sai apenas em novembro, o que é apontado como um tempo muito curto para se batalhar patrocínio.
“Vamos para nosso segundo ano sem patrocínio, só com apoio. Mas acreditamos que para as próximas edições vamos conseguir”, contou o cantor e compositor Fióti, que é o CEO da Laboratório Fantasma, ao Clubeonline.
Como as empresas trabalham com muita antecedência seus investimentos para o Carnaval, a liberação do edital apenas no final do ano acaba dificultando negociações. “A gente atua com um modelo que exemplifica o que pode ser feito. Mas marcas mais conservadoras necessitam do edital. O desafio está em atrair o cliente em tempo recorde”, explicou.
Enquanto a prefeitura não altera esse cronograma, a realização do desfile do bloco é bancada pela Laboratório Fantasma. Com a consolidação do Quilombo Lab e seu crescimento, outras marcas poderão se aproximar do projeto. No primeiro ano, o público foi de 80 mil pessoas acompanhando o bloco, segundo dados da prefeitura. Neste Carnaval, a expectativa é chegar a 120 mil, 140 mil pessoas reunidas na avenida Luiz Dumont Villares (perto do metrô Parada Inglesa).
“Temos estrutura e repertório para isso. Apostamos na expansão do público baseado no crescimento que nossa companhia teve”, disse Fióti.
Legado e resistência
A programação do bloco, que vai das 13h às 18h, está recheada de diferentes gêneros. Com a proposta de abordar a história do Carnaval de rua como um movimento de resistência e apresentar as evoluções da cultura negra na cidade, o Quilombo Lab vai levar o samba, o rap e outros ritmos para a avenida. A intenção é fazer uma “conexão musical popular”, tocando de Geraldo Filme (cantor, compositor , autor de diversos sambas-enredo e militante negro) a Henricão da Vai-Vai (autor do hino de Carnaval "Está chegando a hora"), passando por Stevie Wonder e Raça Negra.
Desse modo, os organizadores querem oferecer ao público um espetáculo que ressalta a "importância da cultura afro diaspórica na manutenção e preservação do legado e na resistência da cultura negra". Se hoje o Carnaval paulistano é um dos momentos mais importantes para a economia da cidade e para o PIB nacional, os organizadores do bloco querem resgatar e homenagear a luta dos antepassados na origem e na reconfiguração da celebração.
Como destacam os fundadores do Quilombo Lab, a folia nas ruas teve origem como um movimento de resistência para a população negra. Brincar o Carnaval era um privilégio das elites paulistanas. Até que pessoas como Dionísio Barbosa (Camisa Verde), Madrinha Eunice (Lavapés), Carlão do Peruche (Peruche), Nenê de Vila Matilde e Henricão criaram os primeiros blocos e cordões carnavalescos da cidade.
É essa história que o bloco quer contar. “Era nesses espaços, dos terreiros das escolas de samba, que a gente tinha acesso a nossa identidade. Precisamos preservar essa essência e levá-la para as pessoas que acreditam no Carnaval da cidade. Precisamos mostrar a relevância do samba de São Paulo”, comentou.
Na visão de Fióti, nos últimos anos o Carnaval da avenida ficou "distante do povão". Para ele, a festa dessa forma, com os desfiles no sambódromo, é válida. O cantor aprecia a folia organizada dessa maneira. Mas o distanciamento do Carnaval da sua origem o incomodou. Então, em 2019, Fióti levou para a empresa a ideia de criarem um bloco que levasse os valores que a Laboratório Fantasma tem, como a diversidade e o diálogo com as diferenças, junto com a proposta de despertar a consciência para as raízes negras dessa manifestação popular.
“Venho de uma família que sempre participou do Carnaval como uma das poucas possibilidades de acesso ao bem-estar cultural. Hoje, poder fazer um bloco e devolver para o povo a possibilidade de se sentir parte dessa celebração popular, se divertir e relembrar a origem ancestral dessa festa é uma missão, mas também é a realização de um sonho que atravessa séculos”, afirmou Fióti.